Jeremias, chamado por Deus para o ofício de profeta, era membro do sacerdócio levítico. Jeremias havia sido educado por seu pai e desde a infância havia sido predestinado para uma santa função. Como profeta, Jeremias esteve atuando por quarenta anos sob os holofotes de Deus diante da nação de Israel como testemunha da verdade e da justiça. Num tempo de apostasia sem paralelo, devia ele exemplificar na vida e no caráter a adoração do verdadeiro Deus.

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INTRODUÇÃO

ð Jeremias, chamado por Deus para o ofício de profeta, era membro do sacerdócio levítico. Jeremias havia sido educado por seu pai e desde a infância havia sido predestinado para uma santa função. Como profeta, Jeremias esteve atuando por quarenta anos sob os holofotes de Deus diante da nação de Israel como testemunha da verdade e da justiça. Num tempo de apostasia sem paralelo, devia ele exemplificar na vida e no caráter a adoração do verdadeiro Deus. Durante o terrível cerco de Jerusalém, ele seria o portavoz de Yahweh. Prediria a queda da casa de Davi, e a destruição do belo templo construído por Salomão. E quando aprisionado e torturado por causa de  suas destemerosas afirmações, devia ainda falar tonitroantemente contra o pecado. Jeremias foi desprezado, odiado, rejeitado dos homens, perseguido pelo patricios, maltratado pelos reis, desprezado e rechasado pelos falsos profetas; todavia, escolhido por Deus e vocacionado desde a eternidade para ser um interprete de Lei, uma cidade, um muro, um coluna, um trator, e uma testemunha ocular dos oraculos de juizo e de restauração de Yahweh. 

ðO livro de Jeremias se compõe de uma série de sermões proféticos, combinados com dados históricos e biográficos concernentes aos últimos dias do reino de Judá. Fazendo uso de tudo que estava a seu alcance, Jeremias procurou conter a decadência e a apostasia de Judá, que foi desencadeada pela depravação moral de seus lideres. Mas seus esforços em favor da nação foram quase totalmente inúteis. Suas exortações ao arrependimento sempre caíam em ouvidos surdos. Todavia, suas mensagens continuavam a convidar o povo a abandonar o ritualismo externo e superficial da religião para voltarem-se ao interno e real sentimento para com Yahweh. Ensinava que a corrupção tem sua origem num coração ímpio (17:9), e que sem um novo coração, novas intenções e um novo espírito, o homem é incapaz de fazer o bem (13: 23). Tal mudança só poderia ser efetuada por um ato soberano e criador de Deus (24: 7; 31: 31-34).  Como outros profetas, Jeremias advertiu contra as alianças perigosas com outras nações (2:36), admoestou a Judá para que se submetesse ao jugo babilônico, e assinalou que a rebelião levaria a nação ao colapso. 

  1. SEU TEMPO 

o    cronologia dos tempos de Jeremias

 

650

Nascimento de Jeremias (data aproximada).

648

Nascimento de Josias.

641

Acesso de Amom ao trono de Davi.

640

Acesso de Josias.

632

Josias começa sua busca de Deus (2 Cr 34.3).

628

Josias começa as reformas.

627

O chamamento de Jeremias ao ministério profético.

626

O acesso de Nabopolassar ao trono da Babilônia.

622

O livro da lei achado no templo. A observância da lei. Páscoa.

612

Queda de Nínive.

610

Harã capturada pelos babilônicos.

609

Josias é assassinado. Joacaz reina por três meses. O exército assírio-egípcio abandona o cerco de Harã e se retira à Carquemis. Jeoiaquim substitui a Joacaz em Judá.

605

Os egípcios de Carquemis derrotam os babilônicos em Quramati. Os babilônicos derrotam decisivamente os egípcios de Carquemis. primeiro cativeiro de Judá. Jeoiaquim busca alianças com a Babilônia. Nabucodonosor acede ao trono da Babilônia.

601

Batalha inconclusa entre babilônicos e egípcios.

598

Morre Jeoiaquim. Cerco de Jerusalém.

597

Joaquim, feito cativo após os três meses de seu reinado. Segundo cativeiro. Zedequias chega a ser rei.

588

O assédio a Jerusalém começa o 15 de janeiro. Acesso de Hofra ao trono egípcio.

586

19 de julho: os babilônicos entram em Jerusalém. 15 de agosto: queima do templo. Morte de Gedalias. Emigração ao Egito.

 

  1. AMBIENTE HISTÓRICO

ð Quando Deus chamou Jeremias ao ministério profético em 626-627 a.C. a Assíria, senhora do mundo, sujeitara Judá ao seu domínio, cobrando-lhe tributo. Todavia, a própria Assíria gradualmente enfraqueceu, e após a morte de Assurbanipal em 633 a.C, a Assíria entrou numa ruína. Certas províncias do império perderam-se em 614 A. C., e outras no cerco final de dois anos. Assurubalut foi o último monarca reinante, conservando-se em Harran durante, pelo menos, dois anos após a destruição de Nínive em 612 A. C. 

ð Potencialmente, o trono da Assíria estava aberto a qualquer cabo de guerra do tempo. Neco, do Egito, conduziu as suas forças até ao norte da Palestina, defrontando e matando Josias, rei de Judá, em Megido em 609 a.C. subjugando a Síria e pondo-se novamente em marcha até ao Eufrates. Foi, porém, enfrentado por Nabucodonosor da Babilônia, que desbaratou os seus exércitos na histórica batalha de Carquemis e o obrigou a recuar para as suas próprias fronteiras, pondo, assim, termo temporário à ambição egípcia de dominar o Oriente. Foi deste modo que Judá, até ali sujeito à Assíria, passou automaticamente para o controle da Babilônia. 

ð Depois da morte trágica de Josias, o seu povo ungiu Jeoacaz, seu filho, rei em seu lugar. Neco, porém, depô-lo a favor de Jeoaquim, seu irmão, pensando que ele serviria melhor os interesses egípcios. Que esta convicção tinha bons fundamentos prova-o claramente o tratamento a que Jeoaquim sujeitou o profeta Jeremias. Depois de Carquemis, Nabucodonosor interessou-se menos por Judá, possivelmente por o descontentamento em Babilônia exigir o seu regresso imediato após ter sido desferido um golpe decisivo contra o Egito. Entretanto, Jeoaquim, confiante nas promessas egípcias de auxí1io massiço, fez uma tentativa de sacudir o jugo de Babilônia. Em resultado disso, em 596 A. C., Nabucodonosor, consolidado o seu poder na pátria, atacou Jerusalém, prendeu Jeoaquim, filho do rebelde e agora seu sucessor, e levou-o com algum do seu povo para o cativeiro. Ao mesmo tempo, pôs Zedequias no trono. 

ð O Egito não ousava arriscar uma guerra com Babilônia; em vez disso, procurava enfraquecer pela intriga os laços impostos por Nabucodonosor à Síria e Palestina. A Neco sucedeu no trono egípcio Psamatique II, e presumivelmente foi ele quem procurou persuadir estes países a tomarem parte numa aliança com o Egito contra Babilônia. Zedequias foi um dos monarcas abordados, e parece haver fortes indícios de ter existido um partido pró-Egito na corte. Ananias, o profeta, salientava-se bastante nesta conjuntura, mas Jeremias opôs-se firmemente à proposta. Ver, por exemplo, o capítulo 28, com o seu oráculo do jugo de ferro. 

ð Jeremias opunha-se vigorosamente a estes funcionários da corte. Como porta-voz de Jeová, denunciava-os como falsos profetas, afirmando que as suas atividades pró-Egito eram contrárias à Sua vontade e teriam um resultado trágico. Sem dúvida se consideravam verdadeiros patriotas, e é evidente que o seu ódio feroz a Jeremias se fundamentava no fato de, na opinião deles, o profeta ser um traidor confesso. Chamando-lhes falsos profetas, Jeremias não implica necessariamente que fossem homens cruéis, mas antes que a sua intuição ou critério não eram inspirados por Iavé. A sua acusação contra os seus adversários é que não fora Iavé quem os mandara, mas que eles se destacam por iniciativa própria, pelo que as suas predições não se realizarão. Era, pois, aí que residia a falsidade. Falavam em nome de Iavé quando, afinal, Ele não lhes tinha ordenado que o fizessem. De tudo isto se depreende que a sinceridade não basta; só a inspiração divina é que faz de alguém um profeta. 

ð É impossível dizer se Nabucodonosor tinha recebido um aviso direto do descontentamento que grassava, ou apenas boatos, mas o certo é que Zedequias foi intimado a avistar-se com ele e a descrever as condições na sua pátria. O seu regresso implica que deu garantias de fidelidade. É pena que, ao que parece, ele não tivesse a coragem e a força moral para resistir à influência de conspiradores pró-egipcistas como Ananias e os seus confederados. Jeremias instava constantemente com o rei para que permanecesse fiel ao seu compromisso, mas quando Hofra se tornou faraó em 589 A C., sucedendo a Psamatique II, a influência egípcia na corte acentuou-se ainda mais e, em resultado de tramas urdidas em segredo, Zedequias foi finalmente induzido a faltar à sua palavra para com Nabucodonosor. O Egito foi lento ao seu socorro, e o monarca babilônio tornou a pôr cerco a Jerusalém em 587 a.C. Por fim, apareceu o exército egípcio e os babilônios levantaram o cerco temporariamente. Foi nessa altura que Jeremias foi preso como desertor que procurava fugir para os caldeus (ver Jr 37.11-15). 

ð A repetição do assédio parece ter provocado uma crise. Jeremias tinha a certeza de que a sua intuição provinha de Deus, de que Ele lhe revelara os Seus propósitos de transformar Babilônia no instrumento da Sua vontade. A confiança no Egito, portanto, só poderia abrir caminho à tragédia e ao exílio. Além disso, os inimigos do profeta serviam-se do nome de Iavé para apóiar a sua política pró-egipcista. Por conseguinte, afirmavam que a atitude e as palavras de Jeremias enfraqueciam a vontade nacional de combater. Esta luta revela-se de forma crucial na pessoa de Zedequias, que se erguia entre as duas facções, sendo atraído ora para um dos partidos, ora para o outro. Costuma-se dizer que Zedequias era um fraco, incapaz de tomar uma decisão e enfrentar as conseqüências. Percebe-se que Jeremias não o conseguiu influenciar de forma a fazê-lo manter-se firme no seu juramento de fidelidade para com Nabucodonosor. A batalha foi ganha pelos falsos profetas e Zedequias arriscou a sua sorte, mas pagou amargamente a sua decisão e delongas. O Egito revelou-se uma cana quebrada; o segundo cerco foi coroado de êxito, os babilônios comportavam-se de forma desapiedada e, com grande desgosto seu, Jeremias assistiu à amarga realização da sua profecia. 

[...]