Nos últimos meses temos assistido, principalmente na mídia, um verdadeiro frenesi em relação ao excelente desempenho dos índices do comércio eletrônico no país (+79%*1). Quando comparado ao fraco desempenho do comércio físico tradicional (+3,2%*2), a diferença se torna ainda mais gritante e gera uma sensação de que atravessamos um momento de ruptura, aonde nada do que se fazia antes tem valor no novo modelo.

Essa não é exatamente uma verdade absoluta. As condições no Brasil são bastante singulares se comparado aos outros países.

A (felizmente) extinta lei que instituiu a reserva de mercado para produtos de informática (1984-1992), aliada à queda do poder aquisitivo da população nos sucessivos planos econômicos, gerou o que chamamos de déficit de inclusão digital.

Esse déficit passou a ser corrigido desde o fim da década passada, e esse crescimento registrado agora se dá por uma matriz de quatro fatores combinados entre si, o que o diferencia do desempenho dos demais setores da sociedade.

Fator 1 - Acessibilidade, o que não tem nada a ver com portabilidade (que ocorre em países como Japão, Coréia, Estados Unidos). Até o ano passado, segundo pesquisa do Comitê gestor da internet no Brasil, 55% da população brasileira nunca havia utilizado um computador, e 68% nunca havia acessado a internet. Ocorre que as empresas estão cada vez mais informatizadas (a mesma pesquisa mostrou que 98,76% das empresas haviam usado computadores nos últimos 12 meses), criação dos telecentros, dos cybercafés e lan-houses, e mais recentemente ao projeto do PC popular, que tirou do comércio ilegal o monopólio de computadores baratos, aliando a esse tipo de bem o financiamento em larga escala. Portanto, de uma forma ou de outra, a população passou a ter mais acesso aos computadores;

Fator 2 – A penetração da internet. A aceleração no tempo de sucateamento dos equipamentos (que são disponibilizados ao mercado de usados), passou a permitir à população de menor poder aquisitivo, acesso a computadores de maior velocidade e compatibilidade com os navegadores de internet;

Fator 3 - O movimento de competição entre os provedores de acesso à internet de alta velocidade (banda larga), que gerou queda nas tarifas e conseqüente aumento da sua utilização. O Brasil é vice-campeão mundial em tempo de navegação per capita.

Fator 4 – Por último, mas não menos importante, dentro desse universo de internautas, existe a própria experiência de compra que vem se disseminando, em razão do incremento na percepção de segurança nas transações online, a compra pela internet está começando a ser popular como o ato de utilizar um caixa eletrônico.

Dessa forma podemos dizer que a alavancagem do comércio eletrônico, não obstante a sua base pequena, é vitaminada por diversas frentes, e isso sim, a torna diferente do desempenho do comércio físico.

*Camara-e.net**PCCV Fecomércio