O QUE É NÃO TER TEMPO

Não é o tempo que te controla, você é que o controla, mas não sabe disso.

O que você faz e a velocidade com que você faz é que definem o teu tempo.

Desde pequenos, somos acostumados a olhar para o relógio e acreditar que ele é que domina o tempo e os dois nos dominam.

O que o relógio faz é dar passos a cada tic-tac. É a única coisa que ele faz, e sempre na mesma velocidade: o intervalo entre um tic e um tac.

Depois de várias tentativas, esse intervalo foi definido de tal maneira que 24 deles cobrem exatamente um dia - da chamada zero hora de um dia até imediatamente antes da zero hora do dia seguinte - tentando acompanhar o giro do planeta. Mas, mesmo assim, ainda não é um passo exato, por isso a variação do número de dias no mês de fevereiro e ajustes futuros que terão que ser feitos.

Se você fizer o relógio andar mais rápido ou mais devagar, em nada alterará o giro do planeta. Se o planeta, por sua vez, girar mais rápido ou mais devagar, em nada alterará os passos do relógio.

Às vezes você reclama que o tempo não passa ou que passa muito rápido. Você sabe agora que isto não está fora de você, não está no relógio, pois o passo dele é constante, imutável. Está em você.

Se a única coisa que você fizesse no mundo fosse dar passos, para o tempo "passar devagar" (o tempo de relógio) você teria que caminhar rápido - você estaria sendo mais rápido que o relógio. O tempo (do relógio) passa rápido quando você fica atrás dele, sendo lento.

Se você ficar parado, sem fazer nada, apenas observando o relógio, achará que ele é muito lento, que o tempo está passando devagar.

Esta sensação vem do fato de que "teu relógio" interno anda num passo mais rápido e, com isso, fica querendo "puxar" o relógio no mesmo passo. É a mesma sensação que você sente quando está com pressa num trânsito engarrafado. Essa sensação fica tão forte que nenhuma fila de carros parece rápida o suficiente para você.

Se você ir morrendo aos pouquinhos, começará a achar que o tempo está passando muito rápido, até que teu relógio interno pára e o relógio normal continua e se afasta cada vez mais do teu. Se você estiver morto, o tempo marcado pelo relógio "voa".

Quanto mais vivo você estiver, mais devagar o tempo do relógio vai passar, relativamente, claro, pois todas as sensações que você sente são relativas.

Quanto mais coisas você tiver para fazer, mais rápido o tempo do relógio vai passar, porque você terá sobrecarregado o teu "clock" (o relógio que controla seus passos, ou seja, que controla o que você faz - controla no sentido de você se mexer para executar suas tarefas), e o efeito é mesmo que não estar fazendo nada, estar parado.

Produzir é uma coisa (define o teu tempo), ter muitas coisas para fazer é outra (pode impactar o teu relógio).

O pior é que, no dia-a-dia, temos coisas realmente para fazer e, ainda por cima, juntamos outras que achamos que temos que fazer. O problema é que não sabemos quais são estas. É o que normalmente chamamos de preocupação (algumas com base, outras sem).

A questão é que elas existem, são adicionadas nos afazeres, são em grandes quantidades e, assim, impactam o teu dia, fazendo o tempo voar.

Brasilio/Março-2008.