Um cientista, o que ele faz? A ciência é cega, surda, muda e sem percepção para com o que ela não abarca, ou seja, diante de algo que não seja real, verdadeiro e comprovado. De fato um cozinheiro cozinha, o jardineiro cuida do jardim e o barbeiro corta cabelo e barba, entretanto, estão intrínsecas ao cientista as teorias de experimentação, propondo declarações, ou sistemas de declarações, testando passo a passo, como já foi definido por Karl Pooper, um filósofo da ciência que estuda o que um cientista faz.
Em falar do filósofo Pooper, por que o seu estudo é designado por Filosofia da ciência e não somente filosofia? A filosofia não é ciência. Por mais que abarca muito mais, demasiadamente tantas e tantas áreas do conhecimento, traçando o caminho e iluminando as buscas científicas, indo além da ciência, não é ciência. O cientista trabalha com teorias e hipóteses, mas que sejam matemáticas, definidas e verdadeiras. A filosofia questiona tudo, às vezes parece ter solução para tudo, no entanto, muitas das vezes, senão na maioria das vezes, não consegue sistematizar, classificar e definir, fugindo e não segurando o que a ciência quer, verdades definidas e comprovadas. É aquela relação de Manoel de Barros: "A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá, mas não pode medir seus encantos".
A centopéia nunca se atrapalhou ao andar com as suas tantas pernas, porém, a partir do momento que foi questionada, se ela já tinha indagado sobre qual perna ela mexia primeiro, ao andar e pensar, ficou paralítica. O cientista não pode agir de maneira apenas natural e automática, como faz as centopéias, sem se dá conta do que está sendo feito, do que está a sua volta. Mesmo que fique paralítico, mesmo que fuja do jogo dos sentidos, ele não pode dissimular, enganar e fugir das imagens fiéis da realidade. As palavras são os olhos da ciência. Não as palavras do jogo de risos das piadas, ou das imposições de um sargento para com os seus soldados, mas as palavras no jogo de linguagem do cientista, não qualquer palavras, mas aquelas que a ciência consegue segurar, deixando passar aquelas que a ciência não pode dizer.
O que o cientista faz e tenta assegurar, portanto, são os reflexos da realidade, as declarações ou sistemas de declarações num jogo de palavras que são passíveis de comprovações, métodos, classificações e sistemas precisos; cego para o que não se consegue "pegar" e que sejam necessárias outras redes para abarcar o que cai, mas que assegure o jogo da ciência, o qual o cientista joga.