O ser humano esquece os momentos felizes que vai experimentando no decorrer da vida. Isso se deve a uma falta de conseqüência consciente.
A simples recordação poderia trazer de volta os instantes nos quais se experimentou uma verdadeira felicidade. E ela seria como um escudo protetor diante dos tristes e amargos que se tenha de viver.
Para que a revivescência seja efetiva, é necessário criar um sentimento que anda ausente do coração humano: a gratidão.
A gratidão consciente é uma vivência interior na qual, ao recordar quem nos fez um bem, rendemos-lhe uma homenagem silenciosa e experimentamos uma proximidade grande em relação ao nosso benfeitor, mesmo que ele não esteja mais vivendo entre nós. É um sentimento de imponderável valor, pois credencia a pessoa para novas experiências felizes no futuro. Ao cultivá-lo, sente-se surgir o impulso por transmitir o bem recebido a outros que mereçam esta ajuda. Ao se colocar como um elo na corrente de bem que deve levar a felicidade e o conhecimento para os outros, cumpre-se com o mandato da Lei Universal de Caridade.
Um belo lugar fixa-se em nossa recordação; a pessoa querida, a lição instrutiva, o animalzinho da infância, um livro, o parente desaparecido. Muitas pessoas, passagens vividas, podem continuar existindo através dessa misteriosa supervivência sensível.

Ao manter no presente aquilo que vivemos e foi grato, experimentamos uma sensação de existir consciente que as palavras não têm possibilidade de traduzir. Esquecê-lo é sinal de ingratidão para com a vida e os que a tornaram alegre e feliz.

A ingratidão é um dos grandes males dos quais os seres humanos padecem; seus frutos são a depressão e o vazio. Esquecem-se as coisas boas que vão acontecendo, pequenos sucessos, alegrias, emoções que colorem o dia-a-dia tantas vezes pálido da existência. A simples recordação deles, qual condão mágico, poderia transformar um momento de tristeza num de alegria.

"Recordar é viver", palavras que ressoam há tempo e parecem traduzir um conhecimento, uma sábia intuição, apontando para a revivescência daquilo de bom e grato que aconteceu. É inegável a emoção que sentimos ao reviver momentos que foram marcos em nossa trajetória e que, ao revisitá-los, é como se retornássemos ao passado, voltando àquele dia, àquela hora, àquele momento grato.

Esquecemos muitos momentos importantes e felizes, não tão grandiosos, acontecimentos marcantes, mas pequenos, que unidos a outros poderiam se transformar em recordações que nos serviriam para alentar os dias futuros e auxiliar na transposição de momentos difíceis que deveremos enfrentar.

Qual o motivo da tendência ao esquecimento? Será que não fomos suficientemente atentos durante os bons momentos vividos? Que não deveríamos tê-los registrado em nosso caderno íntimo de forma a poder relê-los quando quiséssemos? Por que este esquecimento da vida que vivemos? Por que a ingratidão para com o passado e as pessoas que coloriram a nossa existência?

O esquecimento vai matando a pessoa que fomos e as com quem convivemos. Essa morte definitiva e irrecuperável causada por ele é algo que pode ser evitado se olharmos a vida de uma maneira ampla e profunda; se a encararmos como a oportunidade única que deve ser maior que o suceder monótono dos dias que se repetem e são esquecidos. Para reter os mágicos momentos vividos, é necessário querer firmemente, ter um preparo mental e sensível, e compreender que passado e futuro devam se fundir num grande presente que não deve morrer nunca.

Recordar é viver se o vivido é retido e jamais esquecido.

Nagib Anderáos Neto