O SER MULHER

Maira Beatriz Engers

O ser mulher é um oceano profundo que assegura em si o saber da falta, do vazio, que é um saber feminino e um saber precioso. Talvez terrível, porque faz saber que além das construções, além da fantasia, há o nada ou não há nada. Conviver com esse nada, saber dos limites, é um saber para a mulher-amiga-da-solidão e, como forma de explicar essa boa relação com o silêncio, tem-se a introspecção: o monólogo interior, que aflora na sensibilidade do olhar, da humildade, da beleza, do sorriso.

No entanto, para construir um retrato ou elo saudável da solidão e da condição feminina contemporânea é preciso saber o peso e o preço do fulgor, da plenitude e até da “onipotência” vista pelos homens e por algumas mulheres subestimadas. Quando encontrei a literatura de Clarice Lispector, conseqüentemente passei a me questionar, a me perguntar sobre mim mesma. Surgiu então minha poesia. As mulheres-personagens de Clarice Lispector cumprem as três funções femininas privilegiadas pela cultura ocidental: mãe, esposa e filha, fantasmas que habitam os textos tradicionais monstruosos em sua perfeição.

Atualmente, as mulheres do Sul estão um tanto esclarecidas e precisam buscar mais dos esclarecimentos acumulados ao longo da história e as exigências para sobreviver e para estar à altura das características de uma sociedade complexa e agressiva, como a nossa.

Até há poucas décadas, a mulher tinha apenas o papel de cuidar dos filhos, da roupa, do marido e da comida. “Apenas”, como se não bastasse, pois tinham de cinco a dez filhos.

Hoje, cuida até do econômico. A mulher ocupa tripla jornada de trabalho, o que a faz até perder a feminilidade. A família está deteriorada, pois a mulher-mãe está ausente na mesa para o almoço ou para todas as refeições, que são momentos de sublimação e de união da família. O estresse distancia a mãe dos filhos, e é quando entra a violência contra as crianças.

Disse Cristo: “A mulher sábia silencia, edifica; porém a tola destrói.”

Sabe-se que no século XXI, 37% das mulheres ainda sofrem violência doméstica. A banalização da violência contra a mulher é um problema de saúde pública, é preciso trabalhar a questão de gênero em todos os aspectos, porque a falta de atitudes da própria mulher leva-a para abortos mal praticados, depressão e suicídios. São vistas como loucas.

Tem-se leis que protegem a denúncia de violência à mulher. Uma vez feito o registro na delegacia de policia, a mulher passa automaticamente para representação processual na Promotoria, Forum, para que essa mulher não seja apenas ludibriada, ameaçada, enganada pelo esposo agressor  e queira retirar a queixa policial. Agressão é tanto física quanto verbal, pois a  boca dos homens somatiza nas mulheres, que adoecem, se anulam.

As mulheres negras são discriminadas como prostitutas, analfabetas, ladras, sem necessidades e direitos.

A lei federal, de agosto de2006, a“Lei Maria da Penha”, que pune com penas mais severas as agressões físicas ou verbais, morais ou psicológicas, sofridas pelas mulheres. Mas a reincidência das agressões continua; a lei ainda não surtiu efeito entre os homens, talvez pela falta de conhecimento, de informações, de medo das próprias mulheres, por preconceitos, até violação dos Direitos Humanos das Mulheres.

Para auxiliar e proteger a mulher, ela tem-se valido também de vários Institutos, Organizações, Entidades Femininas, Delegacias da Mulher. Além do novo Código Civil que assegura garantias financeiras à Mulher, tanto no casamento como em relacionamentos estáveis, tornados públicos. Os direitos  da mulher e sua inserção na saúde e no direito, com a feminilização social, está acontecendo, mas é preciso levar mais conhecimentos até a mulher para criarmos um novo Estado.

Para tanto, o grande preconceito quanto ao corpo da mulher também gera transtornos e baixa auto-estima.

Eu sofri na pele todo tipo de preconceito, após um acidente de trânsito, para voltar a andar. Meus direitos foram negligenciados pela sociedade, pelo Estado.

Entre 1995 e 2006 o vírus do HIV cresceu em 44% nas mulheres, que estão vulneráveis principalmente onde a desigualdade social é maior.

Hoje um terço das mulheres modernas, entre 25 e 50 anos, vive sozinha; são solteiras, divorciadas, independentes, auto-suficientes. De cada 10 mulheres, quatro vivem sozinhas. Quando saem do casamento, ao solicitar o sobrenome de solteira (do pai), carregam uma discriminação, quando consta na nova carteira de identidade a observação ou averbação: av. Separação ou av. Separação Judicial. Então, “são mulheres rotuladas: produto, qualidade, código de barra, validade”.

Dentro de 20 anos, cresceu em 26% o número de mulheres como chefes de família. Salvador é a capital brasileira, onde mais mulheres mantêm a família sozinha, constado de três ou mais filhos.

A maioria das mulheres enfrenta e sobrevive de pseudo-trabalhos, sem carteira assinada, sem direitos trabalhistas. Mesmo em tantas funções de trabalho iguais às dos homens, recebem salários menores, sendo que a “Lei Rita Camata” visa dar dignidade aos direitos trabalhistas das mulheres.

Cada vez mais mulheres estão assumindo cargos e funções de liderança em todas as áreas; é imprescindível que estas mulheres comandem, governem e presidam como mulheres vestidas de sensibilidade e, não com a frieza, insensatez e cinismo dos homens.

A ética está deturpada na busca pela igualdade; mas as mulheres nunca serão iguais aos homens, devido à composição orgânica, à meiguice. Segundo a ciência, o cérebro da mulher é composto por um número maior de neurônios, daí a paciência, a sensatez e a intelectualidade feminina. Deus, também contemplou a mulher com a capacidade de gerar vidas, filhos. Mesmo não sendo mãe biológica, tem o dever e o dom de gerar tolerância com seu esposo, companheiro, namorado. A mulher moderna está no caminho inverso, quando age só com a carne, “caçando”, porque a promiscuidade não devolve o valor, a paz nem ao homem e muito menos à mulher. As mulheres usadas por si próprias, no dia seguinte caem no mal do século, a depressão. Portanto, mulheres, continuemos tolerantes, mas não silenciemos nossas necessidades, nossos prazeres, nossas vontades, nossos deveres, nossos direitos; se preciso gritemos no silêncio, num sorriso, ou até em alta voz para que não sejamos consumidas, inúteis, fúteis consumidoras, vestidas do nada; sim consigamos agir com a alma, nosso âmago, com auto-estima, como mulheres que cuidam do espírito e do físico, simples mulheres, sensíveis, sensuais, fiéis, verdadeiras, guerreiras, amantes que amam como a si mesmas, instigando gentilezas no homem, caminhando junto dele. A mulher feliz faz seu homem feliz.

Segundo Provérbios 31, versículo 10: “Mulher virtuosa... o seu valor muito excede o de rubis”.

E versículo 25: “Mulher, a força e a glória são os seus vestidos... para a humanidade melhor”.

Maira Beatriz Engers, natural de Porto Xavier, RS, é professora, poetisa, contista. Cursou Letras na UNIJUÍ/1998, Pós-Graduada em Cultura e Sociedade Pela UNICID _ Cidade de São Paulo, 2012.

Foi Presidenta da ASES-RS “Associação Santa-rosense de Escritores”, na gestão 2005-2006

Participa em antologias e publicou o livro de poesias Mania de ser flor – setembro (S. Rosa, 2006).

E-mail: [email protected]

Currículo

      Maira Beatriz Engers,natural de Porto Xavier/RS. Professora de Literatura, ativista cultural, escritora de diversos gêneros(ficção adulto, infantojuvenil, crônica, conto e poesia), participou de dezenas de antologias. Recebeu prêmios nacionais e internacionais: A MULHER NA POESIA no RGS_ TrintaPoetisas(Academia Rio-grandense de Letras).Organizou coletâneas e livros particulares. Publicou "Mania de Ser Flor _Setembro"(poesias).  Coordenou espaços literárioculturais nas rádios regionais. Tem colaborado na imprensa cultural, sobretudo com artigos sobre a promoção do livro e da leitura, em jornais estaduais como Zero Hora e Correio do Povo, em revistas nacionais como "Bons Fluidos e Espaço Inovação". Criou e coordena oficinas de poesia e de projetos culturais: "Leitura e Liberdade _cinco minutos em poesia"; "Semana Mundial do Livro". É sócia da Casa do Poeta POA/RS, da  POEbras, em salvador,  Bahia,  da  Ajeb_ Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil e  Academia Internacional POETAS DEL’MUNDO.   Presidente da ASES-rs( Associação Santa-rosense de Escritores de 2005 e 2006. Atual componente do Conselho consultivo da ASES-rs. Participou do projeto de altos estudos "Fronteiras do Pensamento"/ 2009 e 2010 UFGRS de Porto Alegre/RS. Verbete do Dicionário de Mulheres Brasileiras _ Hilda Flores_ Academia Literária Feminina do RS(ALFRS). Executa projetos com Parceiros como: Câmara Rio-grandense do Livro, UNESCO,  ASES-rs,  AAPLAS, USES,S ESI, SESC, Universidades (UNIJUI,FEMA,IFF),escolas,  RBStv, Secretaria Municipal de Cultura, Pós-Graduada em Cultura e Sociedade,SP.