Durante o Regime Militar, no seio das forças armadas, havia dois principais grupos que disputavam o poder político no Brasil: os "castelistas", que tinham em Castello Branco seu líder ideológico (inicialmente, desejavam instaurar a ordem social para em seguida devolver o poder ao civis) e, de outro, os conhecidos como "linha-dura", que defendiam ser o regime militar a única saída para o "caos político e social" em que o Brasil se encontrava, ainda que fosse necessária a instauração de um regime de exceção, de cunho autoritário e repressivo.
A morte do presidente Costa e Silva, em 1969, gerou grande turbulência política ? o que dificultou sobremaneira a redemocratização, conforme pretendido inicialmente pelos castelistas. A facção da linha dura, após conturbado processo de sucessão (em que uma junta militar assumiu o poder), conseguiu empossar o general Emílio Garrastazu Médici. Não obstante a prosperidade econômica, esse governo foi marcado por um contexto de grande turbulência social, com prioridade na repressão aos opositores do regime. Os movimentos de esquerda passaram à luta armada, deflagrando guerrilhas, notadamente em centros urbanos e na região do Araguaia. Outra característica marcante dessa época é a reincidência de seqüestros de autoridades estrangeiras em troca de presos políticos.
Nas eleições presidenciais de 1974, a facção militar que apoiava Médici não logrou êxito, e o candidato eleito foi o general Ernesto Geisel, tido como representante dos "castelistas". Geisel comprometeu-se, desde o início de seu governo, com a distensão do regime, definido como "abertura lenta, gradual e segura". No entanto, conforme as palavras do historiador Boris Fausto, a abertura seria lenta e gradual ? mas não segura. Porque foi um processo caracterizado por muitos avanços e retrocessos, em que Geisel foi forçado em determinadas ocasiões a utilizar graves medidas ? ora democratizantes, ora conservadoras ? a fim de manter a situação sob controle e em consonância com seu projeto de governo.
As mais recentes eleições parlamentares evidenciaram um grande avanço de popularidade do MDB, partido de oposição. Tal fato demonstrava que, embora as forças armadas ainda detivessem o fiel da balança, o regime já não gozava da mesma legitimidade dos anos anteriores e a transição para a democracia seria inevitável. A censura começou a ser desmantelada ? o primeiro jornal a não ter censor foi o Estado de São Paulo. A aquiescência do governo, nessa seara, foi fundamental.
Um dos legados do governo Médici fora a grande autonomia conferida aos órgãos de repressão. Tendo em vista que havia setores das forças armadas que divergiam do projeto de abertura empreendido pelo governo Geisel, a tortura, que passou a ser coibida, dava sinais de recrudescimento, por contar com o apoio expressivo de facções militares. As polêmicas discussões acerca das mortes do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho geraram grande alarde na sociedade brasileira e Geisel, nesse contexto, exonerou o Comandante do 2º Exército, general D?Ávila Mello.
As eleições de 1976 evidenciaram, pela primeira vez, uma grave derrota política da ARENA, partido que apoiava o regime. A reação imediata do governo foi uma reforma eleitoral que, mediante eleições indiretas, impediu que a oposição tivesse maioria no Congresso. Essas medidas receberam, à época, o nome de "Pacote de Abril". Foram consideradas autoritárias e, de certo modo, contraditórias, tendo em vista que a proposta do governo era ensejar a abertura e a transição para o regime democrático.
Em contrapartida, outra medida liberalizante tomada por Geisel foi a revogação do AI-5, já no fim de seu governo, evidenciando que o aparato repressivo começava a ser desmontado e que o projeto de abertura seguia seu curso. Nas eleições presidenciais de 1978, o general João Baptista de Figueiredo, também representante da facção castelista, comprometeu-se a dar continuidade à abertura "lenta, gradual e segura".
No governo de Figueiredo o processo de abertura política continuou a avançar. Os grandes marcos desse período são a anistia "ampla, geral e irrestrita" e a volta ao pluripartidarismo, como se afirmou nas eleições de 1982. No entanto, muitos autores criticam a maneira como a anistia foi concedida, uma vez que esta não apenas "inocentou" os opositores ao regime militar como isentou de punições todos aqueles que compuseram o aparelho de repressão no período. Um outro traço marcante desta época é a reação radical da "linha dura", que passou a utilizar recursos extremos para vetar o processo democrático. Fatos bastante conhecidos, nesse aspecto, são os atentados à OAB e ao Rio Centro ? este último chegando a causar a demissão do chefe do Serviço Nacional de Informações, general Golbery do Couto e Silva.
Já durante o ocaso do regime militar, o ano de 1984 atestou o grande envolvimento da população no processo de abertura, cujo ápice é o movimento de "Diretas Já". Esse movimento representa o anseio da população por eleger, diretamente, o presidente da república. Não obstante, o projeto de emenda constitucional que determinaria as eleições diretas, conhecido como "emenda Dante de Oliveira", não foi aprovado pelo Congresso e o primeiro presidente da Nova República foi eleito por um colégio eleitoral.
Em 1988 foi promulgada nova Constituição, que extinguiu o regime de exceção instaurado em 1964. Pode-se observar que o processo de redemocratização exigiu apreciável transcurso de tempo e foi entremeado de naturais percalços, até que fosse lograda a plenitude democrática.