CHOMSKY, Noam. O QUE O TIO SAM REALMENTE QUER.

 

  • A proteção do nosso território
  • Enquanto a guerra promovia o enfraquecimento ou a destruição de nossos rivais industriais, aos Estados Unidos ela propiciava enormes benefícios. (P.03)
  • Aqueles que determinam a política norte-americana sabiam muito bem que os Estados Unidos sairiam da Segunda Guerra como a primeira potência global da história. (p.03)
  • O extremo-liberal
  • Os americanos pregavam Devemos, portanto, combater a perigosa heresia que, segundo informava a Inteligência americana, estava se espalhando pela América Latina: "A idéia de que o 'governo tem responsabilidade direta pelo bem do povo". (p.04)
  • Os estrategistas americanos chamam essa idéia de comunismo, seja qual for a real opinião das pessoas que a defendem (p.04)
  • A "Grande Área''
  •  Durante a Segunda Guerra Mundial, grupos de estudo do Departamento de Estado e do Conselho de Relações Exteriores desenvolveram planos para o mundo pós-guerra nos termos do que eles determinaram a "Grande Área” (p.05)
  • Ao Terceiro Mundo cabia “executar sua principal função de fonte de matérias-primas e de marcado” (p.05)
  • O governo dos EUA tinha de desempenhar dois importantes papéis. O primeiro era o de garantir os distantes domínios da “Grande Área”. Isso exigia uma postura bastante ameaçadora, para assegurar que ninguém interferisse nessa tarefa – motivo pelo qual houve tantas campanhas dirigidas para as armas nucleares. (p.05-06)
  • A restauração da ordem tradicional
  • Para evitar um colapso econômico, que aumentaria a influência desses partidos, e para reconstruir as economias capitalistas dos países da Europa Ocidental, os EUA instituíram o Plano Marshall. (p.06)
  • Nosso compromisso com a democracia
  • É fácil entender a política dos EUA para o Terceiro Mundo. Somos radicalmente opostos à democracia se seus resultados não podem ser controlados. O problema com as democracias verdadeiras e que elas podem fazer seus governantes caírem na heresia de responderem às necessidades de sua própria população, em vez das dos investidores norte americanos. (p.09)
  • A ameaça do bom exemplo
  • Desde a Revolução Bolchevique de 1917 até a queda dos governos comunistas do Leste Europeu, no final da década de 1980, era possível justificar qualquer ataque norte-americano como defeso contra a ameaça soviética (p.10)
  • Em outras palavras, o que os EUA querem é "estabilidade", quer dizer, segurança para "as classes dominantes e liberdade para as empresas estrangeiras". Se isso pode ser obtido com métodos democráticos formais, OK. Se não, a ameaça à "estabilidade" causada pelo bom exemplo tem de ser destruída, antes que o vírus infecte os outros. (p.11)
  • O mundo trilateral
  • Desde o começo da década de 1970, o mundo tem tomado um rumo em direção ao chamado tripolarismo ou trilateralismo - ou seja, os três maiores blocos econômicos que competem entre si. (p.11-12)
  • O segundo maior bloco competitivo está baseado na Europa e é dominado pela Alemanha, que está dando um grande passo em direção à consolidação do Mercado Comum Europeu. (p.12)
  • O terceiro bloco é dominado pelos Estados Unidos e baseado no dólar. (p.12)
  • Nossa política de boa vizinhança
  • Os EUA sempre tentaram estabelecer relações estreitas com os militares de países estrangeiros, porque essa é uma das maneiras de derrubar um governo que saiu controle. (p.14)
  • O governo Kennedy preparou o caminho para o golpe militar no Brasil em 1964, ajudando a derrubar a democracia brasileira, que se estava tornando independente demais. (p.14)
  • A crucificação de El Salvador
  • Os camponeses foram às principais vítimas dessa guerra, junto com líderes sindicais, estudantes, padres ou qualquer suspeito de trabalhar pelos interesses do povo. (p.16)
  • Os jornais independentes de El Salvador, que poderiam ter informado essas atrocidades, foram destruídos. Embora eles fossem abertamente a favor das empresas, eram ainda indisciplinados demais para o gosto dos militares (p.16)
  • De forma geral, nosso projeto em El Salvador tem sido bem-sucedido. As organizações populares foram dizimadas, como havia previsto o arcebispo Romero. Dezenas de milhares de pessoas foram trucidadas e mais de um milhão de salvadorenhos tornaram-se refugiados. Este foi um dos mais sórdidos episódios da história americana - e tem havido muita concorrência. (p.18)
  • Ensinando uma lição à Nicarágua
  • Não apenas El Salvador foi ignorado pelas principais correntes da mídia norte-americana durante a década de 1970. (p.18)
  • Reagan utilizou-os para lançar uma guerra terrorista em grande escala contra a Nicarágua, combinada com uma guerra econômica, que foi muito mais letal. (p.19)
  • Os terríveis ataques terroristas dos contras, sob ordens dos EUA, em direção aos "alvos leves" contribuíram, juntamente com o boicote econômico, para o fim de toda e qualquer esperança de desenvolvimento econômico e reforma social. (p.20)
  • Fazendo da Guatemala um campo de extermínio
  • Se houve um lugar na América Central que obteve alguma cobertura pela mídia antes da revolução sandinista, este lugar foi a Guatemala. (p.21)
  • A CIA empreendeu um bem-sucedido golpe. A Guatemala tornou-se o açougue que é até hoje, com a intervenção regular dos Estados Unidos sempre que as coisas ameaçam sair linha. (p.22)
  • A invasão do Panamá
  • O Panamá tem sido tradicionalmente controlado pela sua minúscula elite européia, menos de 10% da população. Isso mudou em 1968, quando Omar Torrijos, um general populista, liderou um golpe que permitiu aos negros e aos mestiços pobres partilharem uma fatia mínima do poder, sob sua ditadura militar. (p.23)
  • Após a invasão, Bush anunciou um bilhão de dólares em ajuda ao Panamá, dos quais 400 milhões consistiam em incentivos às empresas norte-americanas para exportar produtos ao Panamá, 150 milhões foram para pagar empréstimos aos bancos e 65 milhões foram para outros empréstimos ao setor privado e garantias aos investidores americanos. (p.25)
  • Vacinando o Sudeste Asiático
  • As guerras americanas na Indochina fazem parte da norma geral. (p.26)
  • O que se faz quando se tem um vírus? Primeiro você o destrói e, em seguida, vacina as vítimas em potencial para que a doença não se propague. É essa a estratégia que os EUA utilizam no Terceiro Mundo. (p.26)
  • Depois que a guerra do Vietnã terminou, em 1975, o objetivo principal dos Estados Unidos tem sido maximizar o sofrimento e a repressão nos países que foram devastados pela violência. O grau de crueldade é realmente espantoso. (p.27)
  • A Guerra do Golfo
  • A Guerra do Golfo ilustrou bem este mesmo guia de princípios, como poderemos ver claramente, se levantarmos o véu da propaganda. (p.27)
  • A América está onde sempre esteve - contra a agressão, contra todos aqueles que usam da força para substituir o império da lei. (p.28)
  • Ao recusar a diplomacia, os EUA conseguiram seus objetivos fundamentais no Golfo. Nós estávamos preocupados com o fato de que os incomparáveis recursos de energia do Oriente Médio permanecessem sob o nosso controle e que os enormes lucros que eles produzem ajudassem a manter as economias dos EUA e de seu aliado britânico. (p.31)
  • A cobertura Irã-Contras
  • Os principais elementos da história do caso Irã-Contras eram conhecidos bem antes de serem expostos em 1986, com exceção de um fato: que a venda de armas para o Irã, via Israel, e a guerra ilegal dos Contras, dirigida do escritório de Ollie North, na Casa Branca, estavam conectadas. (p.31)
  • O que então gerou o escândalo Irã-Contras? Chegou um momento em que se tomou impossível ocultá-lo por mais tempo. Quando o avião de Hasenfus foi derrubado, na Nicarágua, levando armas para os Contras por meio da CIA, e a imprensa libanesa informou que o Conselho de Segurança Nacional dos EUA estava distribuindo bíblias e bolos de chocolate em Teerã, a história não pôde mais ser mantida oculta. Depois disso, emergiu a conexão entre essas duas histórias bem conhecidas. (p.32)
  • As perspectivas para a Europa Oriental
  • O que foi notável nos acontecimentos do Leste Europeu, nos anos 1980, foi que a potência imperial simplesmente voltou atrás. A União Soviética não só permitiu como encorajou os movimentos populares. Há poucos precedentes históricos iguais a estes. (p.32)
  • Isso não aconteceu porque os soviéticos eram bonzinhos. Eles foram levados por necessidades internas. (p.32)
  • Sempre houve uma espécie de relacionamento colonizador entre a Europa Ocidental e a Europa Oriental. De fato, o bloqueio desse relacionamento pelos russos foi um dos motivos da Guerra Fria. (p.33)
  • O bandido de aluguel do mundo
  • Nos últimos vinte anos, mais ou menos, os Estados Unidos têm estado em declínio em relação ao Japão e à Europa encabeçada pela Alemanha (graças, em parte, ao mal gerenciamento do governo Reagan, que deu uma festa aos ricos com custos pagos pela maioria da população e das futuras gerações).(P.34)
  • Com o obstáculo soviético desfeito, os EUA estão muito mais livres para usar a violência pelo mundo afora, fato este reconhecido com muita satisfação pelos analistas políticos norte-americanos, há vários anos. (P.34)
  • Para ser exato, o uso da força para controlar o Terceiro Mundo é somente o último recurso. O FMI é um instrumento mais barato que os marines e a CIA. Mas o "punho-de-ferro" deve estar nos bastidores, disponível quando necessário. (p.35)
  • LAVAGEM CEREBRAL INTERNA
  • Como funcionava a Guerra Fria
    • Naturalmente, tanto os EUA quanto a Rússia preferiam que o outro lado desaparecesse, mas visto que isso implicaria obviamente uma eliminação mútua, então um sistema de gerenciamento global, chamado Guerra Fria, foi estabelecido. (p.36)
    • No lado americano, as intervenções eram no mundo inteiro, refletindo o status alcançado pelos EUA, como a primeira potência verdadeiramente global da história. (p.36)
    • Numa avaliação critica, portanto, a Guerra Fria foi uma espécie de acordo tácito entre a União Soviética e os Estados Unidos, sob o qual os EUA conduziram suas guerras contra o Terceiro Mundo e controlaram seus aliados na Europa, enquanto os governantes soviéticos mantiveram com garras de aço seu próprio império interno e seus satélites na Europa Oriental (p.37)
    • A guerra contra (certas) drogas
    • Um dos substitutos do extinto Império do Mal tem sido a ameaça representada pelos traficantes de drogas da América Latina (p.38)
    • Assim, internacionalmente, “a guerra às drogas” fornece um pretexto para intervenções. Internamente, tem pouco a ver com as drogas, mas muito a ver com a distração da população, aumentando a repressão nos centros urbanos e apoiando o ataque às liberdades civis. (p.38)
    • Outro aspecto do problema das drogas que também recebeu pouca atenção foi o importante papel que os EUA desempenharam no estímulo ao tráfico de drogas, desde a Segunda Guerra Mundial. (p.39)
    • Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força.
    • O processo de paz é restrito às iniciativas norte-americanas, que exigem um acordo unilateral determinado pelos EUA, sem reconhecimento dos direitos nacionais palestinos. É assim que funciona. Aqueles que não podem dominar a fundo essas manobras devem procurar outra profissão. (p.41)
    • Socialismo, o falso e o verdadeiro
    • Referir-se à União Soviética como socialista é um interessante caso de duplo sentido doutrinário. (p.42)
    • Os dois mais importantes sistemas de propaganda do mundo não concordavam em muitas coisas, mas eles concordaram em usar o termo socialismo para referirem-se à destruição imediata de todo componente de socialismo pelos bolcheviques.(p.42)
    • Com o colapso do sistema soviético, há uma oportunidade viva e vigorosa de ressurgir o pensamento libertário socialista, que não foi capaz de resistir aos assaltos repressivos e doutrinários em seu mais importante sistema de poder. (p.42)
    • A mídia
    • Sejam chamadas de “liberais” ou de “conservadoras”, as principais mídias são grandes empresas pertencentes e interligadas a conglomerados maiores ainda. (p.42)
    • O resultado não é, logicamente, inteiramente uniforme. Para servir aos interesses dos poderosos, a mídia deve apresentar um quadro toleravelmente realista do mundo. (p.43)
    • A mídia é apenas uma parte de um sistema doutrinário maior: as outras partes são os jornais de opinião, as escolas e as universidades, as pesquisas acadêmicas, e assim por diante. (p.43)

 

O FUTURO

  • As coisas mudaram
  • Atualmente, a intervenção clássica não é mais considerada uma opção. Os métodos limitam-se ao terror clandestino, mantido oculto da população interna, ou à demolição “rápida e fulminante” de “inimigos muito mais fracos”, após uma enorme campanha de propaganda, expondo-os como monstros de poder indescritível. (p.45)
  • O que se pode fazer
  • Uma das coisas que eles mais querem é uma população passiva e aquiescente. (p.46)
  • Se formos a uma manifestação e depois voltarmos para a casa, já é alguma coisa, mas o pessoal no poder pode conviver com isso. O que eles não podem conviver é com uma contínua pressão que se mantém estruturada, com organizações que continuam fazendo as coisas acontecerem e com gente que continua aprendendo lições da última vez para agir melhor na próxima vez. (p.46)
  • A luta continua
  • A luta pela liberdade nunca termina. (p.47)