O PROFESSOR EXIGE RESPEITO
Leônidas Pimentel Batista

Não nos causa estranheza a proliferação crescente de céticos na Educação do Brasil. Os resultados pífios obtidos pelos estudantes brasileiros, tanto no ENEM como no PISA, mostram que os céticos acabam por se tornar profetas.
A qualidade da Educação do Brasil não é, em verdade vos digo, ruim, catastrófica como pregam os críticos (que em nada contribuem para a melhoria) da Educação. Alguns apontam falta de recursos, má formação de professores, descaso com o docente, desinteresse da família. De tudo um pouco.
O modelo de Educação que o Brasil tem adotado não difere muito do de outros países. Países esses que sempre se destacam nos índices de mecanismos de avaliação da Educação no mundo. Mas o que será que acontece por aqui? O Brasil realmente forma mal seus profissionais? Existe um desinteresse generalizado dos jovens brasileiros pela Educação acadêmica?
O Brasil investe, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico-OCDE, o Brasil investe em Educação o que poucos países ricos investem. O percentual do Produto Interno Bruto-PIB é em torno de 6%. Porém, tudo que é destinado à Educação, muito pouco se reveste em investimento para a formação do estudante. Ainda segundo a OCDE, o valor gasto por aluno, ao ano no Brasil, chega a US$ 2.980,00, enquanto que a referência mundial de países membros da OCDE, é de US$ 8.950,00. Estaria nesse dado o grande problema da má qualidade da Educação brasileira?
Analisemos, então, uma informação disponível na Internet[1]. No Brasil estão matriculados no ensino básico (fundamental e médio) 84,5% dos estudantes e que a eles é destinado 75% dos gastos em educação. Mas, o mesmo site informa que os 15,5% dos estudantes do ensino superior ficam com um percentual quatro vezes maior do que se gasta com os estudantes do ensino fundamental. Até que ponto esse dado poderia influenciar na qualidade da educação brasileira?
Os “profetas” da educação brasileira defendem que o gasto com educação deve ser maior, que o percentual do PIB deve ser de 10%. Mas gastar muito não significa investir, desperdiçar mais, talvez. Os dados apresentados apenas demonstram um dado que pode sim estar influenciando no problema da qualidade da educação que se desenvolve no Brasil.
A cada 10 anos nosso Congresso aprecia e aprova um Plano Nacional de Educação- PNE, com metas a serem perseguidas nos 10 anos seguintes a sua aprovação. Ora, metas são projeções, possibilidades, que podem ou não ser cumpridas. Nesse contexto, as metas dos dois últimos PNE’s, em muito pouco tem sido atingidas. Cumprem-se as metas que se relacionam mais estreitamente com as exigências de um crescimento social natural, que o mercado exige. Dentre essas metas, a mais difícil de se cumprir é o piso salarial dos professores do ensino básico. O Governo Federal estabelece metas para os Governos Estaduais e Municipais cumprirem. Outra meta que se destaca aqui é a formação continuada dos professores do ensino básico. Os professores da educação pública são preparados, na sua maioria; eles têm compromisso; são profissionais comprometidos com a educação, com o desenvolvimento dos seus estudantes. Quem não faz o “dever de casa” são os Governos.
Criticar professor, responsabilizar o professor pelo fracasso da educação no Brasil é mais fácil. Numa analogia de sobrevivência, pode-se dizer que não se ganha guerra com soldados mal municiados; o fuzil pode ser o mais moderno, mas sem munição, sem baioneta, o soldado é alvo fácil e frágil.
Dizer que “se Brasil formasse médicos como professores, pacientes morreriam”[2] é, no mínimo, leviandade, irresponsabilidade de um político em desespero e sem preparo para se manter no cargo em que está posto.
Nós, professores, exigimos respeito.
Referências
[1] http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/09/140908_relatorio_educacao_lab. Acesso em 25/01/2016.
[2] http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/11/1712167-se-pais-formasse-medicos-como-professores-pacientes-morreriam-diz-mercadante.shtml. Acesso em 25/01/2016.