O ROMANTISMO EM MATO GROSSO

Dois países disputam a origem do Romantismo: Alemanha e Inglaterra, mas quem usou ela primeira vez a palavra Romântico (Romantic) foi o escocês de nome Macpherson. Como estilo ele surgiu em 1760. Encontramos na Inglaterra, Alemanha e França.

Em Portugal o Romantismo surgiu em 1825 com Almeida Garret na obra Camões.

No Brasil ele chegou em 1836 com Gonçalves de Magalhães na obra "Suspiros Poéticos e Saudades". E tivemos grandes românticos no país: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e outros.

CARACTERÍSTICAS

São inúmeras as características do Romantismo. Os românticos apresentam uma linguagem popular, já que ele é considerado o primeiro estilo nacionalista. Mostram o domínio do sentimento sobre a razão, complexos, sonhos,devaneios e ilusões. Grande parte dos românticos eram boêmios e quase sempre morriam jovens.Há em seus textos inúmeros conflitos como:paixão exagerada, desejo de morte, amor às doenças, ao sofrimento, etc. Mas também há destaques para o folclore, a história, as tradições, as lendas, os usos e costumes do nosso povo e nossa gente.

EM MATO GROSSO

Antes do surgimento do Romantismo em Mato Grosso, houve uma literatura dos aduladores, dos fracos de espírito. Escreviam poemas dedicados aos políticos, aos chefes, talvez na esperança de adquirirem alguma coisa. José Zeferino Monteiro de Mendonça foi o primeiro deles, aliás considerado o primeiro poeta mato-grossense. Ele escolheu a figura de Digo de Lara Ordonhês para lhe oferecer um poema. Este soneto elevava o dito cujo citado, a altura de um Platão(?) e à consciência dos justos. Este tipo de literatura chamava-se Louvaminha. Zeferino não chegou a publicar livro, embora tenha escrito muito.

Em Cuiabá o Romantismo iniciou por volta de 1860 quando aqui veio residir o oficial da marinha Antônio Cláudio Soído. Foi o introdutor do Romantismo em nosso Estado. Ele conseguiu despertar a literatura e os literatos para a nova corrente que surgia. Ele sofreu influência de Vitor Hugo e Byron, deles traduzindo obras de grande valor.

Com a vinda de Soído aparece uma literatura mais pura e mais digna. É bem verdade que no começo as obras eram ainda simples, pequenas, mas já impregnadas de caracteres românticos.

O período também não ajudava muito, tendo em vista as dificuldades de se editar as obras, conflitos nacionais como a abolição da escravatura, a guerra do Paraguai e a queda da monarquia.
Por outro lado surgiram algumas instituições culturais ou educacionais que fortaleceram ou ajudaram a nova corrente: seminário da Conceição, a primeira escola Normal, o internato do Pe. Ernesto Camilo Barreto, Liceu Cuiabano e a imprensa com um nível razoável.

A POESIA

E foi com poesia que o Romantismo aqui chegou. Eram poemas simples,pequenos, compostos sem muitas preocupações, às vezes oferecidos às damas. Elogiavam a natureza e a fartura existente. Não são tão tristes como os de produção nacional. Os poetas não tinham tanta sede de morte como os verdadeiros românticos. São repletos de graça e simplicidade. Às vezes apresentam um tom humorístico, ou satirizantes, porém não tão ofensivos. No poema abaixo observaremos um tom bem humorístico:

MELINDRES
Antônio C.Soído
Tantos dotes, e a força da cachaça
A todos destruía juntamente!
Porque a beleza já tirava a graça,
Nulificava a do metal luzente,
Empanava-lhe o gênio e a ilustre raça,
E tornava o ingês um descontente,
Tanto pode, ó cachaça, e força tua...
Mas em Byron também andava a lua...

É um poema extremamente simples, porém notamos uma preocupação Byroniana. Aí ele fala sobre os males da cachaça, portanto não é um poema ofensivo.

As damas também eram lembradas, vejam por exemplo, o que fez Soído ao receber folhas secas de uma senhora:

FOLHAS SECAS*
Antônio C.Soído
Folhas de rosa flor,
Qu?importa que sem verdor
A morte simboliseis,
Se mesmo assim me dizeis:
Que ela se lembra de mim?!...

Secas como estais servis,
Pois a lembrança exprimis,
E mais cheia de saudade
Do que verdes a beldade
Realçando de uma flor.
*Título sugerido pelo autor.

Ele retribuiu à senhora com um poemeto simples, porém cheio de graça.

PRINCIPAIS POETAS:

1.Antônio Cláudio Soído - nasceu no Espírito Santo em 1822 e faleceu em Cuiabá em 1889. Foi almirante e chefe de esquadra. Desempenhou importantes trabalhos em Mato Grosso. Foi inspetor do arsenal da marinha. Viajou pela Europa como professor da Escola Naval. Escritor e Poeta. Introdutor do Romantismo em Mato Grosso. Não escreveu muito, porém seus trabalhos são muito significativos. Obras: "Diário do Rio de Janeiro", " O Pirata(traduzido de Lord Byron), "Lembranças de Montevideo", "A menina Oriental"(Poema), "O Batel"(Poema), "Para os pobres"( tradução de Vitor Hugo), "A visita de S.M.aos hospitais do empestados"(Poema), "O corsário" ( tradução de Lord Byron)
A MENINA ORIENTAL

A menina oriental,
Como a gárrula argentina,
Tem de goda alva tez fina,
Feições nobres, rosto oval;
E da Moura feiticeira,
Como tem a brasileira,
Lindos olhos matadores,
Negro, lustroso cabelo,
Onde, segundo o modelo
De París, enxerta flores.

Ela, como a brasileira,
Tem o porte Majestoso,
Corpo esbelto, gracioso,
Delgado como a palmeira;
De viva imaginação,
Ela ama o turbilhão,
Da cidade populosa;
Quer o luxo e sabe bem
Com a seda farfalhosa.

A menina oriental
Fala essa língua sonora,
Feita da latina e moura,
Da portuguesa rival;
Ela conserva de amores
As lembranças, como as flores,
Do pundonor sob o véu;
É patriota exaltada,
Para ela não há nada
Como seu Montevieo.

2)Antônio Augusto Ramiro de Carvalho -Nasceu em Cuiabá em 1833 e aqui faleceu em 1981. Funcionário da tesouraria da fazenda, sendo promovido até atingir o posto de inspetor. Deputado da província. Jornalista e poeta humorístico. Fundou alguns jornais humorísticas: "Pega onça", "Dunda". Redator de "A situação" e com o surgimento da República funda "O Quinze de Novembro". Não foi bom poeta. Deixou-nos pouca coisa, como o poema a seguir:

DOIS DE DEZEMBRO

Muita nédia cavalgada
Correndo desembestada
Por meio da multidão;
Muitos rufos de tambores,
De sino muitos rumores,
muitos tiros de canhão.

Muita farda agaloada,
Bonita - mas estragada
Nos usos da procissão
e outros muitos quejandas
Rechonchudas burundanças
No barulho da função.

Tudo houve com fartura
Na solene formatura
Deste dia nacional;
que excitou-me até saudade
Da gorda variedade
Dos dias de carnaval.

3)Amâncio Pulchério de França - Nasceu em Cuiabá em 1846. Foi comerciante, advogado e poeta. Redator do jornal "O 1o.de Março". Colaborou em diversos jornais locais sob o pseudônimo de Palmiro. No Rio colaborou na revista "A luz". O produziu muito pouco. Imitou pessimamente Casimiro de Abriu. Só se conhece um poema deste autor, o que segue abaixo:

OUTRORA E HOJE

Meu Deus, que gelo, que frieza aquela,
que indiferença nos olhares seus!
Vejo outra nuvem no horizonte de hoje,
Negra coberta nos azuis dos céus!

Tivera flores, meu jardim de outrora,
Tivera rosas de perfume eterno,
Mas hoje as flores em aroma, secas,
Parecem flores de jardim de inverno.

A primavera de meus dias, linda,
Sorria leda para o céu de anil,
E o céu faceiro desdobrando os mantos,
Já teve as galas das manhãs de abril.

Hoje os cantos que tivera outrora
São tristes cr?oas de cruéis martírios
Fora ditoso, já gozara crente
vivo perfume dos meus alvos lírios!

Sonhara encantos, deleitosos dias,
Mato castelo de europel sonhado;
Feliz eu fora - mas o manto espesso
Cobriu a tela desse meu passado.

4.) Antônio Gonçalves de Carvalho -Nasceu no Rio de Janeiro em 1844 e faleceu no Rio. Advogado formado em São Paulo, ratificando-se em Cuiabá onde se tornou juiz. Foi deputado em 1881. É mais conhecido como o poeta da "Flor da Neve" por ter escrito um poema do mesmo nome. Obras: " Cartas ao Sr. William" - reunidas mais tarde em "A estrada de ferro para Mato Grosso e Bolívia". Colaborou em vários jornais.

FLOR DE NEVE
Se a neve fosse planta e flor tivesse,
Tu serias da neve a flor, gerada
Da fria viração ao tênue sopro
À luz da luta, aos beijos duma fada.

Se a neve fosse planta e flor tivesse
Tu serias da neve a flor mais bela
Que brilhando na etérea imensidade
fanal de Amor - adamantina estrela.

Se a neve fosse planta e flor tivesse,
Tu serias da neve a flor tão pura!

Ah! Teriam em ti achado os homens
O símbolo da mais cândida ventura!

Se a neve fosse planta e flor tivesse,
Tu serias da neve a flor bandida...
Causarias ciúmes aos próprios lírios
Que dos jardins do céu a brisa agita.

5.)Antônio Telentino de Almeida - Nasceu em Rosário Oeste em 1876 e faleceu em Santo Antônio do Leverger em 1936. Advogado, poeta e jornalista. Entre os poetas deve ser considerado o maior romântico de Mato Grosso. Apreciado por Monteiro Lobato. Foi o responsável por uma completa mudança de concepções de estilo. Foi o último dos românticos, já apresentando em suas obras, características parnasianas. Publicou bons sonetos como "Cor Lapidis". Entre suas obras podemos citar : "Ilusões Doiradas", "A Índia Rosa", "A retirada da Laguna", "Romeiros do Ideal", "Mil vezes Salve".

A RETIRADA DA LAGUNA

Vem de São Paulo, de Goiás e Minas,
Por densas matas, chapadões, colinas,
Ínclitos moços de sorrir taful;
Os rios erguem e caudal bramante,
De pronto a cortam, prosseguindo avante,
Vão para a guerra que ensanguentam o sul.
Dois anos já de travessia ousada!
Muitos findaram na cruel jornada
Até Miranda que alarmada está;
Daqui por diante são o horror, a guerra,
As privações por inimiga terra...
Quantas angústias os esperam lá!...

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Tivemos outros poetas como José Thomaz de Almeida Serra, Pedro Trouye outros.


PROSA ROMÂNTICA

Se a poesia encontrou terreno fértil em nosso rincão, o mesmo não aconteceu com a prosa. Houve muitos escritores, porém se enveredaram nos ramos da história, geografia, oratória, letras científicas e jurídicas, estudos linguísticos, folclore, etc. Ou deixaram de lado a literatura ou esqueceram-na.

Entre os escritores da época podemos citar os nomes de Augusto João Manuel Leverger, Caetano Manuel de Faria Albuquerque, Antônio Correa da Costa, Manuel Espiridião da Costa, Cândido Mariano da Silva Rondon, Estevão de Mendonça, Firmo José Rodrigues e muitos outros.

CRONISTAS NO PERÍODO ROMÂNTICO

Os cronistas continuaram escrevendo, mesmo no período Romântico. Suas obras porém não acompanham a corrente. Eles seguem de lado, escrevendo ou sobre história ou sobre geografia. E é grande a lista de nossos cronistas. Entre eles citaremos: José Gonçalves da Fonseca ( Notícias da Situação de Mato Grosso e Cuiabá), Joaquim Ferreira Murtinho( Notícias sobre a província de Mato Grosso), Joaquim Murtinho (Acústica), João Severiano da Fonseca( Viagem ao redor do Brasil),Luiz da Costa Ribeiro (O general Osório), Adolfo Correa da Costa ( Os acontecimentos de Mato Grosso).

E assim tivemos muitos outros. Quase todos historiadores. Entre tais escritores, não devemos esquecer o nome de Augusto Leverger, Barão de Melgaço.
Augusto João Manuel Leverger - Barão de Melgaço - nasceu na França em 1802 e faleceu em Cuiabá em 1880. Almirante e chefe de esquadra. Chegou em Cuiabá em 1830, por ocasião da invasão paraguaia. Defendeu brilhantemente nossa região. Exerceu missões diplomáticas. Foi geógrafo e historiador. Escreveu muito, relatando os mais variados temas. Obras: "Dicionário geográfico da província de Mato Grosso","Memória sobre o rio Paraguai desde Nova Coimbra", "Vias de Comunicação em Mato Grosso", "Planta hidrográfica da Lagoa Uberaba", "Relatórios", etc.

TEATRO NO ROMANTISMO

O teatro também avançou no período romântico, porém, como a prosa, não seguindo o estilo proposto pela corrente. Era um teatro paralelo à corrente.

Em 1877 foi instalada em Cuiabá a "Sociedade Dramática Amor à arte" e logo a seguir iniciaram as representações: "A torre em Concurso", " O novo Otelo", de Joaquim Manuel de Macedo.

Em 1885 veio para Cuiabá a primeira companhia teatral, com o teatro profissional. Chamava-se "Zarzuelas".

Em 1893 Joaquim Bartholino de Proença funda uma Escola Dramática que pretendia ensinar a seus alunos as artes cênicas. Viveu pouco mais de três anos essa escola.

Com isso termina também a tentativa de se criar a arte cênica em nosso povo. O teatro decaiu quase que completamente, restringindo-se a ambientes escolares.