A partir dos anos 2000, o conceito de Sustentabilidade deixou de ser uma questão apenas de consciência ecológica e ganhou forma como estratégia de marketing e gestão. As empresas passaram a exibir selos e certificados, a vender produtos orgânicos, produzidos com baixos consumos de recursos naturais, embalagens biodegradáveis, baixa emissão de carbono. A ostentar a “grife” da sustentabilidade.

A construção civil tornou-se um dos maiores vilões do mundo sustentável. Grande consumidor de recursos naturais, o mercado imobiliário também precisava se adequar a essa nova realidade. Mas como garantir que os edifícios e equipamentos urbanos atendam a essa demanda?

Os projetos ganharam um desafio novo. Criar edifícios que evitassem o desperdício dos recursos durante a construção e principalmente durante seu ciclo de vida. Para isso surgiram organizações destinadas a orientar, normatizar e fiscalizar a aplicação dos conceitos sustentáveis. Apareceram as certificações e selos, como o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), voltado a edificações comerciais e corporativas e o AQUA (Alta Qualidade Ambiental), voltado a edificações residenciais.

E a arquitetura, onde fica nisso tudo? Qual o impacto da sustentabilidade no desenvolvimento do projeto?

Vamos analisar a questão de duas formas distintas: prazo e custo.

Qual o impacto da sustentabilidade no desenvolvimento de um projeto de edificação?

Fala-se muito em soluções sustentáveis para a construção civil. Muitas soluções “de prateleira”, já consolidadas pelo mercado. Outras, desenvolvidas ao longo do projeto, pensadas e estudadas com afinco.

O fato é que a sustentabilidade impacta diretamente no aumento do tempo de desenvolvimento de um projeto. Considerando-se que as soluções técnicas sejam realmente estudadas e avaliadas durante o processo, que seja investido tempo e recurso, um projeto desse tipo leva invariavelmente mais tempo do que um projeto “comum”.

Porém, esse tempo reflete na qualidade do projeto. E qualidade não é o foco? Com sustentabilidade ou sem sustentabilidade, qualidade não deveria ser sempre o foco? Como profissionais, não devemos nos preocupar com a qualidade sempre? A sustentabilidade não seria mais um item no programa do projeto?

E o custo?

Desta forma, caímos no segundo ponto: e o custo?

Um projeto “sustentável” deve custar mais? De fato, qual o impacto da questão sustentável no custo de projeto? Sabemos que a sustentabilidade é mais um item do programa, algo a ser atendido e que traz um incremento de qualidade à edificação. Como mensurar o custo disso? As soluções técnicas, mesmo que atendendo a requisitos mais rígidos mudam necessariamente de complexidade, a ponto de custar mais?

Em 1955, no projeto da Vila Serra do Navio no meio da Amazônia, Oswaldo Bratke (1907-1997) aplicava conceitos de ventilação cruzada e paredes rebaixadas entre os cômodos, que supriam a ausência de sistema de refrigeração (ar condicionado) e atendiam às necessidades de conforto térmico.

Na década de 70, a arquitetura moderna racionalizava o projeto, com seus conceitos de aproveitamento do espaço, recursos de iluminação natural ou zenital, integração ao entorno (ainda que destacado visualmente).

Em épocas em que não se apresentava a questão da sustentabilidade, uma solução simples, adequada ao projeto da edificação, atendia plenamente a necessidade humana e ambiental. Apenas com o desenvolvimento racional do projeto, buscando a qualidade e o melhor aproveitamento do projeto.

Podemos acrescentar ao custo do projeto um fator complexidade, relacionado à diferença de programa? Partindo-se do princípio de que soluções sustentáveis são a cada dia mais necessárias e começam a fazer parte da realidade da arquitetura, pode-se cobrar a mais por isso?