O PROCESSO DE CONQUISTA DOS ESPANHÓIS APRESENTOU UMA VIOLÊNCIA QUE SE MANIFESTOU PARA ALÉM DAS ESPADAS E DA PÓLVORA.

               Podemos partir do início de que os espanhóis em seu processo de conquista por terras estavam em busca de riquezas. A política espanhola introduziu-se no princípio do metalismo, que estabelecia que a riqueza de uma nação, era medida pela quantidade de ouro e prata que a mesma possuía. Quando foram descobertas as minas de ouro e prata no Peru e no México, os espanhóis começaram a explorá-las, utilizando-se para isso da mão-de-obra indígena.

              Depois disso, foi organizado um profundo sistema de exploração econômica, que apoiou-se na servidão/escravidão de índios. A ganância dos espanhóis por riquezas e metais preciosos levaram os mesmos a adotar um comportamento bárbaro e cruel em relação aos indígenas. No período entre 1519 e 1540, quase todo território da América Central estava sob o domínio dos espanhóis. Em consequência, a vida das civilizações indígenas da América foi completamente transformada com a vinda dos espanhóis. 

              O trabalho obrigado mostrou-se danoso aos índios, eles deveriam trabalhar nas minas e nas plantações, em troca de abrigo e da catequização exigida, segundo a crença espanhola, como uma forma de salvamento de suas almas, levando os indígenas ao esgotamento (físico e psicológico) e à fome.

              Para fraudar a proibição do clero a respeito da escravidão dos índios, os espanhóis acolheram a encomienda e a mita. A mita referiu-se em um trabalho compulsório onde parcelas de índios eram utilizados para uma temporada de serviços ministrados Os indígenas eram considerados encomiendas, ou seja, passaram a ser “encomendados” aos conquistadores e colonizadores para serem catequizados. Os índios deveriam trabalhar e em troca recebiam ensinamentos religiosos. O Frei espanhol Bartolomé de Las Casas foi para a América a fim de ser um encomiendeiro, mas acabou sendo um dos maiores defensores dos índios. Ele afirmou que a trajetória (conquista e colonização) dos espanhóis na América foi uma obra escrita com sangue.

              Atuando como verdadeiros tiranos, os espanhóis cegos pela cobiça e pela avareza, não mediram esforços para alcançar os seus objetivos coloniais. Cabe salientar que, foi um sangrento decurso de repressão das populações indígenas da América pelos espanhóis. O conflito entre ambos tornou-se cada vez mais problemático e a reação indígena assumiu as mais variadas formas: hostilidade, guerra, suicídios em massa, movimentos de resistência religiosa, etc., assim, extinguindo-se quase que por completa a população indígena.  Acrescenta-se a isso as doenças típicas do homem branco, o sadismo e o instinto brutal dos colonizadores e o resultado obtido foi milhões de indígenas mortos cruelmente, bem como o desaparecimento de muitas civilizações indígenas.

              Não à toa, portanto, os conquistadores espanhóis ficaram conhecidos pela ferocidade e crueldade com que assassinavam e subjugavam os índios. A partir dos poucos registros existentes, pode-se vislumbrar a dimensão da barbárie realizada. A respeito, veja-se, por todos, o seguinte relato de Las Casas:

Os espanhóis, com seus cavalos, suas espadas e lanças começaram a praticar crueldades estranhas; entravam nas vilas, burgos e aldeias, não poupando nem as crianças e os homens velhos, nem as mulheres grávidas e parturientes e lhes abriam o ventre e as faziam em pedaços como se estivessem golpeando cordeiros fechados em seu redil. Faziam apostas sobre quem, de um só golpe de espada, fenderia e abriria um homem pela metade, ou quem, mais habilmente e mais destramente, de um só golpe lhe cortaria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria as entranhas de um homem de um só golpe. Arrancavam os filhos dos seios da mãe e lhes esfregavam a cabeça contra os rochedos [...] Faziam certas forcas longas e baixas, de modo que os pés tocavam quase a terra, um para cada treze, em honra e everência de Nosso Senhor e de seus doze Apóstolos (como diziam) e deitando-lhes fogo, queimavam vivos todos os que ali estavam presos. Outros, a quem quiseram deixar vivos, cortaram-lhes as duas mãos e assim os deixavam. (LAS CASAS, 1996, p. 30)

              Em resumo, os conflitos, a escravidão, a crueldade, os assassinatos em massa, a catequização e a difusão de doenças com varíola e rubéola foram os principais meios utilizados na chacina e matança dos indígenas, ocorrendo assim, a desintegração do sistema religioso, social e econômico. O presente trabalho foi elaborado com o intuito de mostrar o processo de conquista dos espanhóis que apresentou uma violência que se manifestou para além das espadas e da pólvora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 LAS CASAS, Bartolomé de. O paraíso destruído: brevíssima relação da destruição das Índias 6. ed. Porto Alegre: L&PM, 1996, p. 30. Sobre o genocídio na América Espanhola, ver LEÓN PORTILLA, Miguel. A visão dos vencidos: a tragédia da conquista narrada pelos astecas. Tradução de Carlos Urbin e Jacques Wainberg. Porto Alegre: L&PM, 1985.