O filme Freedom Writers (Escritores da Liberdade), dirigido por Richard LaGravenese, apresenta a luta empreendida pela professora, Erin Grunwell (Hilary Swank), recém-formada e com vários ideais de educação, para transformar a realidade com que se depara: uma escola norte-americana onde os alunos vivem e fazem parte de um clima hostil, marcado pela discriminação social e racial, e onde os mesmos se encontram apáticos diante de uma situação que não os dá a mínima margem de esperança de mudanças em suas vidas.

O enredo, baseado em eventos reais, aborda o empenho e coragem determinantes da professora Erin para reverter o quadro e, principalmente, cativar os estudantes para uma visão diferente de Educação que até então se lhes havia passado. Sua abordagem consiste em algo revolucionário para o sistema de ensino da escola, pautado em um tradicionalismo alienado das realidades sociais. A professora Erin revoluciona ao tratar o aluno com atenção, com preocupação e com dedicação de quem olha não para uma caixa que deve ser preenchida com fórmulas ou regras gramaticais, mas com um ser humano que tem sentimentos, emoções e que deseja ser amado e compreendido na sua totalidade de pessoa.

Unindo atenção, dedicação, carinho e buscando inserir-se nas dores e lutas quotidianas dos alunos, a jovem professora consegue mostrar que a Educação vai mais além e tem o papel fundamental de formar para a vida. Aos poucos e com muito sacrifício pessoal, ela consegue sensibilizar a todos demonstrando que eles têm valor, como no simples gesto de dar a cada um dos jovens um livro novo, contrariando os métodos utilizados na escola concretizados na fala da coordenadora pedagógica da escola de que "de nada adiantaria comprar-lhes livros novos se os alunos iriam rasgá-los, riscá-los". O efeito positivo é mostrado logo que Erin realiza o plano, com seu próprio dinheiro, de dar-lhes os livros novos, quando os alunos ficam maravilhados por terem algo que nunca haviam tido e que vai além de um livro novo, mas é a própria confiança depositada em cada aluno e o significado de que eles são merecedores de algo melhor.

Com a proposta de que cada aluno escrevesse sobre a sua vida em um diário, a qual é acatado livremente por todos, a professora depara-se com o sofrimento e tem compaixão, ou seja, não só compartilha dos sofrimentos, mas sofre com os seus alunos, tornando a sua relação com eles mais próxima, desmistificando o estilo catedrático e desinteressado do professor para com os alunos. A esse ponto, a relação que se estabelece é de confiança mútua e amizade, as quais a professora consegue refletir para entre os próprios alunos, mostrando que apesar das divisões, algo muito maior unia todas aquelas tribos de jovens: o desejo de viver em um mundo onde o sofrimento e a dor fossem menores.

De fato, a educadora que se é apresentada, à primeira estância como idealista utópica, consegue realizar o que parecia impossível, mostrar que as divisões de nada valem e que isto é algo que fora passado para aqueles jovens como um conceito sem fundamentação humana, mas apenas por ódio advindo e adquirido de conflitos anteriores entre os grupos. Erin une todos em um mesmo coração ao mostrar para aqueles alunos a história do nazismo, até então totalmente desconhecida deles. O sentimento de compaixão que brota no coração deles ao verem e ouvirem relatos e imagens do holocausto faz com que seus olhos se abram e as sombras que tampavam a visão deles se dissipassem, sublimando as divisões e lutas entre eles próprios ao se depararem com o reflexo de si próprios como continuadores de um holocausto, de um apartheid de vidas e sonhos que não devem mais ficar estagnados nas rixas e mágoas passadas, mas buscarem juntos a transformação.

Pode-se com coesão fazer uma analogia entre o filme Freedom Writers e o Mito da Caverna de Platão. Enquanto a professora exerce o papel do filósofo que conseguiu libertar-se e ir de encontro com a Verdade, os alunos continuam imersos nas sombras de uma realidade que ambiciona manter-se anacrônica como um ciclo vicioso, incapacitando a libertação do indivíduo. Enquanto estamos acostumados a olhar e refletir sobre o doloroso percurso do filósofo para se soltar das amarras que prendem o homem no reducionismo de valores, na impossibilidade de ver a luz sem distorções, na íngreme subida da auto-superação de valores e conceitos estratificados solidamente por anos de contemplação de aparências apenas, e na confrontação com a Verdade que queima os olhos por estarem imersos em sombras e inverdades; o filme apresenta o caminho de volta do filósofo/professora que busca levar esta mesma libertação que ela experimentou para os que continuam presos na escravidão do mundo das sombras, enfrentando desaprovação e enormes obstáculos iniciais, porém com êxito em sua missão como educadora. De fato, o exemplo dado pela professora Erin é sinal da necessidade pela mudança nos paradigmas enfrentados no mundo hodierno de uma educação artificial que não vai de encontro com as reais necessidades dos alunos. Urge, cada vez mais, uma educação para vida, uma educação que forme e que leve o indivíduo ao prazer pelo conhecimento, sendo levada, primeiramente, por estes à reflexão do valor do próprio ser humano como um todo e de suas realidades.