O século XVIII e o nascimento da sociologia Ao longo da história podemos observar as interferências do homem: na natureza, alterando o ambiente e na sociedade, alterando a história. Assim nascem as ciências; assim se faz filosofia. Isso fica muito claro ao longo do século XVIII, no conjunto de revoluções que se produziram nesse período: desde o processo iluminista, passando pela independência dos Estados Unidos, movimentos sociais pela independência em toda a América Latina e as duas revoluções que marcaram o início do mundo tecnológico: a revolução industrial e a revolução francesa. O conjunto de alterações do século XVIII foi o ponto originante da sociologia O processo renascentista exigia muitas transformações, as quais foram sendo construídas ao longo de trezentos anos. Suas raízes foram lançadas pelos pensadores iluministas franceses, desde Voltaire, passando por Rousseau, Montesquieu até chegar aos enciclopedistas Diderot e d´Alembert. O que os iluministas queriam? Fazer com que a luz da razão sepultasse as "trevas" do medievalismo ainda existente e que estavam retardando o desenvolvimento do capitalismo. A partir dos pressupostos iluministas os colonos norte americanos desencadearam um processo que culminou em sua independência. A partir disso os ideais de liberdade se expandiram. Deram asas a movimentos revolucionários no Brasil e na Europa fundamentaram a Revolução Francesa. Mas simultaneamente a esse processo um outro estava ocorrendo: a Revolução Industrial. Seu berço foi a Inglaterra e seus pais se enfileiram desde a antiguidade com Aristóteles. Deve-se ressaltar que a base filosófica sobre a qual se assenta a Revolução Industrial foi o empirismo. Entretanto o empirismo só se impôs a partir da revisão lógica desenvolvida por Francis Bacon e depois continuada por outros pensadores ingleses: Thomas Hobbes, John Locke, George Berkley e David Hume. Assim temos o quadro desenhado: da Inglaterra se expandem as idéias empiristas que produziram a Revolução Industrial e da França se expandem a idéias iluministas que produziram várias alterações políticas pelo mundo, cabendo um realce especial para a Revolução Francesa. Esse quadro, entretanto, ainda não está completo, para explicar nosso mundo e a sociologia, que se originou das revoluções do século XVIII. Vimos que ocorreram transformações na produção: revolução industrial; e na política: revolução Francesa. Mas ainda faltava a revolução dos fundamentos da economia. Entendemos que os fundamentos da sociedade e das relações sociais se assentam na economia, indaguemo-nos sobre as bases econômicas da sociedade do século XVIII. Veremos que as bases econômicas do mundo contemporâneo foram lançadas pelo Liberalismo. No site www.suapesquisa.com, encontramos a seguinte afirmação: "O pensamento liberal teve sua origem no século XVII, através dos trabalhos sobre política publicados pelo filósofo inglês John Locke. Já no século XVIII, o liberalismo econômico ganhou força com as idéias defendidas pelo filósofo e economista escocês Adam Smith". Esse mesmo site apresenta alguns dos pressupostos ou princípios liberais: "Defesa da propriedade privada"; "Liberdade econômica (livre mercado)"; "Mínima participação do Estado nos assuntos econômicos da nação (governo limitado)" e "Igualdade perante a lei (estado de direito)". A conjugação dessas três vertentes filosóficas (iluminismo, empirismo e liberalismo) produziu não só as alterações especificas da filosofia, mas recolocou as bases da sociedade. O mundo feudal ruiu definitivamente abrindo espaço para outro modo de produção: o Capitalismo. As bases sociais mudaram e as alterações nas relações sociais estavam se impondo. Nasceram cidades e, ligadas a elas, se desenvolveu a indústria. Ao lado da face comercial do capitalismo apareceu a face industrial. Em razão disso as relações sociais se alteraram. Os burgueses aumentaram sua expectativa de lucro às custas do trabalho de uma multidão crescente de trabalhadores famélicos. Esse quadro, evidentemente, exigia explicações. O terreno estava preparado para o nascimento da sociologia, como uma ciência capaz de explicar as novas relações sociais. T. Morus, já no século XVI acenava para o problema da concentração fundiária que ampliaria o concentração econômica, contra os interesses do trabalhadores: "para que um só glutão de apetite insaciável, temível flagelo para sua pátria, possa delimitar com um só cercado milhares de alqueires como só seus, cultivadores serão expulsos de suas propriedades, muitas vezes despojados de tudo o que possuíam". A concentração de riquezas, portanto, passa a ser um problema social. Como explicá-la, de forma que as relações sociais não se alterem? Esse foi um dos problemas que deu origem à sociologia. Ao lado desse a industrialização produziu outro: os problemas da urbanização. Para ter trabalhadores acionando e operando as máquinas, a industria necessitava de muitos trabalhadores. Esses foram recrutados dos incontáveis trabalhadores rurais que se transferiram para as cidades. Mas, como sabemos, os salários e as condições de vida na cidade eram insuficientes e degradantes. Isso aumentou não só os conflitos sociais (roubo, violência) como os dramas pessoais: aumentaram os índices de suicídio. Estavam postos os problemas para a sociologia; estavam postas as condições para o nascimento da sociologia. Quais as bases sobre as quais se assenta o nascimento da sociologia? Embora essa seja uma resposta complexa, podemos simplificá-la dizendo que a sociologia nasceu da conjugação de vários elementos: idéias iluministas; idéias empiristas; a perspectiva de liberdade, advinda da revolução francesa; a perspectiva de lucro, advinda da revolução industrial. Junte-se a isso, a perspectiva liberal, sobre a qual se assentou o capitalismo. Junto a isso, os problemas sociais que se instalaram. A conjugação de todos esses elementos alteraram não só a sociedade como as relações sociais e as bases econômicas. Como explicar essas mudanças? Com os métodos que se organizaram pelo espírito cientificista do final do renascimento. Espírito que deu origem a uma ciência da sociedade. MORUS, Thomas. Utopia. São Paulo: Escala Editorial, 2006 LIBERALISMO Disponível em: http://www.suapesquisa.com/o_que_e/liberalismo.htm, acesso em 10/3/2011 Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador. Leia mais: ; ; ; ;