O Próximo Desafio da Europa – A Demografia

Pedro Santos Pereira

Introdução

A demografia é uma ciência exacta, com um grau de precisão e predição muito superior ao de muitas outras ciências, que permite estruturar predições com um grande grau de fiabilidade. A observação do que se passa na Europa em termos demográficos permite antecipar quais os seus próximos grandes desafios, designadamente porque a sua população tem vindo a apresentar taxas de crescimento cada vez menores, embora de forma assimétrica, entre a Europa do Norte, há mais tempo, e a do Sul, mais recentemente.

Com efeito, há cem anos a população europeia representava 25% da população mundial, em 2005 representava 11%, totalizando 728 milhões de pessoas e em 2050 estima-se que represente apenas 7% da população mundial, totalizando 653 milhões de pessoas

À partida até se poderia pensar que a Europa está em linha com as necessidades mundiais de controlo populacional uma vez que numa perspectiva malthusiana ou mesmo neo-malthusiana os recursos do planeta são escassos e o crescimento contínuo da população resulta no mesmo efeito que a diminuição paulatina do globo terrestre, até que, finalmente, depois de tanto encolher, o nível de subsistência se situará abaixo do nível de sobrevivência. O relatório World Dynamics

 do Clube de Roma, produziu uma previsão na qual o crescimento biológico exponencial acabará por colidir com um estado de recursos limitados e tecnologia estagnada, recomendando: 1) a abolição imediata de todo o crescimento populacional, 2) a redução da produção industrial, 3) a concentração na produção de bens alimentares e serviços, e 4) a reciclagem de recursos.

Não cabe no âmbito deste ensaio discutir a probabilística destas previsões mas ainda que elas fossem precisas, à escala mundial, a assimetria entre regiões do globo leva a que hajas regiões onde a escassez de recursos face ao crescimento populacional seja um facto e outras regiões detenham abundância de recursos face à sua população, e este é sem dúvida o caso da Europa. 

Verdade é que o progresso e crescimento económico andam na história associados ao crescimento populacional e aquele também é necessário para a solidariedade intergeracional, daí que a Europa tenha vindo a compensar o seu défice populacional através da imigração. 

Até aos anos 80 do século XX os países economicamente mais desenvolvidos (Reino Unido, França, Alemanha, etc.) recrutaram a mão-de-obra que careciam nos países europeus com economias mais débeis (Grécia, Espanha, Itália e Portugal). A partir do momento em que estes países passaram a registar melhorias significativas das condições de vida das suas populações deixaram de ser exportadores de mão-de-obra e por outro lado tornaram-se também eles importadores. Entretanto os países mais desenvolvidos continuaram a recrutar mão-de-obra doravante sobretudo de raiz islâmica, tornando o défice demográfico não só uma tendência e problema europeu como um problema particular de cada um dos estados membros, ao qual urge dar solução.

Citando o historiador inglês Arnold Toynbee, “as civilizações morrem de suicídio, não de assassinato”, temos encontrada a relevância da problemática e o dever de procurar soluções que dirimam esta tendência.