“Seguirei o Senhor para onde quer que fores ”. Lucas 9:57

 Como assim para onde quer que fores?

 Ele realmente não tinha ideia do caminho que Jesus representava, ele não sabia que Jesus era o próprio caminho!

 Não existe possibilidade de outro caminho em Jesus, portanto, inferir outra possibilidade demonstra um desconhecimento total dos seus projetos e objetivos. A impulsividade presento no desejo de fuga da realidade constitui mais externamente a principal característica do “frequentador de Cristo”.

 Sim, “frequentador de Cristo” por sua característica inconstante (que só o quer de vez em quando), usando estas “fugas em Cristo” para ocultar problemas mais profundos em sua alma. Fogo de palha para aquecer o frio da necessidade de uma identidade coletiva, ser aceito, supor-se amado.

 Caracterizada pelo comportamento de manada (no caso rebanho), seguir para fugir é como torcer por um time de futebol ou pertencer a uma escola de samba, torcida organizada etc..., ou seja, apenas ocupar seus fins de semana com um programinha legal!

 Seguir alguém sem saber para onde ele vai é uma forma suicida de depositar sobre outro a minha responsabilidade de dar sentido ao meu ponto de chegada.

  Transferir minha responsabilidade para alguém que diferentemente de mim confio que sabe onde está indo, oculta a necessidade infantil de que caso no meio do caminho me falte alguma coisa terei um síndico do meu ser, para reclamar. Afinal eu pago meu condomínio espiritual (dizí-mo com quem andas e eu te direi quem és! rsrsrs).  

 Sempre que busca realizar uma obra é com o objetivo de se destacar com palavras e não com ações. Para onde quer que fores significa:  mesmo que eu não saiba bem para onde você vai...

 Na verdade não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe!

Característica comum daquele indivíduo que está na onda do evangelho:

“levado pela maré”.

  Onde quer que fores! Para onde a onda me levar, sem conhecimento de causa ou mesmo de qual seja a causa! Estou procurando o Pastor da moda, quero saber qual é a novidade do mundo cristão:

 - Vamos marchar este ano? Qual é a próxima campanha?

- Esta igreja tem grupo de jovens? Fazem retiros?

- Já comprei o novo DVD pasteurizado daqueles americanos, você precisa ver esta nova visão mundial!  Afinal, pra que estudar a bíblia se tudo que eu preciso saber já foi escrito pelo Max DesLocato?

 A iconolatria desumanizadora dos homens.

 A trajetória das tribos israelitas no deserto é um exemplo de que seguir sem conhecimento da causa não dá garantia alguma de sucesso (ler I Coríntios 10:5).

 Moisés tinha objetivos particulares e necessidades psíquicas em aberto como qualquer pessoa. Através daquela liderança ele provaria para si mesmo que poderia liderar mais do que ovelhas.

 Questões mal resolvidas de seu passado desenvolveram em Moisés uma necessidade de ser reconhecido como um líder, mesmo sabendo não ter competência de sê-lo (Êxodo 3: 11).  Sua indefinição de identidade (causada pelo abandono da família e da inadaptação no novo lar) era tão forte que o levou a uma desesperada obsessão por respostas existenciais.

 A peregrinação pelo deserto era, na verdade, a busca de um homem por uma identidade que lhe desse um acréscimo de estima por si mesmo. Ser o líder daquele grupo era o mais próximo que chegaria de controlar sua vida.

 O que leva um homem a abandonar seus vínculos familiares mais íntimos (filhos e esposa) em busca de uma ressignificação para a vida é, decididamente, o fato de estar irreconciliavelmente infeliz com as decisões que o levaram até ali e a angustia com um destino em curso de colisão que tais decisões ocasionariam. 

 Impulsos de poder frustrados pelo insucesso na vida familiar ou, na carreira, geram distúrbios de identidade que podem ser confundidos como a habilidade de liderar, mas na verdade, ocultam uma necessidade patológica de ser o centro das atenções.     

 Moisés abandonou filhos e esposa da mesma forma que fora abandonado no passado. Ele buscou nas raízes familiares (seu irmão Arão e sua irmã Miriam), o conforto necessário para resignificar seu passado, agregando a seu destino insólito, uma característica de determinação divina. Seu irmão mais novo, Arão, assume uma função simbólica de parceria e admiração, será seu profeta. Sua irmã mais velha Mirian, sua profetiza, assim recompondo a família que lhe foi negada na infância e redescobrindo sua função patriarcal de provedor e protetor.

 A figura totêmica é deixada de lado para compreendermos melhor o homem por trás do mito. Esse processo denominado genealogia psíquica, nos permite diferenciar a verdadeira devoção do perigoso comportamento patológico autodestrutivo. A essência está em perceber um comportamento externo desassociado do interno. Explico:

 Jesus afirma que devemos amar ao próximo como a nós mesmos, portanto, uma vez que amo a mim mesmo (comportamento interno) estou habilitado a amar o próximo (comportamento externo). Desta forma evita-se a prática da fuga desesperada por alívio de uma existência religiosamente infeliz.

  Ocultar-se das decisões não é saudável, pois demonstra imaturidade psicológica.

 

 As aves têm seus ninhos, as raposas suas tocas, mas o filho de Deus não tem onde reclinar a cabeça.

 A religião não pode se tornar toca de raposa que não quer caçar, nem ninho de passarinho que não quer voar. Se esconder na toca, seja ela qual for decididamente não é a resposta. A proposta de Jesus é simples: topa viver sem toca nem ninho? É capaz de viver em paz consigo e com a vida que escolheu sem ter que se esconder, ou elencar momentos de fuga? Amor Fati acima de tudo.

 

Existe escondidos na religião um exército de pessoas que evitam a realidade sofrida da existência humana, assumindo uma deformação da sua identidade real por meio de personas (máscaras) sociais sublimadas de caretice e caridade.

 

A religião se torna, portanto, o palco onde as personas vestem as máscaras e aliviam o stress, tornando-se dependentes psicologicamente desta relação adoecida, não pela causa (aproximar-se do divino), mas sim pelo efeito (anestesia do real), adquirido no convívio com outros afetados.

 

Todo aquele que chegar muito perto deles buscando definição de identidade, recebe imediatamente uma máscara para cobrir sua indefinição insultantemente humana. Negar esta realidade é a maior prova de sua efetiva concretização. Neste teatro todos podem superar seus problemas sem ter de enfrenta-los de fato.

 

É uma terapia ao contrário onde negar o problema faz parte da cura. Na maioria das vezes os problemas são causados por nossas próprias decisões e em algumas ocasiões os problemas só existem em nossas mentes. No primeiro caso temos que encontrar outra pessoa para culpar. A religião resolve este dilema acusando o maligno e no segundo caso efetivamente passa sozinho.  Associamos a “cura” ao fato de termos ignorado os problemas de forma ”bem sucedida”. Do mesmo modo que o bebê credita à sua fome a capacidade de criar o seio que o amamenta.

 

Enganando e sendo enganados.              

 

Evangelho é viver fora da toca 24 horas por dia.