O PRESIDENTE LULA ME CONFUNDE A CABEÇA

(ou Lula em Copenhague – Um exemplo)

                                                  Por Marcelo C. P. Diniz

Na primeira eleição, eu votei nele. Acreditava que os governantes precisavam dar valor aos pobres, inverter o olhar. Parodiando Galbraith, eu queria que a sociedade fosse mais justa, que a pobreza estivesse “na consciência de todos, sua eliminação fazendo parte da política pública de todos”.

Fiquei orgulhoso com a eleição de Lula. Logo no primeiro dia ele declarou que o brasileiro tinha o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar. De forma absolutamente simples, ele sintetizou uma grande mudança no foco das políticas públicas, influenciando todas as áreas, inclusive a responsabilidade social das empresas.

Ao mesmo tempo, a administração pública mostrou-se inoperante para resolver questões prioritárias, como saúde, transportes e educação. Nem ao menos foi capaz de cumprir a maioria das promessas dos ministros. Veja algumas delas e dê uma nota àqueles primeiros 4 anos de governo, se quiser:

As cidades serão valorizadas.

Haverá muito mais moradias populares, financiadas pelo FGTS e outros meios (inclusive títulos de propriedade para os favelados).

As crianças serão preparadas para o mercado, com acesso à tecnologia digital.

A política do Meio Ambiente será transversal e estará presente em todos os setores da administração pública.

Uma redução da jornada de trabalho bem conduzida poderá criar novos postos de trabalho, aumentar o consumo e melhorar a economia.

Será aprovada a Bolsa-Atleta, que vai beneficiar todos os estudantes que se destacarem nos esportes.

Os exames vestibulares serão progressivamente substituídos pelas provas anuais do ensino médio, incentivando os estudos todos os anos.

Não haverá mais crianças analfabetas no Brasil. Haverá um censo dos meninos de rua e casas e escolas para todos.

O combate à corrupção terá uma superestrutura, as licitações federais serão mais transparentes, será o fim do nepotismo.

Os direitos humanos não serão apenas direitos civis, mas também direitos econômicos ao trabalho, à saúde, à educação.

Será lançada a Carteira do Primeiro Emprego

A política dos remédios genéricos será ampliada.

O Natal sem fome será o ano inteiro.

O que ficou cada vez mais evidente é que, no afã de obter apoios, o presidente era totalmente permissivo em relação à corrupção, um péssimo exemplo para todo o país.

Veio a campanha da reeleição. Votei no Cristóvam Buarque, mesmo sabendo que ele ia perder. Queria dar o meu apoio à sua proposta educacional.

Lula foi reeleito com mais de 58 milhões de votos, a segunda maior votação de todas as democracias ocidentais, o que confirmava o valor do seu pragmatismo na economia, na política e no discurso. Aliás, o discurso, em termos gerais, é genial – até quando nos coloca na merda, simplesmente porque ela é verdadeira e a linguagem é do eleitorado quase todo.

A minha cabeça é que não entende bem: como é que um sujeito tão mal educado pode ser tão inteligente? Como é que um sujeito cuja ética permite ter "disposição em fechar os olhos para escândalos quando lhe convêm", segundo The Economist, pode, em outras ocasiões, defender causas tão nobres e justas?

Lula, o filho do Brasil, foi saudado por Susan Sontang, da Academia Americana de Letras, como a única coisa boa que aconteceu no mundo nos últimos tempos. O que é isso? Mas fico inclinado a concordar com a Dona Suzana, que Deus a tenha, quando leio o que o presidente disse diante da cúpula mundial em Copenhague:

"Confesso que estou um pouco frustrado porque discutimos a questão do clima e cada vez mais constatamos que o problema é mais grave do que nós possamos imaginar... adoraria sair com o documento mais perfeito do mundo. Mas se não conseguimos fazer até agora esse documento, não sei se algum sábio ou anjo descerá nesse plenário e conseguirá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora".

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