O QUE É A FELICIDADE II

Por que você, que chegou aos 60 anos de idade, olha-se no espelho e se sente infeliz ao lembrar que olhou-se no espelho há 35 anos e viu uma imagem tua que te faria feliz exatamente agora neste instante? Há 35 anos você sentiu a felicidade que deseja sentir agora ou essa falta de felicidade te acompanhou desde lá até aqui? Mais: como você pode fazer esta comparação se o que era feliz ficou lá atrás, já acabou? Não se sente falta do que não se tem e nem se teve. Se teve, ainda tem. Será que a felicidade da qual você sente falta acabou mesmo? Não, não acabou. Não, o que te acompanhou até aqui foi a felicidade. Por ela estar aqui é que você consegue fazer a comparação. O que mudou é que você agora olha para isso, procura a felicidade em você, mas procura no que você vê no espelho e não no que o espelho te mostra. O feliz é aquele que o espelho mostra e não o que você vê mas não quer ver. Você se vê agora lá no passado, mas não via a sua felicidade quando estava lá. O espelho te dá a oportunidade de olhar para tua alma ao olhar para o teu corpo refletido, para aquele que vê a imagem do corpo no espelho e pensa no que gostaria de ver. Neste momento você já está vendo, mas quer transformar o corpo naquilo que você está vendo sem ver no espelho.

O que você vê não materialmente é o que você é, sempre foi e sempre será. O que você vê materialmente é o veículo que te trouxe até ali. Se ele te trouxesse até ali sem se desgastar, ele não seria material e você não mais estaria onde está agora.

Não olhe para o veículo, olhe para o piloto. É no piloto que fica a felicidade construída ao longo da jornada. É ele que guia o veículo ao longo da estrada da felicidade ou da infelicidade, carregando e descarregando amor ou carregando e descarregando desamor. O saldo pode ser visto a qualquer momento quando você olha no espelho. Se ao olhar, você se sente infeliz, querendo trazer do passado uma felicidade que você pode não ter carregado, das duas uma: você não está olhando para tua alma ou não carregou felicidade no passado. Em qualquer caso, o que estiver faltando dará a medida do que você vai sentir.

Então, ao olhar no espelho e ser ver velho, acabado, não se sinta infeliz. Ao contrário do que você possa pensar, todos os sinais que você vê agora, dão a medida exata do que você carregou. Na verdade, só existe carregamento. Se você carrega amor, tua carga de amor aumenta; se você descarregou amor, tua carga de amor aumenta. Em qualquer outro caso, tua carga de amor fica estacionária e é essa diferença que você vai sentir no futuro.

Você está velho, não pode mais cantar? Não importa, você cantou no passado e suas canções estão nas mentes das gerações futuras. Você carregou e descarregou amor.

Você teve alguém e não pode ter mais ninguém? Não importa, pois você teve alguém e, mais importante, existem infinitas maneiras de amar e nem todas são físicas. E nem todas precisam ser diretas. E nem todas precisam ser de pessoa para pessoa.

Da mesma maneira, ao olhar para aqueles que te embalaram os sonhos e a alma no passado e os verem velhos e acabados, louvai-os pelo amor que te deram, mesmo sem o saberem. De outra maneira, o que, para você, pareceria infelicidade para eles, será apenas para você. O que você vê, como se fosse uma imagem de espelho deles, nem sempre vai ser o que eles veem de si mesmos e, em qualquer caso, não vai transformá-los no que você vê. Eles são o que você acha o que eles deveriam ser agora. Basta olhar.

A felicidade é filha do amor e, tal como ele, quanto mais é dada, mais cresce. Ser angelical é entregar felicidade para tudo e para todos, mesmo que seja por um breve período de tempo humano. A medida não é a mesma para o tempo celestial. Anjo não é um ser, é um momento. É ato, não é imagem. Quem foi anjo para você, nunca deixará se ser anjo, mesmo que não mais seja anjo. Não parece isso o pensamento do pai perfeito? Não parece isso o pensamento do Deus que perdoa todos os pecados?

De novo, olhe para atos, mesmo que esteja olhando para imagens. Você verá a felicidade com os olhos do sentimento.

Brasilio - Maio/2010.