Infelizmente ou felizmente eu fui chamado para compor a banca de "trabalhadores" no dia das eleições, que ocorreu no domingo (03/10/2010). Por um lado foi infeliz, é claro, pois eleições nesse país não agradam a ninguém; se estivéssemos em uma melhor, politicamente falando, provavelmente eu não estaria nem escrevendo esse texto, ou desgastando o meu tempo elogiando "o maravilhoso governo dos sonhos que nós (não) temos".

No entanto foi feliz, também, por outro lado. Deu para conferir de perto os bastidores dos futuros escândalos, das futuras mazelas sociais, das futuras doses massivas de ignorância e hipocrisia que a sociedade se alimentará pelos próximos anos, e que reclamará por isso, diga-se de passagem. Eu pude conferir bem de pertinho, linha por linha da história, o verdadeiro espetáculo do despreparo da população e dos próprios candidatos oportunistas, que tanto elegeram palhaços, conscientes disso, quanto cuspiram na cara do país inteiro, sem dar a mínima importância para isso. Eu já estava convicto que, por aqui, nessa imensa terra sem leis, apenas palhaços eram eleitos pelo grande público os aplaudir. Hoje, um dia após tudo o que eu registrei com os meus próprios olhos (04/10/2010), eu tenho a absoluta certeza de que, de forma ingênua e/ou descarada, as pessoas é que na verdade são palhaças o suficiente para elegerem, apenas, outros palhaços que se misturem com o restante, formando, assim, o que nós atualmente conhecemos como "democracia". O ponto-chave da situação é que, do outro lado da moeda, os políticos sabem disso perfeitamente, e é justamente aí que mora o "x" da questão. Para todas as circunstâncias, afirmo que: se continuar assim, do jeitinho que está, iremos permanecer no fundo do poço, sendo o motivo de chacota para outros verem e tirarem sarro de toda essa podridão.

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E depois dizem que ninguém se interessa pelo país, que o resto do mundo não sabe nada sobre nós, que eles mantêm aquele velho discurso breve e ?hipócrita? de: "carnaval, samba e safadeza", quando interrogados sobre o que conhecem sobre esse, digamos... Imenso "país de todos". Eles concordam com a idéia de "pior que está não fica", ou com aquele velho e conhecido discurso de "estamos crescendo e podemos crescer mais ainda, com a força do povo e de Deus". Não quero me aprofundar no mérito religioso dessas eleições, visto que o próprio Estado se diz laico e, sendo laico, apela de todas as formas para a mão "divina" o eleger. Daria perfeitamente para abrir um largo e extenso debate sobre isso, mas não quero prolongar mais ainda a discussão chave do assunto.

Participei das eleições 2010, com grande má vontade de início, pra falar a verdade. Você é obrigado a se alistar no exército, é obrigado a votar, é obrigado a trabalhar como mesário, presidente ou secretário nas eleições, é obrigado a fazer inúmeras coisas que não oferecem retorno algum. Pagamos contas absurdas, trabalhamos freneticamente, consumimos feito um bando de maníacos viciados e nada disso é reconhecido; pelo contrário, somos assaltados, ameaçados, invadidos por violência e miséria por todos os cantos e, além disso, temos que aturar de boca calada o descaso de um governo corrupto e oportunista por natureza. Mas, tudo bem! Isso é ser um verdadeiro brasileiro de corpo, alma e patriotismo a flor da pele.

Mas enfim, com o passar do tédio durante o trabalho "quase" escravo, fui catando certos elementos no ar que, ao término de tudo, formaram uma opinião consistente sobre tudo isso que nos cerca. Preencheu a mente de satisfação. Percebi que por mais cansativo que tudo aquilo tenha sido, no final das contas, coube a mim, unicamente, julgar o que os olhos tiravam de lição sobre aquilo tudo. Quem era o errado ali, naquela hora? O povo ou o governo? Ou era um mix desses dois elementos que resultavam num retrato 3x4 fiel das características únicas e tangíveis dos brasileiros?! Foi aí que caí na percepção de que o povo, em si, se deixa levar completamente pelos vários objetos ao seu redor, que formam uma mentalidade minúscula dentro de cada um. Objetos esses midiáticos, políticos e sociais:

? Midiáticos, pois, de forma absoluta, temos pesquisas que, em minha opinião, são fundamentais para manipular a intenção de votos em um país que pratica a desinformação descaradamente. Pesquisas como Vox Populi e Datafolha já são suficientes para manipular muitas e muitas cabeças por todo o Brasil.
? Os meios políticos, através da distribuição de "santinhos" e demais outras formas de publicar a candidatura, como carreatas e carros de som, além de prejudicar o meio ambiente e emporcalhar as ruas e avenidas do país, possuem a clara intenção de chamar a atenção do eleitor. O que conseguir ser mais ridículo, ou prometer (mentir) mais, ou emporcalhar mais, conseqüentemente, atrairá mais votos para si. Não precisa de matemática, isso é pura lógica.
? E, por fim, os meios sociais; ignorância, hipocrisia, descontentamento, falta de vergonha na cara, vendas de voto, "santinhos", pesquisas Vox Populi e Datafolha, analfabetismo, obrigatoriedade do voto, populismo, elitismo, "midiatismo", desinformação... Só esses elementos já registram e marcam a sociedade brasileira e por que ela é, enfim, condicionada a não pensar, a não saber o que é política, a não ter interesse por nada que seja, digamos, "político demais".

Poderia citar diversas soluções para o país, mas não sou o herói. Ando mais para vilão, aos olhos dos outros. Mas a única coisa que eu cito, aqui, é justamente a educação. Educação de verdade trás consciência para a consciência, trás luz para seguir em frente. O que eu pude notar, no dia das eleições, foi o mínimo de educação possível. Gente que praticamente não sabia ler, tampouco escrever... Teve um cara que estava copiando os "símbolos" que havia escrito no RG para a folha de assinatura, outros demoravam eternidades votando e acabavam por colocar "branco", sem ter alternativa melhor. Vergonha total! Se for para ser assim, acaba logo com a obrigatoriedade do voto ou torna a educação uma prioridade máxima nesse país, acima de todas as outras. É preciso primeiro desentupir as veias dessa sociedade doente, libertar a mente delas, de verdade. Só assim para darmos algum avanço nítido.

O que falar então do político, em si. Eles gastam dinheiro a toa fazendo papéis idiotas, muito desses já vem com todos os números de candidatos que o eleitor nem ao menos sabe quem são, mas que leva no dia da votação (ou pega qualquer um na rua antes de entrar no colégio, como pude ver) só para fazer uma média e, possivelmente, "não desperdiçar o voto". O engraçado é que ele [o eleitor] preenche tanto a mente de descasos e mentiras, que desperdiça o voto muito antes disso; o eleitor nem se dá a obrigação de eleger alguém que represente realmente as suas idéias, seus ideais de vida, suas expectativas. Ele vota em qualquer um pensando que é "tudo a mesma coisa".

E o Brasil? Onde fica nessa história? O Brasil é uma grande piada, aos olhos dos outros. Só não enxerga isso quem não quer, ou quem pensa que isso aqui é uma grande "fábula do crescimento". Um verdadeiro "país das maravilhas, rico em meio ambiente, cidadania e política eficazes, que agradam a todos pelo mundo inteiro". Na verdade esse aqui é o país onde a mídia controla a grande parcela das opiniões, onde não há leis de verdade, onde ricos são beneficiados com mais dinheiro ainda e os pobres são incentivados descaradamente a simplesmente sonhar com a riqueza daquele rico, lá em cima. Pare nesse momento e tente imaginar quantas pessoas morreram tentando alcançar esse sonho?! Quantas pessoas se submeteram a fazer o que eles, os grandes, impõe?! E eu aposto que se essas pessoas voltassem à vida, com certeza tentariam novamente correr atrás dessa ilusão que é o dinheiro, sem pensar duas vezes. Quem fosse mais inteligente tentaria derrubar toda essa droga que contamina.

E depois me perguntam "como que uma criança leva uma arma para dentro de uma sala de aula em um colégio particular, e dispara contra a outra?"... É simples! As crianças hoje em dia têm acesso à violência o dia inteiro, todos os dias do ano. Ela liga a TV e vê assassinato, estupro, genocídio, pilantragens, corrupções... Mas e educação de verdade?! Ela vê? Nos meios aonde se deveria, por obrigação, incentivar a criança a pensar em um futuro digno, a se interessar por política, em troca ela assiste miséria televisionada, internet repleta de futilidades e exibicionismos de uma ideologia fracassada de que "você o que você veste, compra, como você se comporta socialmente, se você é popular, se você curte músicas da moda, se você freqüenta o Mc Donald?s regularmente" e por aí vai. Quem é que pára para ler um jornal e criticar aquilo que observa ali? Quem é que está preocupado com coisas sérias? Quem pensa no coletivo hoje em dia? Ninguém! Isso é perda de cultura, perda de identidade como cidadão.

Eu canso de falar que "não se vota apenas em quem está na frente nas pesquisas", mas parece que eu falo uma língua desconhecida, todo mundo olha pra mim com cara de interrogação, meio que dando a entender: "cara, você é burro? Por que votar em um candidato que nem aparece nas pesquisas ou nas bancadas dos debates televisivos?". É por isso que, mais uma vez, tudo continuará na mesma. Mesmas propostas, mesmos descasos, mesmas pilantragens, mesmas alternâncias de poder, mesmas corrupções, mesmos bandidos, mesmos eleitores ignorantes, mesma sociedade hipócrita e conservadora de péssimos costumes, mesma democracia de cegos e palhaços, como sempre.

Enquanto não repensarmos sobre o que é ser um brasileiro, continuo com a pergunta tão infantil e babaca que acompanha o raciocínio infantil e babaca de cada um desses milhares de cidadãos inconscientes: "o que é ser um brasileiro?". A resposta está na cara, mas e as propostas de melhoria e solução?! É aí que mora a questão. Nada vai mudar nesse país enquanto não houver alguém digno de caráter e confiança que se apresente como o verdadeiro candidato da mudança. Ou melhor, nada mudará enquanto o próprio eleitor não exigir mudanças nas estruturas dessa fabula que é o Brasil. A combinação de um e outro, unicamente, é que podem tornar realidade nossas esperanças. Infelizmente, ainda se ganha com corrupção e mentira nesse país, pois os políticos pensam que só desse jeito eles levam a melhor. Isso faz jus à máscara que eles vestem todos os dias. E nós aqui, também, vestidos inteiramente a caráter; vestidos de palhaços, por pura e sincera desvalia. Será que isso faz jus ao nosso caráter?! É de se pensar, então, PENSE.