O PROFESSOR REFLEXIVO E SUA MEDIAÇÃO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA: FORMANDO SUJEITOS CRÍTICOS

O PROFESSOR REFLEXIVO E SUA MEDIAÇÃO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA: FORMANDO SUJEITOS CRÍTICOS

Rogério Ferreira Leite

Rosicleia Giunchetti Pelucio

Este trabalho contém as premissas básicas para que o educador atinja plenamente o objetivo de proporcionar aos seus alunos uma formação adequada às exigências do século XXI. Analisa a postura que deve ser observada desde o início da sua formação, passando pela necessidade de sua constante atualização até o desenvolvimento do seu trabalho no coletivo da escola. A busca de uma forma bastante prática de traduzir esse percurso culminou com a apresentação de um trabalho rico em considerações de autores que acreditam na pessoa do professor reflexivo como elemento de ligação entre o aluno e o conhecimento, enxergam a possibilidade de transformar a escola a partir da conscientização de seus membros e também a necessidade de proporcionar ao aluno as condições indispensáveis ao seu desenvolvimento e à sua inclusão no mundo que nos foi legado pelo processo de globalização: mundo da tecnologia, da informação e do conhecimento.

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INTRODUÇÃO

Quando falamos em escola, a primeira coisa que nos vem à lembrança é a figura do professor, pois cada um de nós traz em si mesmo a recordação daquela pessoa que, no decorrer da nossa vida, nos deixou na memória a sua imagem. Alguns podem trazê-la um pouco negativa por haver encontrado um professor mais intransigente ou autoritário, mas se buscarmos no decorrer de toda nossa vida escolar ou acadêmica, certamente encontraremos também aqueles que nos marcaram pela sua bondade, pela sua compreensão, por seu amor à educação.

Quando falamos do professor, nossa mente divaga e nos conduz a todos aqueles que já passaram pela nossa vida ou de quem já ouvimos falar e nos convida a fazermos uma análise sobre a forma de cada um ensinar, seus métodos, sua didática, suas manias e sua maneira de avaliar, pois sempre nos assombraram as provas e as sabatinas, a forma de se estabelecer as notas e os conceitos que determinariam a aprovação ou a reprovação.

Hoje, o conceito de professor mudou muito, ele já é visto sob um prisma diferente, é visto como educador, não mais aquele que detém a informação, mas o elemento capaz, que auxilia o aluno na construção do conhecimento. O educador é o professor reflexivo, aquele que busca seu constante aperfeiçoamento e preocupa-se com a própria formação de forma contínua, para que possa contribuir com seus alunos na descoberta de conhecimentos que os habilitem a ser autônomos e críticos. Com isso sua responsabilidade se torna maior, pois as grandes facilidades oferecidas pela tecnologia nos apresentam alunos detentores de informações atualizadas, o que nem sempre é possível ao professor, pois suas atribuições muitas vezes o impossibilitam de acessar os canais de informação disponíveis.

Apesar da disponibilidade de acesso às informações, está afeta ao professor a preparação de seus alunos para enfrentarem as mudanças que ocorrem no mundo globalizado, principalmente neste início de século, quando vislumbramos avanços extraordinários em todas as áreas, o que exige do homem sua evolução no mesmo ritmo para que possa buscar sua autonomia num espaço competitivo, onde a tônica está centrada no conhecimento e na capacidade de acompanhar as mudanças.

Como estudantes de Pedagogia, sentimo-nos provocados por essa realidade, pois nos incomodava pensar que nossos professores são preparados na Universidade e quando chegam às escolas encontram uma situação bastante diversa, com muitos alunos desmotivados e um sistema de ensino que não conta com os recursos necessários para oferecer aos estudantes todo o aparato indispensável à sua formação. Na medida em que nos instigava essa inquietação, passamos a crer na existência de uma saída que permitisse ao professor desempenhar sua função, apesar de tantos reveses. Isso nos levantou uma questão: em que medida o professor reflexivo contribui, com sua mediação, na formação de educandos preparados para os desafios do século XXI?

Iniciamos então as pesquisas bibliográficas na busca de respostas para nossas inquietações. Reunimos uma bibliografia bastante extensa e procuramos identificar os autores, cujas teorias nos satisfaziam, e selecionamos António Nóvoa, Edgar Morin, Isabel Alarcão, Moacir Gadotti, Paulo Freire, Philippe Perrenoud, Selma Garrido Pimenta e outros. Na leitura de suas obras e na ânsia de entender o conceito de professor reflexivo, chegamos ao pensamento de Donald Schön e suas noções fundamentais. Quando ele nos fala de conhecimento na ação, reflexão na ação, reflexão sobre a ação e reflexão sobre a reflexão na ação, sintetiza que a reflexibilidade é uma competência que vai proporcionar ao educador as condições exigidas para analisar, entender e aperfeiçoar seu conhecimento, contribuindo para a formação integral de seus alunos.

Estruturamos nosso trabalho a partir das definições que nos auxiliariam na construção de um caminho e, à medida que por ele nos aventuramos, fomos percebendo que as bifurcações nos conduziam por um intrincado processo que, partindo da simples definição de educação e reflexão, passava pelo desenvolvimento do professor como educador, sua prática pedagógica e sua atuação, desembocando na escola, ambiente do saber e do conhecimento, por excelência.

Percebemos, então, que ao professor não é permitido construir nada sozinho. Ele depende da escola com sua complexidade, seus antagonismos e suas contradições, para crescer.

E o crescimento do professor começa muito mais cedo. Se o professor, durante sua formação acadêmica, desenvolve o hábito de refletir sobre a própria formação, não só aquela adquirida em sala de aula, mas sua formação cotidiana, aprendida de suas pesquisas, leituras, discussões e participação em eventos e seminários sobre educação, estará formando um cabedal que irá carregar por toda a vida e que será aprimorado a cada dia, constituindo-se no diferencial exigido para que seja, de fato, um educador, um professor reflexivo.

E esse professor reflexivo traz em si a satisfação de formar e mudar, e isso não só com relação aos seus educandos, mas também referindo-se à sua própria pessoa, como ser humano que detém o conhecimento, denominado por Edgar Morin, "conhecimento pertinente", e que é capaz de multiplicá-lo através de uma relação de troca com seus pares e, principalmente, com seus alunos.

Essa relação de troca é facilitada no ambiente da escola. A diversidade ali encontrada contribui para criar, como já vimos, complexidade, antagonismos e contradições, fatores que provocam conflitos, que geram mudanças, que determinam a evolução. É nesse ambiente também que se convive com a informação e com o conhecimento e onde se pode desenvolver a alteridade. O aluno precisa enxergar nesse ambiente a oportunidade de crescer e aprender e é exatamente o professor reflexivo que vai despertar nele a curiosidade para esse fato, fazendo-o encontrar aí um convívio prazeroso e gratificante.

O professor e a escola precisam transmitir aos alunos o verdadeiro sentido do trabalho em equipe, porque um não sobrevive sem o outro e ambos não sobrevivem sem o aluno. O professor e a escola precisam ser parceiros, porque fazem parte de uma mesma comunidade na qual o aluno é o principal protagonista. A escola precisa ser reflexiva, crescer, ser ambiente propício e lugar de construção do conhecimento; o professor tem que ter sempre em mente que a escola se faz de pessoas e quando falamos em escola, a primeira coisa que nos vem à lembrança é a figura do professor, pois cada um de nós traz em si mesmo a recordação daquela pessoa que, no decorrer da nossa vida, nos deixou na memória a sua imagem...

1 REFLEXÃO E EDUCAÇÃO

O primeiro objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram - pessoas criativas, inventivas e descobridoras.

O segundo objetivo da educação é formar mentes que possam ser críticas, possam verificar e não aceitar tudo o que lhes é oferecido. O maior perigo, hoje, é dos "slogans", opiniões coletivas, tendências de pensamento "ready-made". Temos que estar aptos a resistir, [...] a criticar, a distinguir o que está demonstrado e o que não está.

Portanto, precisamos de discípulos ativos, que aprendam cedo a encontrar as coisas por si mesmos, em parte por sua atividade espontânea e, em parte, pelo material que preparamos para eles. 

1.1 O PROFESSOR REFLEXIVO

Para falar do professor reflexivo, precisamos entender que a introspecção é a única forma de proporcionar, a cada um, as condições necessárias à análise do seu próprio grau de amadurecimento e de comprometimento. Trata-se de um processo individual, único, que não se aprende na escola. Por isso, nossas Universidades buscam despertar nos alunos uma consciência crítica, analítica e reflexiva para que, depois de formados, sejam capazes de difundir, como profissionais, essa prática e estabelecer uma outra época para as novas gerações.

Reflexibilidade é uma arte que deve estar incutida no ser humano e, independente de seu querer, fazer parte da sua responsabilidade como cidadão que quer transformar o mundo. Sabemos que a educação não é o instrumento que irá modificar as coisas e proporcionar um novo modelo de mundo. É tão-somente, um recurso próprio para forjar indivíduos capazes, prontos a decidir e optar por uma nova concepção de sociedade.

Na epígrafe, Jean Piaget nos leva a parar e refletir sobre a responsabilidade do educador na preparação do material para o aprendizado do aluno. Porém, quando se fala em material, quase nunca se imagina que a preparação do próprio educador é uma prática inerente a esse conceito, pois a ele está afeta a responsabilidade de formar. E isso corresponde a proporcionar ao indivíduo a capacidade de distinguir entre o que lhe é posto à frente e aquilo que, de fato, lhe interessa.

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