O QUE É AGRESSIVIDADE

Por que somos agressivos? Por que a agressividade parece maior naqueles dos quais esperamos mais calma, mais amor? É que estamos sempre desarmados perante eles. Temos plena certeza que virá o abraço, mas vem o tapa. Isso nos pega de surpresa. Por estarmos desarmados, haverá um aumento relativo da agressividade. E, também, quanto mais sensível você for, maior ela te parecerá.

Um leão selvagem é agressivo? Você dirá que sim. Mas ele sempre é agressivo. Sempre. Porém, uma pessoa calma não é sempre calma. Quem é mais normal, mais coerente? Agora você dirá que o leão é mais normal.

Sim, é da natureza do leão ser agressivo. Qualquer ser que não seja da família dele é considerado uma ameaça. Então, muitos animais, como o leão, não são agressivos no sentido de ter ataques de agressividade. Eles são constantes. Quem tem ataques é inconstante.

Um dos seres mais agressivos, por ser inconstante, que existe é o homem. E mais: muitas vezes ele escolhe ser agressivo. Quando ele não escolhe, é escolhido. É o que ocorre com a maioria: é escolhido por um segundo eu, que escolhe ser agressivo para com outrem porque se sentiu inferiorizado de alguma maneira.

Isso acontece todos os dias e todas as horas. É o jogador do time A que leva um drible desconcertante do jogador do time B (e nem precisa ter torcida contra ele – que dá risada, ou a favor – que manda ele quebrar o outro. Ele é sua própria torcida. Ele cria essa torcida que o incentiva ao revide desproporcional); é o motorista no trânsito que leva uma fechada de um segundo motorista em relação ao qual ele tinha sido bondoso minutos antes, informando que a porta do carro do segundo não estava bem travada. Aliás, é no trânsito onde se vê a maioria das demonstrações de agressividade, porque, além dos escolhidos, ali se juntam os que escolhem ser agressivos.

Os que escolhem ser agressivos são casos psiquiátricos, são constantes. São como leões. Veem ameaça em tudo e em todos. Como não são animais, são doentes.

Se estão sozinhos no trânsito, por exemplo, ou têm receio da reação dos outros, agridem o próprio carro ou a família quando chegam em casa.

Mas, e os constantes, os que acham que perdem? Por que assumem que o outro os querem prejudicar? São adivinhos? Não imaginam que o outro pode estar com alguma dificuldade. Em vez de tentarem ajudar, querem é fazer com que o outro desapareça, querem prejudicá-lo de propósito.

Quando se veem frente a frente com o “inimigo” recuam, se arrependem, ou aumentam sua agressividade sem controle, conforme a reação (inversa) do outro: se o outro está calmo, está rindo dele, debochando; se o outro é agressivo, está apenas confirmando a suspeita inicial; se o outro está devagar, o está bloqueando de propósito; se o outro liga o farol alto, está querendo cegá-lo; se o outro buzina atrás de si, o está pressionando. Se o outro vocifera algo, o está distratando em público, mesmo que não haja público. É muito comum o enfrentamento terminar em morte.

Quem sai para o trânsito deve estar ciente de que vai partilhar espaço com outros veículos, com outras pessoas e com sinais. É um preço que tem que ser pago em troca de estar no transito.

É a mesma coisa que viver. Querendo ou não, você trava uma batalha constante pela vida, onde as vias de seu organismo fervilham com substâncias indo e vindo, com sinais internos e externos (suas reações ao exterior) afetando seu trânsito interno. Se cada elemento de seu organismo se revoltar com essa situação, o organismo todo entrará em colapso.

Por que pais agridem filhos? Porque projetam nos filhos as suas fraquezas, as suas incapacidades de resolverem problemas e, ao mesmo tempo, aproveitando-se da fraqueza natural da criança, procuram derrotar suas próprias fraquezas através da agressão a elas.

Com isso, apenas acrescentam mais um item em suas fraquezas: a covardia. Transferem para a criança a sua culpa e as violentam querendo parecer fortes para si mesmas. Agindo assim, mostram exatamente o oposto do que desejam. Todo covarde deveria procurar a sua culpa no espelho, pois lá ela vai estar.

Quando não tem criança, ou quando crianças não são suficientes, agridem o companheiro ou a companheira, e mesmo animais e coisas inanimadas. Só não agridem a si mesmos, pois não são doentes, são apenas covardes.

No mesmo grupo se enquadram os agressores de animais, por um prazer doentio ou para parecer grandes para si mesmos. Dão uma importância aos animais que, no fundo, é maior que a importância que eles próprios têm. Por outro lado, como dito, os animais agridem para se defenderem ao serem acuados e maltratados. Eles sofrem isso realmente, enquanto o homem mentaliza estas situações, doentiamente ou não, como aquele que agride no trânsito.

E, por que algumas crianças são agressivas, mesmo tendo pais não-agressivos e nem vivem em ambiente agressivo?

Mesmo crianças que vivem num ambiente agressivo nem sempre se tornam agressivas. Então, o ambiente não é importante. Mas, o que faz com que algumas sejam agressivas?

O que as fazem serem ou ficarem agressivas são as mesmas coisas que fazem com que adultos fiquem agressivos. Muitas têm até mais motivos que os adultos, principalmente se elas têm irmãos. É normal numa criança o ciúme em relação a outras crianças ou aos próprios irmãos. Quando acham que o pai ou mãe dá mais importância ao irmão ou à irmã, ficam agressivas pois relativizam o tratamento dos pais e consideram para si exatamente o oposto que o irmão ou irmã está recebendo. Muitas vezes esse sentimento está sempre com ela. Outras vezes, é um sentimento que depende de um contexto ou de um momento específico. A vantagem da criança sobre adulto é que ainda há esperança para ela acabar com sua agressividade, pois ainda tem tempo para desenvolverem sua compreensão.

A agressividade deixa transparecer um complexo de inferioridade, seja consequente de uma doença ou não, seja em homens ou em animais. O complexo sempre se manifesta diante de uma ameaça, seja ela real ou imaginada pelo agressor.

Brasilio – Agosto/2008.