RESUMO

 

Durante as pesquisas com intuito de elaborar o artigo final da disciplina, encontrei e li muitos trabalhos dedicados ao exame das relações professor aluno, em uma visão psicanalítica. Mesmo que o propósito da disciplina seja o lado pedagógico da questão, para que pudesse estabelecer relações e lincar com os conteúdos ministrados, fui levado a compreender, ainda que minimamente, o lado clínico e as abordagens da transferência, além de investigar como o fenômeno pode interferir no processo ensino aprendizagem.

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

RESUMO.. 2

INTRODUÇÃO.. 4

ANÁLISE INTERPRETATIVA.. 5

RESUMO DA SINOPSE. 5

A RELAÇÃO MÃE FILHA.. 5

ANÁLISE DO PERSONAGEM.. 6

MAS AFINAL, QUAL A RELAÇÃO NOVELA/PROFESSOR ALUNO.. 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS. 9

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 10

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

No dia vinte seis de setembro último, estreou na Rede Globo de Televisão, a novela das dezoito horas, A Vida da Gente. A ampla divulgação de que as cidades ambientes das externas da novela seriam Porto Alegre e Gramado, acabou por despertar minha curiosidade em relação aos locais, imagens e de que forma o Diretor Jayme Monjardim gravaria as cenas. Passados os primeiros capítulos, utilizados para entendimento da sinopse e familiarização com os personagens, interessei-me especialmente por um. Eva Fonseca, interpretado pela atriz Ana Beatriz Nogueira. Controladora, superprotetora, repleta de artimanhas.

Lembrei então das aulas de Formação Docente, Subjetividade e Desenvolvimento Humano, ministradas pela professora Denise, razão pela qual passei a estudar o conceito da transferência e tentar estabelecer articulações e principalmente vínculos com as relações interpessoais educativas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ANÁLISE INTERPRETATIVA

 

RESUMO DA SINOPSE

 

A novela conta a história de Ana, uma jogadora de tênis, que apesar do talento oriundo do berço e de sua satisfação pessoal em praticar o esporte de forma profissional, é empurrada pela empresária e pela mãe para que tenha dedicação exclusiva ao desenvolvimento de sua carreira, a primeira por questões absolutamente financeiras e a segunda, a mãe, também por isto, mas essencialmente por outras questões psicológicas objeto deste trabalho, das quais trataremos adiante.

Após uma gravidez repentina, empresária e mãe articulam um ano de afastamento do país, período para geração e nascimento da criança. A mãe registra a filha como sua, evitando que alguém soubesse que a grande estrela do tênis havia parido um filho e isso prejudicasse sua carreira, imagem pessoal e faturamento por vitórias em torneios. Contrariada por não poder assumir a maternidade publicamente e com saudades do pai da criança que ficou no Brasil sem entender o repentino afastamento da amada, e, após desavenças com a mãe no exterior, Ana resolve voltar com sua filha.

Ana, cada vez mais sufocada, resolve sair da casa com a filha e a irmã, esta, rejeitada pela mãe. Combina com o pai de sua filha encontro em Gramado, onde revelerá seu segredo. Na estrada, o veículo capota várias vezes e Ana, a jogadora e atleta, por problemas cerebrais fica em coma profundo. Nas cenas dos próximos capítulos, contam que após uma passagem de época da novela, depois de quatro anos, sairá do estado de coma, inaugurando nova fase da sinopse.

A RELAÇÃO MÃE FILHA

 

Desde o início da novela, muitos foram e por certo ainda serão os acontecimentos que mereceram uma observação mais atenta de minha parte. Mantendo razoável cronologia em conformidade com a evolução dos capítulos e do próprio enredo, anotei algumas passagens:

-  tenta fazer com que a filha aborte a criança;

            - após negativa da filha, em nome de uma carreira como tenista, decide sair do país, escondendo a filha e a neta de tudo e de todos;

          -  tenta entregar a neta para adoção;

          -  renega a neta e tenta colocá-la em uma creche;

          - mãe culpa a irmã pelo acidente e o estado de Ana;

          - revolta-se quando médico define situação da filha;

          - revolta com enfermeira quando esta realiza procedimentos;

          - acusa filha e a própria mãe de tentar afastá-la de Ana, a filha predileta.

Com o elenco de atitudes acima, penso possível interpretar a identidade do personagem e suas características, valores sociais, trajetória, emoções e relações humanas, centro da discussão que proponho neste trabalho.

 

ANÁLISE DO PERSONAGEM

 

Muitos são os casos que conhecemos de mães que transferem suas frustações para filhos. No caso, é a busca incessante das vitórias e títulos dos torneios de tênis. O que precisamos discutir é se não criaremos uma mulher ainda mais frustrada que a própria mãe. Lógico, estamos falando de ficção, mas ainda assim, serve para análise.

Um famoso filme, Cisne Negro, possui um enredo muito semelhante ao da novela da Globo. Uma dedicada bailarina em Nova York, mora com a ex bailarina e mãe, aposentada por uma gravidez. Nina, a bailarina, tenta através dos espetáculos superar a opressão imposta pela mãe que projeta nela a frustração de uma aposentadoria precoce em virtude de gravidez. De certa forma, o filme compara relações entre personagens e sociedade atual. E a transferência da mãe para a filha. Queria que a filha fôsse, o que ela não foi. Dedicada, expressiva, brilhante, disciplinada e que se deixar levar.

A psicologia entende tal processo como mecanismos de defesa. A superproteção chama de formação reativa. A alegada perda da filha para um genro e uma neta é tratada como negação, após ter dedicado sua vida inteira à filha.

 

MAS AFINAL, QUAL A RELAÇÃO NOVELA/PROFESSOR ALUNO

 

Ao assistir capítulos da novela A Vida da Gente, notei diversas semelhanças com os conteúdos ministrados pela professora Denise Quaresma. Lá, como cá, o fenômeno da transferência dificulta relações humanas. Mas antes de mais nada, examinemos a literatura para conceituar a transferência. Segundo Morgado (1995, p. 63-64) transferência significa o processo através do qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no contexto da relação analítica. Freud chama de transferência, o processo psicológico que atualiza o protótipo da relação original. “Trata-se, efetivamente, de transferir para a nova relação os sentimentos e as expectativas depositadas em uma relação passada”.  Na psicanálise freudiana, a transferência é definida como uma “reedição de impulsos e fantasias despertadas e tornadas conscientes durante o desenvolvimento da análise e que trazem como característica a substituição de uma pessoa anterior pela pessoa do médico”. No que tange ao objeto deste artigo, a relação mãe-filha e professor-aluno, a transferência invoca os primeiros anos de vida, quando se dá a formação da personalidade e a constituição do sujeito, sempre sob influência das relações parentais e fraternais, além das pessoas que nos cercam. Diz a psicanálise que há casos em que a transferência nas relações pedagógicas não se estabelece por intervenção de fenômenos como recusa ou amor demasiado.

Administrador do espaço de sala de aula? Transmissor de conhecimento? Pai, mãe, Deus? Um pouco de cada. Professores, em meio ao compartilhamento do saber,  são também administradores de conflitos, questão que aliás diz respeito aos valores morais, religiosos, éticos e deveriam vir da família, mais importante grupo social na formação do indivíduo. A figura do professor como autoridade,  retoma relações com os pais ao longo da infância, sempre sob a perspectiva da maior quantidade de conhecimentos e vivências ultrapassadas por eles e pelos pais, causando conflitos. A lembrança desses fatos, pode fazer com que o aluno traga à tona os tais conflitos e passe a agir com o professor como se fôsse seu pai. Em sua fala, o professor chama de carente o aluno pelo qual nutre especial amor e desperta neste, um desejo de que a relação vá além da educativa, uma relação pais-filhos. De outra parte, a recusa significa rejeição. Quando o aluno transfere para o professor o amor e/ou a hostilidade, atende o chamado de um passado conflitivo. Repetindo esta relação para com o professor, tende a um ciclo vicioso que impede sua relação com o conhecimento, pois pode deformar o papel do professor, atribuindo-lhe a função de objeto da pulsão no lugar de alguém que apenas exerça o papel de mediador de um processo interno de aprendizagem. Deste modo, reproduz na figura do professor todo o fascínio e todo o temor à autoridade parental. “Revive, assim, o momento em que foi seduzido a assimilar as características restritivas do superego de seus pais, fazendo deles o centro de sua vida.” (MORGADO, 1995, p. 109). Diante da exposição dos problemas, como a escola pode enfrentar as questões transferenciais? Ainda Morgado (1995, p.110) se pergunta. Deve transformar-se em um arremedo de consultório analítico para terapeutizar seus alunos? Definitivamente, não! Sua função é pedagógica. Por isso, antes de tudo ela deve investir na formação do professor, para que ele tenha competência e compromisso com o que faz, e para que tenha consciência de como o faz. Mas essa consciência pedagógica não se restringe às habilidades teóricas e metodológicas. Implica também a consciência de seu lugar no campo em que é afetado pela transferência do aluno. Além de Freud, outros autores estudaram o fenômeno da transferência. Lacan (1992) por exemplo, define a transferência  como um laço afetivo intenso que se instaura de maneira automática e de forma atual entre os protagonistas de uma relação e demonstra que a organização subjetiva do paciente é comandada por um elemento pulsional, o objeto (a). Em “Os escritos técnicos de Freud (1953-1954)”, Lacan acrescenta que a transferência revela tanto o aspecto de fixação do sujeito a algo do passado quanto a possibilidade de se tecer algo novo. A transferência é a possibilidade de transformar a situação atual, de estabelecer um deslocamento do sujeito das situações. Olha a novela aí novamente. Como na relação professor-aluno, Eva, a mãe, vê ou tenta ver na filha Ana, algo vinculado a seu passado, que até o momento da conclusão deste artigo não sabemos o que é. Lacan defendeu uma função chamada sujeito-suposto-saber, que pode ser encarnada por qualquer um. Na família pela mãe e na escola pelo professor. Requisito: autoridade. Havendo um suposto saber, conhecimento, certamente haverá transferência.

A título de ilustração, pesquisei e descobri alguns casos assumidos de transferências positivas. O próprio Freud, Rubem Alves com sua predileta Dona Clotilde, a quem admirava demais, muito em virtude de ter visto seu seio quando dava de mamar ao filho. Dizia que todos queriam carregar as pesadas pastas daquela professora. Ziraldo, conhecido cartunista também admirou sua professora Candinha. Os Atrasados não existem, é clássico exemplo de transferência negativa. Anny Cordie (2001) apresenta Arthur, menino que não conseguia aprender conteúdos, por força do temor exagerado que tinha de sua professora durante as leituras da aula. Descobriu-se após investigação, que Arthur conectava o olhar da professora ao olhar de reprovação  da mãe em sua infância.

O docente, antes de tudo é um ser humano, logo, sujeito à reações. Difícil lhe é, manter um clima harmonioso em sala de aula. Mesmo que valorize o aluno e acolha suas transferências.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Pensei reflexão sobre as razões do fracasso escolar, as dificuldades de aprendizagem, as relações professor-aluno. Como a relação pais-filhos. Novela, pura ficção, confunde-se com a realidade. Conflitos e tensões. E claro, levando em conta a subjetividade. O professor não pode ser o pai, mas pode ser o educador. A mãe deve ser a amiga, não a dona. Os adultos, na figura dos professores descomprometidos com o ato educativo, nos fazem pensar, ler, entender. Nos ensinam a não desistir, que é possível driblar o fracasso escolar.

  

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

FREUD, Sigmund. Psicologia de grupo e a análise do ego (1921). In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Trad. de Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro, Imago, 1987, v. XVIII.

 

LACAN, Jacques. O seminário - livro 8: a transferência (1960-1961). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992.

 

LACAN, Jacques. O seminário – livro I: os escritos técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992.

 

MORGADO, Maria Ap. Da sedução na relação pedagógica. São Paulo: Plexus, 1995.