O tom irreal destas proposições não indica um caráter utópico, mas sim, o vigor das forças que impedem suas concretizações

  Pergunto a você: vivemos hoje em uma democracia?

  Fica, aparentemente, difícil de responder que não, dado alguns dos episódios de passado tão recente como, por exemplo, o movimento dos “caras pintadas” ou ainda o movimento das “Diretas Já!”.  Então porque insistir com a pergunta?

 Vivemos em uma democracia? Porque estou convencido que não, não vivemos em uma democracia.

         DEMOCRACIA = Governo de TODOS, ou governança coletiva, participativa.

  Na Grécia antiga, berço da chamada democracia, a organização social era bem diferente da nossa atualmente. Eles tinham escravos, as mulheres não participavam das decisões coletivas em igualdade com os homens etc. Mas, no entanto, algo era ainda mais diferente da nossa democracia: se qualquer líder tomasse uma decisão no lugar do povo, ou seja, do coletivo na Ágora, este líder seria chamado de Tirano.

  Não havia como governar se não fosse com o apoio da maioria dos cidadãos atenienses.

  Ferramentas como as nossas Medidas Provisórias, ou o Voto Secreto, até mesmo o recurso isolador de se transferir o centro das decisões do País para o meio do deserto, seria por eles considerado tirania. Como eram atrasados estes gregos... Ou será que não?

Analisemos mais um pouco.

  Todo cidadão ateniense quando convocado deveria se apresentar na Ágora de nove em nove dias para, juntamente com outros cidadãos, tomar as medidas cautelares ou decisões vitais para a harmonia da Polis. Sem, todavia, ganhar com isto nenhum privilégio entre os demais cidadãos. Não tinham carruagens com cocheiro particular, nem dracmas à vontade em cartões corporativos, muito menos fórum privilegiado caso fossem apanhados cometendo algum delito no exercício ou não de sua cidadania.

  Conta rápida: uma vez a cada nove dias, daria em um ano de 360 dias do calendário grego, algo em torno de 40 comparecimentos anuais a Ágora.  Em dois anos eram então 80 comparecimentos.

  Nossa quanta dedicação tinham esses gregos para com sua cidade!

Enquanto eu e você vamos as urnas exercer nossa cidadania uma vez a cada dois anos eles, por sua vez, compareciam 80 vezes no mesmo espaço de tempo.      

  E sabia que os gregos tinham um nome para aqueles que não se envolviam nos assuntos da Polis? Sim, eles chamavam este sujeito de Idiotés... Todo aquele que se deixava representar por outro ao invés de, ele mesmo, ir e apresentar suas ideias ao grupo era considerado um idiota.

  Nossa!

  Então o nosso jeito de fazer democracia é muito diferente do original, pois eu pelo menos nunca fui convidado para ajudar a redigir nenhuma das nossas leis...

  E você leitor quantos vezes foi convidado para participar, junto a outros cidadãos comuns, na tomada de decisões que afetam diretamente os rumos da nossa nação?

  Quando a Dilma define as metas de inflação ela consulta o povo ou os empresários? Quando a Congresso tem que lidar com alguma decisão que vai afetar a vida de alguém do alto escalão econômico que é avisado primeiro? As escutas feitas pela Policia Federal, já nos contaram para quem eles ligam primeiro... Lobistas? Donos de empreiteiras? Bicheiros? Aos chefes do crime organizado e afins?

  Não é estranho que as pessoas que deveriam estar ali para nos representar, consultem outros, com interesses e condutas (que, a rigor, diferem totalmente dos da maioria da população que os elegeu), antes de decidirem como vão votar? E que depois da consulta feita, votarem de forma secreta, sem ter que dar satisfação a ninguém sobre sua decisão? Eu acho muito estranho.

Outra coisa estranha é o fato de sermos obrigados a votar.

  Eu acharia o máximo ir de nove em nove dias até lá em Brasília, e você?  Mas não, ninguém deixa. E temos que escolher aqueles que, a rigor, seriam os que melhor nos representariam.

  Mas, só um momento. Se eu voto nos melhores candidatos, e você também, estes compõem não um governo em que todos governam (democracia), mas sim em que os melhores governam, concorda?

  E qual é o nome da forma de governo em que uma camada que se supõe melhor toma as decisões pelo povo?

Aristocracia = Governo dos Melhores.

  Agora sim ficou claro por que eu nunca serei chamado para decidir o meu futuro. É por que eu não faço parte de nenhuma grande família aristocrática do Brasil. Então podemos dizer que o nosso jeito de fazer democracia é muito mais parecido com aristocracia do que qualquer outra coisa? Sim, eu acho que sim.

Agora ficou claro por que sou obrigado a votar. O voto é uma ferramenta aristocrática, pois, sugere uma eleição, que por sua vez implica em juízo de valor.

  Democrático mesmo seria o sorteio. Sim, coloquem o meu nome lá, em um saquinho de pipoca, junto com o seu nome leitor e o do seu pai, da sua mãe, o da Dona Serafina do apartamento 34 também! Sim, junto ao de todos os brasileiros. Eu vou querer saber tudinho que envolve as decisões sobre a politica de juros do Banco Central. Quem falou pro Guido Mantega que superávit primário é mais importante do que divisão de renda? Eu vou querer saber. E você? Quem sabe a gente não marca pra tomar um café e discutir as nossas idas o Brasília. De uma coisa eu tenho certeza ia dar muito mais orgulho de ser brasileiro...

  E finalmente, sem ter que pagar o salário daquela corja miserável do planalto, sobraria dinheiro para investir nas três refeições diárias que, hoje são negadas, as crianças aqui da minha cidade. Os presídios se esvaziariam, por que o investimento em educação do Brasil seria igual ao da Suiça. Ninguém mais fumaria crack nas ruas, ou em qualquer outro lugar, por que teríamos dinheiro suficiente para recuperação dos atuais adeptos que você e eu conhecemos. Planos de saúde iriam à falência, pois, o sistema público de saúde daria conta do recado, e de graça! Ninguém mais iria morrer na fila INSS antes de se aposentar, por que nós, eu e você leitor, nunca deixaríamos isso acontecer como eles deixam todos os dias. Teríamos ônibus e Metrô de graça, pois o dinheiro dos impostos não iria parar nas nossas roupas íntimas é ou não é?  

  Ninguém é melhor do que você, para decidir quais são as suas prioridades, por que então deixar a cargo de outra pessoa o ato de representa-lo? Só pra ter o prazer de ser um idiota!

  Você vota, eles roubam. E dizem que você é que não soube votar.

O voto, na democracia representativa, é uma ferramenta da aristocrática que serve aos poderes dos mais abastados.

  Qual seria então o ideal? Simples, plebiscitos eletrônicos!

Você certamente carrega um ou mais celulares com você, e sabe bem o que é uma assinatura eletrônica a chamada senha? Pois bem, eu e você podemos exercitar nossa cidadania através destes meios eletrônicos.

Liberdade Política significa:

Libertar os indivíduos da política sobre a qual eles não têm poder nenhum.