O QUE É A PERDA

Cada dia que você amanhece é um ganho.

O que podemos perder? Só podemos perder a única coisa que nos pertence: nossa vida. Ou nada perdemos ou perdemos tudo. Não há como perder pouco ou ganhar pouco. Nada perdemos quando amanhecemos vivos. Perdemos tudo no instante em que morremos. Nesse momento perdemos tudo o que não nos pertence e a única coisa que nos pertence: nossa vida.

Por que, então, sentimos muita dor ao perdermos alguém próximo (quando alguém próximo de nós perde tudo)?

Por que só sentimos a perda, não sentimos o ganho? É egoísmo?

Será que podemos sentir a nossa própria perda? Alguém sentirá tua perda?

Se nossa vida se confunde conosco, ela é nós e nós somos ela, como é possível perdê-la? Perdemos uma coisa quando ela é desligada de nós. Nossa vida não pode ser desligada de nós, porque não somos uma coisa e ela outra coisa; somos um e uma única coisa. Assim, não há como perder nossa vida, nós somos o que se perde.

Só saberemos que sentimos nossa própria perda no dia que nos perdermos. Mas, se não se pode desligar uma coisa da outra, só fica uma alternativa: Não há como sentirmos nossa própria perda, porque, se continuarmos sentindo após a morte (quando os outros nos perderam), não sentiremos nossa perda; se, porém, nada sentirmos, se nos perdermos no nada, também não sentiremos nossa perda.

Enquanto vivos, podemos sentir a perda, mas só a perda daquilo que não nos pertence e daquilo que achamos que nos pertence de alguma maneira, sem, na verdade, pertencer. Assim, pode ser que alguém sinta, sim, a tua perda, quando você desaparecer.

Sentimos mais a perda do que o ganho, porque tudo que ganhamos nos completa de alguma maneira, seja um objeto ou seja um ser. Quanto mais parecido conosco for esse ser, mais ele nos completa e sua perda é como um pedaço arrancado de nós, o que causa dor.

Então, se, de alguma maneira, estivermos completos não sentiremos a perda de nosso pai, mãe ou filho? Sim, sempre sentiremos, uns mais, outros menos. Na verdade, quanto mais afastados estivermos de nossos pais ou nossos filhos, menos sentiremos porque, na verdade, estamos muito incompletos. Não existe uma outra maneira de nos completarmos sem ser com outros seres semelhantes a nós. Quanto mais próximos de nós, mais próximas suas almas estarão da nossa, como que se tornando uma única alma, cada uma se tornando um pedaço da outra. Quando esse pedaço é arrancado, dói. Quanto mais próximo, quanto mais ligado, maior será a dor.

Perda é se afastar, perda é odiar, perda é não amar. Este nada sente, pois está perdido, e ninguém sentirá essa perda. Perder é sentir a intensidade da proximidade, a intensidade do amor. Às vezes sentimos uma dor mais intensa porque damos mais importância ao que nossos sentidos captam do que ao que nosso coração sente. O coração nunca sente a perda, porque nele só há acumulo, seja de amor ou seja de ódio.

Aquele que tem o coração cheio de ódio não sente o próprio coração. Aquele que tem o coração cheio de amor, precisa sentir mais o seu coração do que os seus sentidos. Aí, ele sentirá uma dor da perda, mas, ao mesmo tempo a sentirá como uma espécie de alegria, pois sentirá uma presença em seu coração daquele que se perdeu.

Brasilio - Julho/2010.