As atividades de lazer são caracterizadas pelo seu aspecto desprendido da rotina e como válvula de escape do estresse diário. Como nos trazem alguns autores da área, as atividades de lazer proporcionam ao indivíduo um desenvolvimento pessoal e social e podem ser vivenciadas no tempo livre das pessoas. Tais atividades podem se resumir a uma pelada de futebol ou até mesmo a uma tarde assistindo a um filme em casa. Mas como garantir que tais atividades serão de fato bem aproveitadas pelas pessoas? É neste contexto que surge o profissional do lazer, pessoa instruída de conhecimento com a finalidade de mediar as atividades de lazer de modo que estas proporcionem o melhor desenvolvimento e recuperação dos seus participantes.
Aqui debateremos sobre a formação deste profissional e sua atuação no campo do lazer. Discutiremos sua importância na mediação das atividades e como se dá este tipo de exercício no campo do lazer.
São diversos os autores que trabalham e discutem esta temática. No presente artigo, utilizamos referências de diversos autores da área que tratam da formação deste profissional, comparando suas teorias e idéias e verificando seus posicionamentos sobre a temática. Para isso, utilizaremos o método dialético, expondo aqui as idéias destes autores.
Por fim, relacionaremos as teorias discutidas com a realidade do profissional formado no curso superior de tecnologia em Gestão Desportiva e de Lazer do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.

Lazer e conhecimento

É importante termos a compreensão de que o lazer é um campo multidisciplinar e que requer conhecimentos embasados em diversas áreas. Existe um grande leque de opções de atividades que o indivíduo pode se entregar de livre e espontânea vontade. Seja desde a apreciação de artes plásticas ao participar de um jogo de basquete, as atividades de lazer são diversas, importando apenas se esta proporciona certo prazer ao indivíduo.
Dessa forma, o profissional do lazer deve dominar diversas áreas do conhecimento com a finalidade de oferecer as melhores opções de lazer possíveis. Uma das características mais importantes do lazer é justamente a possibilidade do indivíduo poder escolher suas atividades preferidas. Por isso o profissional do lazer deve sempre buscar conhecer o seu público para oferecer as melhores opções de acordo com o gosto de cada um.
Para facilitar a gestão das atividades de lazer, Dumazedier criou os interesses culturais do lazer, que são: interesses físicos, artísticos, intelectuais, sociais e manuais. Camargo (2006), por sua vez, traz um novo interesse conhecido como o interesse turístico. E atualmente existe um grande debate acerca de um possível interesse virtual. Todos esses interesses culturais servem para auxiliar na implantação de ações de lazer que o profissional da área pode se utilizar a fim de oportunizar mais opções para seu público.
Como nos traz Stigger (2003),

O lazer se diferencia de outros momentos da vida, na medida em que ? apesar das desigualdades que existem nesse contexto ? é possível afirmar que nele as pessoas escolhem. É isso que está no pensamento de autores já referidos, os quais estudam o lazer do ponto de vista sociológico (p. 114).

Um dos pontos mais interessantes nos estudos mais aprofundados sobre o lazer, é que este reflete a própria sociedade que estamos inseridos. Por isso, o lazer é uma esfera da vida humana e também é intrínseca aos nossos valores culturais. Gutierrez (2001, p. 61) afirma que "o lazer é, obviamente, uma manifestação cultural". Somos condicionados culturalmente a escolher nossas atividades de lazer, são preferências construídas com o decorrer de nossas vivências, nossas experiências diárias. É importante que o profissional do lazer esteja atento a isto e seja instruído de modo a saber lidar com diferenças étnicas, sociais e culturais que podem existir dentro de um grupo.
Dessa maneira, começamos a adentrar em uma discussão referente à atuação do profissional de lazer.

Lazer e intervenção

São características atribuídas ao profissional de lazer que geram um estereótipo que a sociedade interliga a este profissional. Muitas vezes os profissionais do lazer são tachados de profissionais que possuem um trabalho fácil ou que se deve ter um perfil específico para trabalhar na área. Quase sempre as pessoas acham que não é necessário se ter formação para atuar na área do lazer. Não é preciso nos aprofundar muito para percebemos que isto não é verdade.
Como dissemos antes, as atividades de lazer são condicionadas pelas preferências pessoais dos indivíduos. É aí que está o grande desafio deste profissional: proporcionar vivências prazerosas e inovadoras que tragam uma qualidade de vida para o seu público. Victor Melo (2003) diz que

O profissional do lazer, que trabalha diretamente ligado ao campo cultural, tem de lidar com essas contradições, aproveitando o potencial da intervenção na ordem social, sempre respeitando, contudo, as características culturais do grupo ao qual trabalha (p. 52).

Oferecer novas oportunidades de lazer para as pessoas é um trabalho embutido ao profissional do lazer. Através da intervenção, esse profissional pode trabalhar questões que envolvem grandes conflitos na sociedade. Mas é necessário ter o cuidado com as atividades oferecidas, pois como nos diz Marcellino (2006), enquanto determinada atividade proporciona grande prazer a um indivíduo esta mesma atividade pode ser entediante para outro. O profissional do lazer deve buscar um modo intermediar as escolhas do grupo e proporcionar um desenvolvimento pessoal e social a todos os envolvidos.
De fato, o profissional do lazer é um mediador. Ele propõe as melhores atividades e vivências com o intuito de fazer com que o grande grupo possa aprender uns com os outros, compartilhando valores e sentimentos em situações onde o lúdico possa estar presente. Está seria justamente uma forma de educação pelo lazer, pois podemos "aproveitar o potencial das atividades para trabalhar valores, conduta e comportamento" (MELO, 2003, p. 53).
Outro aspecto que deve ser observado pelo profissional de lazer durante suas intervenções é justamente a forma como ele programa o quadro de suas vivências. Muitos animadores se detém apenas ao seu conhecimento pessoal sobre as atividades a serem oferecidas, o que pode resultar em um grande erro. O público pode e deve propor vivências a serem aplicadas durante o momento em conjunto com as atividades propostas pelo profissional. Este seria um modo de alcançar o verdadeiro desenvolvimento social dos indivíduos envolvidos na atividade, pois é necessário que eles próprios se vejam naquilo que estão praticando ou a vivência estará pautada apenas sob a ótica do profissional de lazer, o que acaba empobrecendo a participação ativa do público.
Com isso, percebemos que o profissional do lazer deve possuir um olhar treinado e saber lidar com seu público ou suas atividades estarão a mercê do velho discurso do divertimento em si, sem proporcionar um desenvolvimento ao indivíduo.

Lazer e formação

Os profissionais do lazer devem ser dotados de conhecimentos e habilidades capazes de conduzir atividades para um público, com vista a atingir o melhor desempenho de cada atividade e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Camargo (1998) disserta sobre as capacidades necessárias para um profissional do lazer em sua obra Educação para o Lazer. Dentre elas estão:

? Polivalência cultural: o profissional do lazer deve ser possuir facilidade para lidar com as diferentes áreas do conhecimento, precisando ter um conhecimento básico sobre variadas ciências como ginástica, dança, música, cinema, etc;

? Diferenças culturais: o profissional do lazer deve ter o cuidado para lidar com diferenças socioeconômicas e socioculturais, além de questões étnicas e de gênero;

? Equipes multidisciplinares: tal profissional deve ser instruído para gerir equipes com profissionais de diversas áreas do conhecimento;

? Viabilidade de projetos: o profissional da área deve saber elaborar projetos de lazer, bem como avaliar suas viabilidades econômicas;

? Conhecimento do espaço: o profissional do lazer deve conhecer ao fundo os tipos de espaços a serem implantadas atividades de lazer e selecionar as melhores atividades para determinados espaços;

? Dialogar com políticas locais: o profissional deve saber lidar com as políticas da região onde serão implantadas as atividades de lazer, sejam políticas públicas ou privadas.

Um grande equívoco que a maioria das pessoas acomete é justamente julgar que qualquer profissional pode desempenhar a função do profissional do lazer. De fato, atividades de lazer geridas por pessoas sem formação adequada resultam no pouco aproveitamento das oportunidades oferecidas ao público, como já discutimos antes. É necessário que exista uma formação específica que direcione o profissional de acordo as exigências listadas acima, pois só assim garantiremos um lazer pleno e proveitoso.

O curso de Gestão Desportiva e de Lazer

Os tecnólogos formados no curso de Gestão Desportiva e de Lazer do IFRN trazem consigo uma bagagem diversificada de conhecimentos devido à grade curricular voltada para a pluralidade que o profissional do lazer necessita. Desde conhecimentos sobre pedagogia ao de esportes de aventura, os formandos são preparados para oferecerem diversas opções de lazer ao seu público.
O mercado de trabalho ainda é um grande desafio para o profissional da área, pois a maioria das instituições ainda não desenvolveram um olhar mais direcionado para o lazer devido ao senso comum do lazer ser algo simplório e dispensável, sem a necessidade de profissionais formados na área.
Em suas intervenções os gestores desportivos enfrentam desafios e solucionam problemas, o que contribui imensamente para sua formação profissional. Sempre aliando o ensino, a pesquisa e a extensão, o curso proporciona uma melhor aquisição conhecimento pelos formandos.
A produção de conhecimento também é bem estimulada. Em todas as disciplinas são formulados trabalhos científicos e projetos de intervenção que podem ser utilizados como referência pelos futuros profissionais.

Considerações finais

O profissional do lazer com certeza ainda não alcançou seu lugar pleno no mercado de trabalho. Mas atualmente é perceptível a necessidade de um profissional qualificado para produzir bons projetos de lazer e qualidade de vida. A necessidade deste profissional se deve justamente ao entretenimento acrítico que temos observado na sociedade globalizada.
A indústria cultural com certeza possui grande parcela neste quesito. As pessoas muitas vezes não se dão conta de que a sociedade precisa ser questionada e se detém ao instituído. É trabalho do profissional do lazer fazer com que os indivíduos questionem as suas próprias realidades, de modo a promover o desenvolvimento pessoal e social.
Os indivíduos da sociedade atual precisam criar novas formas de ver o mundo. Por isso, o profissional do lazer deve ser capaz de torná-los não apenas questionadores da sociedade, mas agentes de suas próprias atividades. Ação possível apenas através do lazer.

Referências

CAMARGO, Luiz Octavio de Lima. O que é lazer. São Paulo: Brasiliense, 2006.

_____________________________. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna, 1998.

GUTIERREZ, Gustavo Luis. Lazer e prazer. São Paulo: Autores Associados, 2001.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.

MELO, Victor Andrade de; ALVES JUNIOR, Edmundo de Drummond. Introdução ao lazer. Barueri, SP: Manole, 2003.

STIGGER, Marco Paulo. Políticas públicas em esporte e lazer: considerações sobre o papel do profissional educador. In: MARCELLINO, Nelson Carvalho (org.). Formação e desenvolvimento de pessoal em lazer e esporte: para atuação em políticas públicas. Campinas, SP: Papirus, 2003.