Após participar do II seminário Universidades e Escolas: Quem são os Donos do Cardápio Infantil? E de ouvir algumas vezes o discurso de colegas e pedagogas sobre o refeitório como um local de aprendizagem, ou melhor dizendo, “ambiente pedagógico”, parei para refletir o que há por trás desse discurso? Este texto tem como objetivo a reflexão sobre a afirmação do refeitório como “ambiente pedagógico”.

Muito se discute a respeito de uma alimentação saudável e equilibrada, um prato bem colorido e alimentos bem preparados, com o auxílio de uma nutricionista acompanhando tudo de perto, verificando a temperatura ideal e o valor nutricional de cada alimento. Porém, na hora da alimentação os alunos, ao chegarem no refeitório, servem-se ou pegam o que já está servido, sentam-se em um banco ao redor de uma mesa grande, muitas vezes com outras turmas no local, e começa a contar o tempo no relógio. Nas escolas em que tive a experiência de fazer estágio ou observação para o curso de Pedagogia da UFRGS, o tempo médio para cada refeição era de 20 minutos. Seja ela o lanche, almoço ou janta.

O tempo é pouco, pois às vezes o refeitório é pequeno e outra turma tem o próximo horário. Ou ainda, a escola tem muitos alunos, um refeitório grande e poucos funcionários que precisam limpar o espaço. O fato é que os alunos comem rápido e não podem conversar, pois se conversarem terão que comer mais rápido ainda. Algumas vezes desconhecem o alimento que estão comendo e suas propriedades alimentares. Acredito que com os alunos da educação infantil o prejuízo é ainda maior, uma vez que desde o berçário estamos ensinando a comer rápido e em silêncio.

Ao contrário do que acontece muitas vezes, na escola particular de educação infantil onde trabalho, com uma turma composta por 8 alunos de 1 ano e 9 meses até 2 anos, os alunos alimentam-se na sala de aula e não há um tempo determinado para terminar a refeição.

Os alimentos são preparados na cozinha da escola com a orientação da nutricionista e levados até a nossa sala de aula. Os alunos fazem a higiene, sentam-se ao redor da mesa em suas cadeiras e aprendem sobre cada alimento, as frutas e suas cores, os legumes, e de qual fruta é feito o suco. Os alunos, mesmo os pequenos, gostam de contar suas “histórias” na hora da refeição e de repetir o nome do alimento que estão ingerindo. E tudo isso, com calma.

Se quisermos transformar o refeitório em “ambiente pedagógico”, primeiro devemos refletir sobre a atitude dos alunos durante a refeição. Será que ao serem condicionados a ficarem quietos estamos transformando o refeitório em “ambiente pedagógico”? Será que os professores utilizam o termo “ambiente pedagógico” só por ser bonito no discurso? E principalmente, o que queremos ensinar a esses alunos? Que sujeitos estamos formando?

 

Ariane Souza é graduanda do curso de Pedagogia da UFRGS.

CV: http://lattes.cnpq.br/6962071123667084

Para citação utilizar: SOUZA, A.S.