INTRODUÇÃO

 

"Uma instrução pode ou não se apresentar como uma instrução. Enquanto a informação é mais abrangente, a instrução visa propor procedimentos, mas excluir as circunstâncias dessa diferença, um instrutor ensina e um bom professor também ensina". (ANTUNES, Celso. Professores e Professauros. 2007:29).

Esta obra é um ensaio de uma exposição mais profunda que pretendemos realizar, que de início estará sendo apresentada ao curso de licenciatura em Pedagogia da Faculdade de Itaituba, onde atualmente estamos cursando o quinto período desta área.

Esse relato é fruto de um longo trajeto de vivências e reflexões: como alunos estudantes de magistério que fomos como professores e diretores de escola de educação básica e como estudantes em Pedagogia. Os relatos dessa  trajetória pela educação visam externar nossas inquietações e anseios, os quais não vão muito além das ideias de um profissional que esteja inserido nesse mesmo contexto.

ANDERSON ONETTA

Ensino Médio: Um ambiente de Incertezas.

No final da década de 1990, ingressei nos estudos do ensino médio. Naquela época ainda era ofertado o ensino técnico de Educação na área de magistério, na verdade era a única opção que tinha, e quase sem saber estava sendo capacitado para ser um professor.

A princípio uma experiência, muito importante, onde tive a primeira oportunidade de aprender com profissionais com formação acadêmica adequada para cada disciplina e nível de ensino, uma vez que no ensino fundamental não havia professores com formação acadêmica adequada.

Jamais me esquecerei das aulas de História Geral da Professora Nazaré Reis, com suas colocações críticas que aos nossos olhos eram uma distorção do que antes havíamos aprendido no ensino Fundamental nos estudos da chamada (História Tradicional).

Incansavelmente me perguntava o que estava fazendo, estudando Magistério, uma área específica, quando nem se quer sabia ao certo qual profissão almejaria.

Esta é a realidade do ambiente deste nível de ensino, a maioria dos colegas ainda não tinha decidido que rumo tomar em sua carreira profissional.

Foram muito marcantes as experiências vividas ali, lembro-me que quando entramos na fase de estágio de observação e regência de classe fiquei muito entusiasmado com aqueles meus alunos já me chamando de professor. Ainda hoje, mais de vinte anos depois, quando me veem carinhosamente me saúdam assim. Muitas vezes cheguei a dizer, durante os estágios, que aquela era a profissão que eu gostaria de exercer.

No ano de 1999, estava eu cursando o terceiro e último ano do Magistério. Foi muito difícil, pois estava trabalhando na gerência de uma das maiores madeireiras da cidade, recordo-me que era muito difícil conciliar trabalho e estudo, e estava a ponto de desistir dos estudos.

Foi um dos anos mais difíceis de minha juventude, não queria abrir mão do meu trabalho, era um dos melhores cargos oferecidos na pequena cidade de Trairão no Oeste do Pará a oitenta quilômetros de Itaituba.

A professora Zelli Antonieta Mazzaro Onetta, minha professora de ensino fundamental e tia, trabalhava naquela mesma escola, e entre os cargos de professora secretária, diretora, entre outros cargos, já atuava na educação havia mais de uma década, um dia estando em sua casa ouvi suas queixas, sobre as imensas dificuldades que enfrentava, fiquei decepcionado, entre suas reclamações e em conversa com a família descobri que o meu salário era quase três vezes maior que o dela.

Isso marcou um momento importante da carreira de um estudante, daquele dia em diante estava decidido, já tinha provado o sabor de ministrar uma aula e que apesar do prazer não era nada fácil. Então, cheguei a uma conclusão, que não valeria esforço para ser alguém que não tinha a devida valorização profissional.

JUCILENE ONETTA

 

Foi no ano de 2008, após dez anos longe da sala de aula que voltei a estudar não porque optei em ficar longe dos meus estudos, mas porque escolhi naquele momento ser mãe. Na vida tudo tem que ter planejamento e foi isso que fiz ao engravidar do meu primeiro filho, decidi sair no quarto bimestre nas primeiras avaliações da sala de aula do terceiro ano do ensino médio.

Decidi então, que teria meus três filhos e depois terminaria meus estudos. No início me perguntava se seria interessante voltar a estudar uma vez que a ideologia de estudo para mim era para ser “alguém na vida” e eu já era esse alguém, eu era esposa de alguém com um trabalho invejável que recebia tanto por tão pouco,

Entendi na minha pobre ideologia que já tinha tudo, mas o tudo um dia teve fim e agora para  conseguir trabalho teria que ter formação para competir com outros candidatos que estavam preparados enquanto eu não estava. Foi ai que decidi mais uma vez voltar a estudar. Tudo era mais difícil, com três filhos, o esposo desempregado tudo me fez repensar. Minha ideologia de vida estava errada e procurei me atualizar. Dois mil e oito foi um ano em que os dias passavam tão depressa que mal podia descansar como fazia anos atrás.

Neste ano eu era mãe, esposa, aluna, trabalhadora autônoma e no mês de setembro de dois mil e oito fui convidada para ministrar aula no Jardim II na escola Pequeno Príncipe na cidade de Trairão, foi uma tentativa frustrante a qual não queria repetir pelo resto de minha vida.

Como a vida é uma escola, aprendi que as oportunidades aparecem e devemos estar preparados para as experiências que a vida nos proporciona viver. Foi devido às necessidades que abracei a oportunidade que a vida gentilmente me proporcionou. Ser professora do 2º ano na Escola Municipal Ieda Maria Gomes Barbalho no segundo semestre do ano de 2010, me fez reavaliar meus conceitos quando a tarefa de ministrar aula sem formação e sem orientação alguma. Foi a experiência que tive durante dois meses na creche Pequeno Príncipe que me deu base para resistir as críticas e a rejeição por parte dos “Professores formados e Concursados” e a decisão de provar a mim mesma que era capaz de mudar a visão ultrapassada e tradicional daqueles PROFESSAUROS pequenos diante da minha vontade de crescer, vencer e deixar minha assinatura nas páginas da educação da Comunidade do Creporizão com a sabedoria que meu Deus tem me da  dado até aqui.

Tudo o que conquistei até aqui foi debaixo da graça do Deus que me fez vencer. Essa graça foi bastante para que eu conquistasse  ainda que sem formação superior a gestão do Centro Municipal de Educação Infantil Ucholândia o qual atuei por dois anos. Esses dois anos me proporcionou aprender a amar a Educação Infantil, em todas as suas entrelinhas, aprendi em um mês alfabetizar trinta crianças com idade entre quatro a cinco anos, um desafio gratificante e marcante na minha carreira qual tenho certeza que ainda não encerrou.

Uma carreira profissional não termina devido a mudança de gestores Municipais, não encerra devido as críticas, mas, se fortalece a cada barreira que surge com intuito de atrapalhar. O que aprendi com meus pequenos sábios durante esse período não há doutor na terra que tire de mim, pois foram aprendizados que guardarei por toda minha vida. São experiências e aprendizagem que adquiri com meus próprios erros. As críticas me ajudaram a tornar-me um profissional mais humano, mas compreensivo conhecedor da realidade que vivenciei durante o período que a “Vida” me proporcionou aprender e a contribuir com os ensinos que ministrei.

  CAPÍTULO II

 

 

2.1- Primeira Experiência na Educação: Um Choque de Realidade.

Não é nada fácil para um estudante investir toda uma energia, esperança em uma formação e ter como incentivo a desvalorização daquilo que sempre sonhou, sua profissão. É desgastante, mas como vimos o professor ainda não é reconhecido como parte integrante da base profissional.

A sociedade atual não reconhece o trabalho do mestre em educar, não confia no profissionalismo capaz de orientar o homem em seus diversos caminhos. A educação nos proporciona a aprender. Aceitar o diferente é tarefa de quem sabe ensinar e ensinar é só para quem sabe aprender.

Aprendemos a ensinar de uma forma tão desanimadora. Na teoria tudo era prático e fácil de aplicar, mas quando vivemos a teoria é que descobrimos a perfeição de ser um humano capaz de aprender com os próprios erros e de acertar errando.

Após dez anos de conclusão do ensino médio, tivemos a oportunidade de sermos contratados para aturamos como gestores da educação no Creporizão. Sem experiência e sem formação para exercer o cargo, aceitamos o desafio devido a necessidade que estávamos enfrentando para criar e educar nossos três filhos.

Em fevereiro de 2011 recebemos a direção da educação no Creporizão. A educação passava por um período tenso de transição de governo, a comunidade vivenciava a saída de alguns profissionais em formação como também do gestor com competência ao cargo de gestor e a chegada de um grupo de profissionais com apenas o ensino médio completo.

Foi difícil começar sendo excluído, com rejeição da maior parte dos professores atuantes, dos pais, dos empresários que ditam as regras em uma terra onde eles fazem a lei. M as, confiando e crendo em um Deus poderoso continuamos sem apoio da sede de educação do município, sem experiência, mas com uma certeza, teríamos que aprender a vencer todos os obstáculos e lutar ainda que sozinhos mais com o pensamento de vencer e não desistir.

Trabalhamos dois anos na gestão, o primeiro ano não foi fácil, aprendemos a ensinar com a metodologia que cada criança, que cada família, que cada pai necessitava. Com as experiências diárias vivenciadas dia a pós dia as quais nos fazia crescer não em superioridade, mas em aprendizagem.

Foi essa aprendizagem que adquirimos durante todo o período letivo em que atuamos como gestores. São ensinamentos de vida, dos próprios erros e incertezas os quais procuramos melhorar para atender as necessidades da clientela que direcionávamos.

Não foi fácil aplicar os conteúdos quando não se conhecia os conceitos, as metodologias propostas por uma Lei que desconhece a realidade. Tivemos que lutar contra o preconceito sobre nossa formação, nossa religiosidade, tivemos que aprender uma nova maneira de ensinar. Foi devido a essa nova aprendizagem que trabalhamos as problemáticas existentes na educação da comunidade do Creporizão.

Dentre essas problemáticas estão a evasão escolar, a desistência da EJA, a ausência dos pais nas atividades da escola, a falta de um orientador pedagógico, etc. Eram tantas as questões para nós resolvermos que muitas vezes faltava-nos tempo para a educação de nossos filhos, educação que só os pais podem ministrar sem interferência de terceiros.

A interferência da família na educação de nossos filhos levou-nos a fazer mais uma escolha, optar que nossos filhos ficassem com avós enquanto trabalhávamos, e essa ausência fez com que repensássemos sobre a base do aprender que hoje temos a certeza que é a presença da família.

Sem a presença dos pais na educação dos filhos não há resultados positivos na aprendizagem, não há apoio, não há sustentação. Os esteios da educação na nossa concepção hoje é a presença de Deus na família, a escola como ampliadora do saber e a comunidade como divulgadora. Mesmo sabendo que essa própria comunidade seja a principal crítica e muitas vezes para ferir os princípios moral particular de “aguem”.

4 - Ambiente Acadêmico: O Entusiasmo de Se Ver Novos Horizontes.

 

 “O professor pensa ensinar o que sabe o que recolheu nos livros e da vida, mas o aluno aprende do professor não necessariamente o que o outro quer ensinar, mas aquilo que quer aprender."

(Affonso Romano de Sant’Anna)

Com base nessa citação, vemos a importância de não se esperar apenas o que vem pronto, mas sempre buscar o novo, questionar as verdades científicas, pesquisar para entender e entender para pesquisar o que se quer descobrir sobre o mundo.

Foi diante desse entendimento que procuramos descobri como trabalhar os conteúdos programáticos dentro da escola, quais os métodos a serem aplicados na educação de forma a favorecer a aprendizagem do aluno, quais os parâmetros, queríamos de certa forma uma orientação superior para orientar-nos sobre essas questões.

E foi no ambiente acadêmico que nos encontramos. Descobrimos a cada período a plenitude de ser professor, a dignidade de se entender as diferenças, a humanidade de ser igual a todos.  E saber que no primeiro momento foi frustrante, mas no final foi uma experiência prazerosa e gratificante para nossa formação quanto profissionais da educação que seremos por toda a vida.

Nosso ingresso ao curso de pedagogia foi por necessidade de mantar o trabalho e por falta de opção de curso, mas hoje somos agradecidos por não encontrar outro curso e hoje poder cursar pedagogia que para nós está sendo gratificante. Esperávamos mais para um curso superior. A cada período saímos frustrados por ver que na maioria das vezes nossos “mestres” são também alunos terminando a graduação sem muita experiência na área. Entendemos todos e ao analisar porque isso acontecia descobrimos que a nossa instituição de ensino superior, é na verdade um laboratório de troca de experiências, de aprendizado com os relatos que acontecem na prática no dia-a-dia de cada professor que também é aluno.

Essa troca de experiência é importante para nossa formação, pois são nesses encontros que descobrimos mestres na área de educar, de transmitir conhecimentos através das experiências adquiridas na prática e muitas vezes sem orientação pedagógica.

Na academia estudamos as teorias, porém é na pratica que aprendemos desenvolver as metodologias necessárias para o nosso crescimento profissional dentro da educação. O Entusiasmo de Se Ver Novos Horizontes dentro do ambiente acadêmico proporcionou-nos os conhecimentos teóricos, os fundamentos científicos, as Diretrizes e normas da educação.

Foram esses direcionamentos que nos conduziram a atuar durante dois anos como gestores de escolas diferentes sem formação acadêmica.  A vontade de ver novos horizontes levou-nos a buscar informações, descobrir conceitos, conhecer as normas e regras para se aplicar os conhecimentos com objetivo de proporcionar aos nossos liderados a vontade de crescer também, de ir mais além, de não querer apenas um certificado como comprovante de saber, mas ser um pesquisador e divulgador das problemáticas que somente nós enquanto professor conheceu e vivenciou diariamente em nosso trabalho.

Não há formulas exata para se educar alguém, os métodos são variáveis. A educação é um princípio que vem de berço, são critérios da família, é o alicerce do ser humano. Daí a importância de passar pela escola, pois é na escola que o ser humano é lapidado de acordo com os métodos aplicados, de acordo com sua vontade de querer sempre mais. Há porem, alunos que preferem o tradicional, o saber ler, escrever e ter um certificado pra comprovar tal aprendizagem, mas não são questionadores, críticos, aceitam o que lhes é imposto sem nenhum questionamento apenas como verdade absoluta.

Por sermos criaturas críticas e questionadoras das verdades existentes, muitas vezes fomos taxados de bandoleiros dentro da academia que esta nos formando, mas como não ser crítico quando um professor a nível superior diz “que a seringueira da Amazônia veio traficada por Ford da África do sul e que Ford nunca sequer pisou os pés no Pará” (?), como não questionar “ciência” como esta? Estamos em uma Faculdade para estudar o que nos passaram como verdade, mas se somos pesquisadores porque não questionar quando conhecemos também a verdade que ainda é desconhecida, mas que pode vir a ser comprovada uma vez que estamos em um ambiente acadêmico, um centro de pesquisadores da realidade.

  

CAPÍTULO II

 

O que é Ensinar?

 

 [... Ensinar quer dizer ajudar e apoiar os alunos a confrontar uma informação significativa e relevante no âmbito da relação que estabelecem como uma dada realidade, capacitando-o para reconstruir os significados atribuídos...] (ANTUNES, Celso. Professores e professauros. 2012: pg.29).

De acordo com essa citação, ensinar é contribuir para que o aluno aprenda de forma crítica, revendo conceitos e sendo construtor do seu entendimento. Ensinar é uma arte criativa do ser humano, pois é nessa arte que recriamos conceitos de acordo com nossa realidade para então entendê-los.

         É de acordo com essa realidade, enquanto professores, que redesenhamos uma nova maneira de ensinar, de transmitir os conhecimentos adquiridos que proporcione ao aluno uma maneira fácil e interativa de aprender.

Sobre isso, Antunes conceitua:

“Aprender é um processo que se inicia a partir do confronto entre a realidade objetiva e os diferentes significados que cada pessoa constrói acerca dessa realidade, considerando as experiências individuais e as regras sociais existentes”. (ANTUNES, Celso. Professores e professauros. 2012: pg.32).

O professor enquanto orientador do saber deve conhecer as problemáticas existentes na comunidade onde trabalha na sua turma e de cada aluno que ensine, pois, conhecendo essas dificuldades conseguirá estudar uma metodologia para alcançar o objetivo de seus conteúdos propostos durante o ano letivo. Se o professor não procurar conhecer a realidade onde está inserido, dificilmente conseguirá atingir um ensino de qualidade.

3.2 Como saber se o aluno aprendeu?

 

   Vivemos em uma sociedade que ainda cultua o tradicional e por manter essa ideologia muitos professores ainda acham que para medir o grau de aprendizagem de seus alunos é preciso avalia-los com provas bimestrais, um verdadeiro resumo do que se ensinou durante dois meses.

Uma avaliação que exclui saberes, que diminui o potencial da criança e ridiculariza o conceito de aprendizagem. Ensinar é proporcionar ao aluno um momento de aprender com seus questionamentos, suas dúvidas diárias. Avaliar o aprendizado é contínuo e se apresenta em todas as oportunidades.

Nesse processo, o professor é mentor dos estímulos o qual leva o aluno a confrontar seus progressos consigo mesmo e com seus colegas. Não há uma formula pronta para se avaliar aprendizagem, a melhor maneira é orientar e direcionar o que se quer aprender.

  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

É chegada a hora de dizer o quanto foi gratificante elaborar um relato sobre o que é ensinar em nossa trajetória quando também estamos aprendendo.

Ficamos felizes por saber que o desafio de escrever este pequeno relato nos trouxe a vontade de aprimorar este conteúdo e depois de avaliado trabalhar dentro dos padrões e quem sabe lançar esta obra para que outras pessoas possam conhecer um pouco da nossa história.

Agradecemos a incentivadora deste projeto, Proª. Sonia Caetano, que acreditando em nosso potencial, desafiou-nos a escrever sobre o tema proposto nosso entendimento sobre o assunto abordado na disciplina que ministrou no 4º período de Pedagogia da Faculdade de Itaituba.

BIBLIOGRAFIA

 

ANTUNES, Celso - Professores e Professauros: reflexões sobre aula práticas pedagógicas diversas / Celso Antunes. -6.ed.Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.