O que faz a diferença.

Há muito descobri que só existe uma pessoa capaz de determinar – para mim – o que é impossível: eu mesmo. Mas mesmo sabendo disso, confesso que ainda continuo cometendo, eventualmente, o mesmo erro da dúvida na possibilidade, até recordar-me da lição e voltar a insistir.

Temos a tendência em crer que as dificuldades são acontecimentos existentes para nos impedir de fazer ou conquistar algo. Erro crasso. Elas existem para tirar de dentro da gente o ser realizador. Trazer o que é apenas potencial, para as efetivas ações necessárias e para a realização dos sonhos.

Um caso recente, que ilustra bem a declaração inicial é o resultado das Olimpíadas, das duas. Comparem-se os resultados dos jogos olímpicos e paraolímpicos. A quantidade de medalhas conquistada pelo Brasil, nas duas modalidades, fornece uma pista óbvia, do quanto as dificuldades possuem o “dom” de arrancar de dentro do homem, o ser realizador, aquele que faz a diferença.

Um dos atletas paraolímpicos, brasileiro, conseguiu ganhar mais medalhas de ouro que todos os atletas olímpicos reunidos conseguiram.

Há quem diga que as duas olimpíadas, por serem diferentes, não podem ser comparadas nos seus resultados. Tolice. Podem e devem ser comparadas, sob pena de se perderem as lições de superação demonstradas pelos atletas paraolímpicos.

Superação, comprometimento com o objetivo estabelecido. Dedicação extrema para vencer as dificuldades. Acima de tudo: recusa obstinada em crer no impossível.

Essa “descrença” no impossível é que faz a diferença.

Fico impressionado com as lições naturais e óbvias que nos cercam e que para a maioria é invisível.

Lembro-me do dia em que ensinava meu filho a andar de bicicleta e ele caiu várias vezes. Ele não conseguia se livrar do medo de cair, então eram inevitáveis as quedas.

A certa altura ele me disse que não iria conseguir aprender a andar de bicicleta, estava desistindo. Então lhe disse: “você nasceu sabendo andar, correr, falar, ler e tantas outras coisas mais?  Você não se recorda, mas caiu muitas vezes antes de aprender a andar. Mas conseguiu vencer o medo e andou. Por isso eu te digo, você vai conseguir sim, basta não desistir. Ok?”

Então ele persistiu. Ao final daquela mesma tarde estava todo arranhado nas pernas, mas sorria, pedalando sua bicicleta.

Aqueles que não possuem nenhuma deficiência física, se prestarem atenção à história escrita com garra nas Paraolimpíadas, sentirão vergonha de haverem reclamado, muitas vezes, da vida e das “condições” em que vivem.

Descobrirão que as condições de vida de cada um são criadas pela própria pessoa na sua disposição mental e não na situação física. Que a loteria que dá o maior premio se chama trabalho. Que descrer no impossível é um impulso com o apelido de fé. E, finalmente, que tudo isso junto é o conjunto revelador da razão da falta de valor das facilidades.

Estamos ainda aprendendo a prática da perseverança tal como praticada pelos atletas paraolímpicos. E sabemos que há muito caminho pela frente ainda, mas sabemos também que o impossível não existe, se não deixarmos.

E isso faz a grande diferença. Revela que cada novo dia é uma etapa a mais na luta contra as futilidades e na busca de um profundo sentido para a existência. Acende a crença firme de que é sempre possível fazer alguma que melhore o mundo e desperte nas pessoas próximas o mesmo desejo.

Aquilo que para alguns é empecilho, para outros é uma motivação a mais. Os obstáculos não existem para impedir a vitória, mas para valorizá-la.

Basta aprender com as crianças, pois elas ainda não “aprenderam a falsa lição das derrotas”.

Vamos fazer a diferença, pois ainda há tempo!