Olá amigos de Uraí, para mim é muito gratificante ler os comentários que se fazem sobre os textos que escrevo e o artigo que falo das águas do Rio Congonhas parece que despertou saudades nos uraienses que estão distantes.

  Num dos comentários, o amigo João da Silva me pede que eu fale também do Rio Maticanã. E eu, imbuído em uma saudade do meu tempo de menino, quando percorria suas margens para fisgar os peixes ou brincar em suas águas, resolvi então fazer um histórico sobre o rio onde vivi toda a minha infância. Se fossemos escrever nos dias de hoje, no seu estado atual, o que poderíamos dizer é que o rio foi tragado pelos matagais, é um rio quase morto e esquecido por nossa gente. Mas em um passado bem distante temos dele um bonito histórico. E o que vamos ver agora sobre o Rio Maticanã não são fantasias, não são mentiras, mas sim uma realidade. Sou testemunha ocular do paraíso ecológico que tivemos a mil metros da nossa Avenida Brasil. E para atender ao pedido do amigo João da Silva, e de todos os uraienses mais recentes, nesse momento nós veremos o histórico do riozinho em quase toda a sua extensão.

  Nos anos sessenta o rio era um pântano e o que se via às suas margens era um imenso taboal. Podíamos ver e ouvir em meio à taboa muitas espécies de pássaros e suas cantorias: frango d’água, paturis, a garça, pássaro preto, os chupins e as saracuras e tantos pássaros típicos do banhado. O rio era também um berçário para a desova, um criame de peixes. Com o passar do tempo os plantadores de arroz foram desbravando os taboais, que aos poucos foi dando lugar para belos arrozais. Esse era o cenário do Maticanã em quase toda sua extensão. Mas toda essa ecologia teve o fim no inicio dos anos setenta quando apareceu a mão do homem para mudar o curso natural do rio, que era um caracol, deixando-o em linha reta, ele virou uma correnteza. Fizeram o dreno do banhado e a terra ficou ressequida e, perdendo a fertilidade, foi abandonado pelos plantadores de arroz, e a fauna, a flora e a pesca tiveram o seu final.

  O Maticanã foi vítima fatal de um bárbaro crime ambiental. Hoje ele é um rio quase morto, tragado pelos matagais e também esquecido por nossa gente. Mas tem histórias bonitas e comoventes em um passado bem distante. O homem traga a natureza com sua brutal ignorância, deixando seqüelas paras as futuras gerações, tais como os vendavais, as enchentes, o aquecimento global, etc.

  O tempo traga a nossa vida, primeiro ele traga a nossa beleza, depois o nosso vigor físico e, lentamente vai tragando a nossa saúde. Ele só não consegue tragar a nossa maldade. Talvez o tempo coloque em nossas mãos um bordão, ou nos joga em cima de uma cama e ali ficamos esquecido e coberto pelo desprezo, já quase morto, só esperando as cortinas se fecharem para que as luzes se apaguem. Meu amigo assim vai a vida: o homem traga a natureza com sua bruta ignorância, e o tempo traga os homens. E a natureza chora e assim morrem os homens. Um abraço a todos e até a próxima.

 

 

Jair Garcia Martins

Uraí - Paraná