Quem sou eu.

 

Não sei quem sou.

Nem sei se tenho alma.

Mudo constantemente.

Já fui pelo menos sete.

Todos mortos.  

Não sei se rerei ainda outros.

Mas no momento quem eu sou.

Está morrendo.

Os únicos aspectos que restaram.

De todos os que foram.

Apenas o meu corpo.

Como também o meu nome.

Então posso dizer.

Sou o meu corpo.

E o meu nome.

As demais coisas minhas.

São metamorfoses.

Sem alma.

E sem imaginação.

Em todo tempo.

Transformo-me.

E continuo completamente.

Indiferente a minha mudança.

Isso porque ela em si mesma muda.

O que sou mesmo.

É mimetismo.   

Nunca me encontrei pronto.

Encontro sempre na imperfeição.

Adoro a magnífica ideia.

De não ter alma.

 Porque se tivesse alma.

Não teria paz.

As únicas coisas que sei.

Que tenho.

É razão e a linguagem.

Mas neuroquimicamente.

Não tenho diferença.

 De um cabrito preso.

A pastagem.

Também sou dependente dela.  

Mas como tenho razão.

Sou psicanalítico.

E às vezes filósofo.

 Sendo desse modo ideológico.

O que vejo não é o que vejo.

O que sinto não é o sentimento.

Talvez a ilusão dele.

Não sou o pó que aparento ser.

Muito menos o que deveria ser.

Mas sou exatamente o pó.

Igual a todo mundo.

 Não existe uma lógica para o ser.

Muito menos para o não ser.

Cada um tem seus sonhos.

Desejos e imaginações.   

Eu não sou nem mesmo.

A minha passagem.

Por ser uma ilusão.

Das minhas representações.  

Sou diverso e ao mesmo tempo.

Sou único.

Na verdade não sei saber.

Sequer o que sou.

Sentir onde estou.

Se devo ir para algum lugar.

Se existe esse lugar para ir.

Sou completamente indiferente.

A tudo que estudo e entendo.

Vou lendo páginas inteiras de livros.

Como se fosse vagabunda.

Sem outro objetivo para vida.

Imagino que os sábios são todos.

Vagabundos.

No bom sentido da etimologia.

Imagino não saber entender.

Tenho apenas certo discernimento.

A grande maioria deles não serve.

Absolutamente para nada.

Passo a vida toda.

Tentando desmemoriá-los.

Seus significados.

Procedimento idiossincrático.

Não sei o que fazer para esquecê-los.

A imagem deles.

Sinto as margens das páginas lidas.

Perguntei na minha intimidade.

Quem sou eu.

O que fiz por tanto escutá-los.

Restou-me.

Apenas a metamorfose.

Fui tanto outros deles.

Para hoje não ser ninguém.

Nem mesmo o resquício de cada um.

 Mas sou o último de mim mesmo.

 E acho que brevemente.

 Devo desaparecer-me.

Para eternidade da inexistência.

 

Edjar Dias de Vasconcelos.