O QUE É DEUS V

Deus é apenas um desejo do homem de ser bom, mas, uma boa parte dos homens acham que ser bom é ser fraco e, então, escolhem serem maus porque, como ligam o bom ao fraco, acabam por ligar o forte ao mau.

Deus é apenas um desejo daqueles que tem preguiça de andar com as próprias pernas, então estendem as mãos preguiçosas ao desejo preguiçoso.

Deus é apenas um medo daqueles que escolhem não seguir a sua natureza, daí negam o seu eu e criam outro eu maior que os castigará caso sigam sua natureza.

Deus é apenas um adversário fictício a ser desafiado por aqueles que nada respeitam. Apesar de temerem, também teimam.

Deus é o fiador falsificado daqueles que são pressionados a entregarem seus bens para as igrejas e, também, o carrasco, caso elas neguem.

Deus é o juiz inconsciente daqueles que roubam e matam em Seu nome.

Deus é a ordem global criado como necessidade de contrapor a desordem e o caos local.

A única essência é a mente. Sempre foi, sempre será. Ela nasce e morre (pelo menos na visão dos que continuam vivos). No meio tempo, espera-se que ela faça algo produtivo para si mesma e para os que estão vivos com uma mente atuante ou não.

Os improdutivos apenas nascem e morrem. Ou nascem, prejudicam e morrem. Ou nascem, criam fantasias para prejudicar e morrem.

O homem é inerentemente preguiçoso, improdutivo. Ele não busca a paz com seus semelhantes, mas, apenas o conforto e a satisfação própria, que acabam por destruir o que ele tem de bom (a vontade de lutar) e por expor a sua face má que está sempre presente. Ele deseja um deus apenas para livrá-lo de suas obrigações, para carregar o fardo que é seu.

Não precisamos de um deus, precisamos é de um demônio, pois, só a dificuldade é que nos faz bons, faz crescer em nós o desejo e a força para lutar contra as nossas adversidades e as adversidades enfrentadas por nossos semelhantes, nos faz mais solidários. Isso é estranho, pois, indica que é o mal que faz a nossa bondade transparecer. Parece-me que o mal (preguiça, desinteresse, egoísmo) em cada um nos separa, enquanto o mal enfrentando por todos nos une. É por isso que precisamos de um demônio contra quem lutar e não um deus que faça tudo por nós.

Estamos muito distantes de merecermos um deus infinitamente bom e misericordioso. Ainda temos que lutar muito, muito mesmo. Não contra si mesmo ou contra os outros, mas contra os demônios internos e externos, que são as dificuldades e as mazelas que nós mesmos criamos.

Brasilio – Março/2014.