O Saco do Mendigo

Pode-se notar que ninguém nasce mendigo, mas, o mendigo se faz e, este se fazer se deve há uma série de fatores que vão desde um desequilíbrio mental até a falta de esperança de viver e, outros por "profissão" como já foi revelado em noticiários de TV e também em revistas e, quando por profissão não terá o tradicional saco.

Em alguns lugares, também chamados de "O Homem do Saco", grande figura alegórica, onde muitas mães costumavam amedrontar seus filhos, quando crianças, se estes faziam alguma "arte", dizendo que seriam entregues a esse homem e que eles os levariam, dentro daquele saco.

De um modo geral o mendigo não vai começar sua vida de mendicância com o saco, mas, sim com uma pequena sacola. Este também vai começar com uma roupa limpa e, que depois de um tempo tornar-se-á em trapos e só daí ser trocada. Também a falta do banho e a higiene de um modo geral será hábito.

Nesta sacola ele começará carregando alguns jornais ou o pedaço de papelão que lhe servirá de cama e a sacola, de travesseiro. Já nesse momento começará, ou mesmo antes, a parar nas casas e pedir o que comer e, isto sempre irá acontecer no horário do almoço, é claro.

A dona da casa lhe servirá o almoço num provável pote de margarina que normalmente já se guardara para essa e outras finalidades. Esse almoço irá acompanhado de uma colher e um copo (plástico) com água e, em alguns casos alguns solicitam, com toda a educação, o cafezinho que é para rebater. Alguns deles costumam deixar o pote e o copo no lugar onde fez a refeição, mas, uma boa parte deles guarda, sem lavar, é claro, em sua sacola e, este ato se repetirá por algumas vezes e chegará um momento em que a sacola tornar-se-á pequena, então, se passa para o saco e, nem mesmo a sacola será jogada fora.

Depois de algum tempo esse saco que servirá de guarda-roupas, armário de cozinha e travesseiro ficará extremamente pesado com tantas tralhas que ajuntou que o mendigo começará a andar arqueado para frente.

Não se pretende aqui, fazer uma discussão aprofundada sobre as causas que o levaram à condição de mendigo e sim fazer com esta história uma reflexão do quanto o ser humano, de uma forma geral, junta e carrega em sua mente as "tralhas" como se fosse um saco de mendigo.

Em vistas disso o que se pode denominar como sendo tralhas para a mente seria, ou melhor, é o guardar lembranças ruins, que sem dúvida nenhuma se tornará em mágoas, pois estas surgem em duas etapas: a primeira: "algo acontece em nossas vidas que não queríamos que acontecesse. A segunda: lidamos com esse problema pensando muito a seu respeito[1] ", nesse momento aluga-se um espaço na mente para esses ressentimentos, o que de certa forma é muito comum dos seres humanos darem mais valor as "coisas" que causam mal estar do que as "coisas" que são boas, e quanto mais se guardam determinadas lembranças; quanto mais velhas vão ficando, é que se tornarão em mágoas e, conseqüentemente mais infectada a mente vai ficando.

Sempre que se vai dormir com determinado sentimento, com uma ira, menos saúde mental teremos. "Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira[2]". Esse sentimento só ira afetar o estado emocional. Nesse momento tal qual as tralhas que são guardadas pelo mendigo em seu saco, as mágoas estarão sendo guardadas no mais profundo do íntimo do ser.

Todos os relacionamentos, durante a vida, são de extrema importância, pois, se assim não o fosse não se daria conta de viver, porém, dentre todas as relações, a principal, a primordial é a relação que se deve ter entre o Eu e Eu, ou seja, se não estiver bem comigo mesmo (a) não será possível o envolvimento com o outro seja em qual for à área. Esse não estar bem, sempre será "a dificuldade relativa à essência do sofrimento envolve o fato de como manter a serenidade quando alguém faz você sofrer ou o desaponta[3]".

Talvez pelo fato de que desde a tenra idade o que se ouve, com freqüência, são os "NÃOS", e isso, quando não vem acompanhado de agressões físicas, como, por exemplo, o famoso beliscão, introjeta-se então, a partir daí, uma dependência quanto a aprovação ou reprovação incluindo, por vezes, o próprio viver. É claro que o "não" se faz necessário durante o processo de constituição da subjetividade, porém, o que se pode observar é que normalmente esse "não" não é bem dito e, quando isso ocorre cria na pessoa um medo, um pavor e, esta sempre irá viver sob a fala e o olhar do outro, o que de certa forma irá também guardar ressentimentos, ou seja, "sentir-se mal sempre que pensamos a respeito da pessoa que nos fez sofrer torna-se um hábito, fazendo-nos sentir como a vítima de alguém mais poderoso[4]".

Enquanto isso vive-se uma vida medíocre e, por vezes pronunciando frases assassinas como: "Eu não consigo"; "Isso não é pra mim"; "Nasci pra sofrer"; "Nada dá certo pra mim", dentre outras mais e, não muito raro começa-se a "levantar defunto", buscando no fundo do saco, lembranças dolorosas que não servem, de nada, para o momento em que se esta vivendo. "Guarda a tua língua do mal, e os teus lábios de falarem enganosamente[5]". Uma das lições essenciais da vida , com certeza, está no ato de depender de DEUS.

Então: "Você fala repetidas vezes a respeito do que lhe aconteceu? Você deixa sua mente se fixar na sua mágoa muitas vezes durante o dia? Você tem amigos ou parentes que fazem isso? Você se cansa com a quantidade de tempo que gasta pensando a respeito de coisas do seu passado? Você se cansa de escutar outras pessoas repetindo a mesma história?[6]". Se isto está acontecendo estará perdendo um precioso tempo, estará perdendo uma grande oportunidade de ser feliz, estará sempre carregando o desapontamento, a angústia, a raiva. "A raiva provoca a liberação de substâncias químicas associadas ao estresse, que alteram o funcionamento do coração e causam o estreitamento das artérias coronárias e periféricas[7]".

Então você irá adoecer.

Seus ossos irão enfraquecer como relata nas escrituras sagradas, o Rei Davi, "Enquanto me calei, envelheceram meus ossos pelo bramido em todo o dia... confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri: dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões, e tu perdoaste a maldade do meu pecado[8]". Esse confessar o pecado nada mais é do que ficar livre das tralhas que estão devorando a mente, criando um vazio existencial que não permitirá pensar na solução, mas, sim no problema. Não é necessário que se carregue o passado, recheado, de "coisas" ruins sobre os ombros, como muitos dizem que parece estar carregando um saco de cimento, que por vezes não pesa somente cinqüenta quilos.

O passado é para ser re-visitado e, com isso buscar subsídio para não repetir o erro, ou erros, e aprimorar os acertos. Deve-se aprender que a vida é sempre um dia a menos e, que pode-se permitir ser feliz.

Vive-se do passado sem viver o momento presente e, tem-se uma visão distorcida do futuro.

Pode-se observar que quando um membro da família está doente provavelmente toda a família irá sofrer, observa-se ai que haverá uma Desestruturação Familiare, este fato não é raro de acontecer. "Quanto tempo vamos gastar pensando a respeito dos sofrimentos e desapontamentos? E, quando pensamos neles, quanta intensidade devemos investir nisso? As respostas para tais questões determinarão a quantidade de problemas que uma ofensa ou uma mágoa causarão a você[9]".

Tirar do saco as tralhas e jogá-las fora, não é e nem será uma tarefa fácil, porém, não é impossível. Dependerá do próprio ser, mesmo que haja ajuda de um profissional. É necessário que se perdoe o outro e a si mesmo. "Ao escolher o perdão, renunciamos ao passado para curar o presente[10]". Pode-se não somente tirar partes das tralhas, mas, jogar o saco fora.

"O perdão é a sensação de paz que emerge quando você assume seu sofrimento em termos menos pessoais, assume a responsabilidade de como se sente e torna-se um herói e não uma vítima na história que relata. O perdão é a experiência da serenidade no momento presente; não muda o passado, mas modifica o tempo atual ... é a compreensão de que o sofrimento é a parte normal da vida. O perdão é para você e paraninguém mais. Você pode perdoar e reatar um relacionamento, ou perdoar e nunca mais voltar a falar com a pessoa[11]".

Então: Viver inserido numa sociedade que por vezes é perversa pelas regras que são ditadas e impostas.

É possível!



[2]Bíblia Sagrada. Efésios. 4.26

[3]Luskin, Frederic. O Poder do Perdão. Pag. 26

[4]Luskin, Frederic. O Poder do Perdão. Pag. 53

[5]Bíblia Sagrada. Salmos 34 v. 13

[6]Luskin, Frederic. O Poder do Perdão. Pag. 30

[7] Luskin, Frederic. O Poder do Perdão. Pag. 113

[8]Bíblia Sagrada. Salmos 32 v. 3,5

[9]Luskin, Frederic. O Poder do Perdão. Pag. 31

[10]Luskin, Frederic. O Poder do Perdão. Pag. 89

[11]Luskin, Frederic. O Poder do Perdão. Pag. 95