O PRECONCEITO LINGUÍSTICO E SUA REPERCUSSÃO NA VIDA SOCIAL DO ALUNO - DESAFIO DO PROFESSOR

1 Introdução

Construímos este paper, tomando como ponto de partida os resultados das pesquisas realizadas sobre os fenômenos variáveis da língua à época da Especialização (2005) e do Mestrado (2007) , ambas realizadas na cidade do Recife. Nosso foco é o uso variável da língua e o preconceito que sofre nas relações sociais. Procurando entender os porquês do preconceito linguístico, uma vez que a diversidade é perceptível no uso natural da língua, este artigo trata da pressão psicológica que sofrem os usuários da língua, sobretudo, no ambiente de sala de aula, por não se apropriarem da chamada norma padrão. Entendemos, por conseguinte, que os estudos variáveis são a chave para desbloquear os entraves cognitivos dos alunos para compreender a língua materna.
Os falantes da norma culta, os universitários, conforme o Nurc, discriminam os não usuários da norma. Isso tem levantado alguns questionamentos entre os estudiosos da língua: que padrão é esse que privilegia o uso de alguns? Se a língua segue um padrão, por que tanta dificuldade no seu uso? Essas questões nos inquietaram a tecer algumas suposições e traçar nossos objetivos.
A dissimetria entre as normas da língua e o seu uso natural, na espontaneidade da fala e da escrita, tem sido um dos grandes entraves, senão o maior entrave, para a motivação ao estudo da língua e das regras impostas pela gramática normativa, cuja assimilação faz parte da prática pedagógica da escola de ensino tradicional. Ademais, a escola estimula o preconceito linguístico, tão combatido e tão imperceptivelmente enraizado na sociedade. Nosso objetivo precípuo é mostrar que os estudos variáveis são o caminho mais apropriado para despertar o interesse do usuário no estudo da língua, pois, a partir da aceitação das diversidades, ele pode elevar sua autoestima e tornar positivo o seu ethos.
Entendendo que o componente social não pode ser afastado dos estudos da língua, tomamos a Sociolinguística como a base norteadora das ideias por nós defendidas, por considerarmos seu objeto de estudo (a variação linguística) como chave para a compreensão dos processos evolutivos da língua. Para tanto nos apoiamos nos pressupostos teórico-metodológicos de William Labov, autor da Teoria da Variação, modelo que veio provar que a maior realidade da língua ? a variação ? ponto de partida para a mudança, pode ser estudada de maneira sistemática.
Dessa forma, este brevíssimo estudo vem a contribuir para despertar o professor em termos de levá-lo a refletir sobre a repercussão social dos estudos sociolinguísticos e sua pertinência na prática de ensino da língua, e ainda, desafiando as amarras da tradição, provocar em suas aulas, discussões em torno do combate ao preconceito linguístico.

2 Conflitos do usuário da língua

O grande conflito por que passa o usuário da língua está diretamente relacionado à distância existente entre o uso natural da língua e o que se convencionou chamar de norma padrão. Trataremos nas duas subseções a seguir sobre os entraves conceituais que percorrem a academia.

2.1 Língua, norma e uso

Há muitas controvérsias conceituais a respeito do que vem a ser norma na língua. Muitos autores de variadas correntes teóricas já debateram o conceito de norma, a exemplo de Coseriu (1973, p. 95) quando diz que a norma é a realização da língua e a fala, a realização da norma. Para esse autor, a língua é o código, a norma o subcódigo e a fala a realização individual do subcódigo.
Nesse entendimento, podemos elencar os variados tipos de norma: diatópicas e diastrásticas. O primeiro tipo das variantes coletivas são normas regionais, o segundo, variantes culturais, ou seja, são normas que destacam a diversidade cultural dentro de uma comunidade de fala, como por exemplo, a chamada norma culta, que segundo pesquisa do Nurc , estabelece como padrão de fala nacional a fala de universitários, e norma popular, considerada a vulgar. Sabemos, entretanto, que a língua vai num continuum do menos formal ao mais formal, como dizia o linguista Gomes de Matos , além de comportar as variedades sociolinguísticas. Há quem se refira à norma culta, como a norma de prestígio, nesse caso, vale questionar: o que vem a ser norma de mais prestígio? Qual o porquê desse prestígio? Para responder a tais questionamentos, vejamos o texto a seguir: "O português falado por classes mais favorecidas tem sua variedade prestigiada em detrimento de outras" (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 36). Segundo a autora, a norma de prestígio é a norma falada pela elite.
Quando Coseriu (1973, p. 90) afirma que a norma é "como se diz" algo e não "como se deve dizer", entendemos que o autor conceitua de norma o usual entre os falantes de uma língua, mas quando ele usa a locução verbal "deve dizer", então ele sinaliza para uma possibilidade de um uso que seria mais acertado para a língua. Infeliz na sua colocação sobre o uso, o autor abre espaço para instauração do de preconceito linguístico (Cf. seção 3). Afinal, o que é certo e errado em língua? Antes de passarmos à discussão, no próximo tópico, sobre as noções de erro, desvio e variação, vale recordar a metáfora do iceberg, segundo a qual podemos dizer que a gramática normativa busca descrever uma pequena porção visível da língua que alguns chamam de norma culta. Obviamente que não se pode desmerecer essa tentativa de descrição, mas devemos estar conscientes de que se trata de uma descrição parcial, não podendo assumir, não podendo ser aplicada para o resto da língua, pois o restante do iceberg está submerso, ou seja, as demais maneiras de dizer o mundo vão depender do uso, nem sempre essa compreensão é percebidos na superficialidade de regras e normas. Somente à medida que o usuário mergulha, ele vai descobrindo outras significações, outros usos. A pragmática determinará as normas, as quais estarão sempre a depender da língua em uso. Todo o problema das normas serem aplicadas a partir da ponta do iceberg reside na aplicação autoritária, intolerante e repressiva que impera na ideologia geradora do preconceito linguístico (BAGNO, 1999).
Há uma errônea visão que considera para cada evento que a língua oferece uma forma única de falar "corretamente" e outras formas "erradas", ou seja, as outras variantes são qualificadas como "erros". O que ocorre é que a língua oferece diversas formas de falar, e, em estudo diacrônico, percebemos que o oral guia a forma escrita que pode se tornar obsoleta, com o tempo. A escrita não muda a forma da fala, mas a fala, por sua vez, orienta a escrita.

2.2 Erro, desvio e variação

Em pleno século XXI, com tantos avanços dos estudos linguísticos e sociolinguísticos, ainda encontram-se estudiosos da língua que se dedicam a atividades de corrigir os "erros de Português" cometidos pelos usuários em uso espontâneo da língua.
Um dos autores mais debatidos entre os linguistas, pela veemência com que vem tratando o que considera uso errado da língua portuguesa, entre os falantes do Português do Brasil, é Pasquale Cipro Neto, cujo programa "Nossa Língua Portuguesa" lhe rendera muitas honrarias. O professor Pasquale é criticado como "purista da língua" e por se considerar "único conhecedor" das normas que regem o Português. Segundo Bagno (1999), a Língua Portuguesa parece ser uma flor que nasceu no jardim de Pasquale e somente ele é quem sabe como regá-la.
Quando se fala de certo e errado em língua, compreende-se uma ingenuidade no trato da língua. Afinal, qual o certo e o errado quando se está em jogo a construção de sentidos? As discussões entre gramáticos e linguistas sobre a noção de erro já vem contando algum tempo, fazendo-se necessário a compreensão da noção de "desvio" e de "variação". Esses termos se confundem entre os usuários da língua, por isso torna-se relevante esclarecê-los.
O parâmetro para considerarmos certo uso como erro, desvio ou variação é o que consideramos como norma culta. Tomando por base as pesquisas do Nurc, é considerada como norma culta, a fala espontânea de universitários, o que não significa seguir aos rigores da gramática prescritiva, a chamada norma padrão, estabelecida pelos gramáticos. Nessa perspectiva, chamamos de desvio, aquele uso que se afasta do uso da norma culta, nesse caso, há que se considerar como desvio da norma culta os usos de falantes da zona rural, que se afastam da norma linguísica urbana.
De acordo com Bortoni-Ricardo (2005), a sociedade valoriza o uso da chamada norma culta, tanto o erudito quanto o trabalhador braçal "todos admiram o "falar bem" dos que se comunicam mediante a variedade de prestígio do Português, cujas normas estão prescritas na gramática.

É interessante constatar que, nas sociedades modernas, os valores culturais associados à norma linguística de prestígio, considerada correta, apropriada e bela, são ainda mais arraigados e persistentes que outros de natureza ética, moral e estética (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 13).

Segundo a sociolinguista acima referenciada, para a sociedade, em geral, é mais fácil aceitar a diversidade de valores éticos, morais e estéticos do que a diversidade de usos linguísticos. Para Bordoni-Ricardo (2005, p. 14), tais valores culturais, em relação ao uso da norma prestigiada, ou seja, o prestígio relacionado ao Português-padrão pode ser questionado, desmistificado, apontado como influencia das desigualdades sociais, mas não pode ser negado, pois o comportamento em relação à língua "é um indicador da estratificação Social" .
Os variacionistas, por sua vez, vão de encontro à chamada norma culta, pois entendem que a língua não pode ser estudada sem considerar os usos não somente regionais, mas os diversos usos que se afastam da gramática prescritiva. Eles questionam a terminologia padrão, pois, segundo entendem, padrão mesmo é o uso flexível com que os usuários, na espontaneidade da fala, se comunicam. Uma característica inegável da língua é sua mobilidade; é seu caráter flexível. Há que se considerar, portanto, a variação linguística como inerente aos estudos linguísticos. Nessa perspectiva, a verdadeira norma seguida é a variação e a mudança, pois quando duas formas sobrevivem em tempo síncrono, dizemos que está em variação, quando ao longo do tempo uma das formas desaparece, sobrevivendo apenas uma das formas, entendemos que houve mudança.

3 Os estudos sociolinguísticos

À Sociolinguística interessa a relação entre a língua e a sociedade. São tantos e tão variados os assuntos que se chamam de estudos sociolinguísticos que nos levam a delimitá-los nessa discussão.
A sociologia da linguagem, por exemplo, trata dos fatores sociais relacionados ao uso da língua, no entanto, é um ramo das ciências sociais que se refere aos sistemas lingüísticos como instrumento das relações entre as instituições sociais (CAMACHO, 1984). Há também a Etnografia que descreve e analisa as formas dos eventos de fala; a Sociolinguística interacional, voltada para análise da conversação, e a Sociolinguística variacionista, área do nosso domínio de conhecimento, que trata da linguagem no contexto social.
Um sociolinguista vai recorrer às variações do contexto social para solucionar problemas da variação própria do sistema linguístico. Para tanto, observa a relação entre a estrutura da língua e a social. A sociolinguística tem por objeto de estudo a variação linguística e William Labov seu expoente maior.
A Teoria da Variação surgiu como modelo teórico-metodológico, em 1968, a partir dos estudos de Weireich, Labov e Herzog. Labov defendeu sua tese de doutorado lançando essa teoria, que também ficou conhecida como Sociolinguística variacionista, cujo objetivo era a descrição de uma língua e seus determinantes. A tais estudiosos importavam os processos fonológicos das estruturas linguísticas ao longo do tempo, ou seja, as transformações da língua nos níveis fonológico, lexical, sintático e semântico, e provar a sistematicidade da "variação", mostrando o seu fundamento e contextualizando-a. Esse modelo ia de encontro à questão da homogeneidade da língua, pois considerar a língua homogenia é fechar os olhos para o componente social. Weinreich, Labov e Herzog (2006, p. 29 apud CARVALHO, 2007) definiram os caminhos para o estudo da mudança linguística, a partir da aceitação do "axioma da heterogeneidade ordenada".
Nessa compreensão, passou a ser aceito e difundido na sociedade um modelo de descrição da língua e os fatores condicionantes de mudança, cujo objeto de estudo era a variação linguística. Seu objetivo principal é provar a sistematicidade de ocorrência de "variação" na língua, bem como apontar os fundamentos. Variação e mudança são processos interligados. Antes de ocorrer a mudança na língua, o fenômeno (ou "o fato" da língua, como querem os que entendem a ligação metodológica que a linguística tem com os métodos sociológicos) passa por um processo de concorrência, ou seja, duas formas concorrem pela permanência entre os usuários da língua, quando uma das formas prevalece, entrando em desuso a outra, dizemos que ocorreu a mudança linguística.
É tênue essa passagem, da variação para a mudança, por isso muitos estudiosos da língua, a exemplo dos adeptos da Linguística histórica preferem falar de mudança, sem se debruçar no estudo da variação como o fez Labov. Para os variacionistas, quando duas formas estão em concorrência, não são apenas co-ocorrentes, elas estão em variação de uso, e uma delas sofre preconceito, como veremos mais adiante nas próximas seções.

4 Preconceito linguístico ? o que é, como se dá

O preconceito é uma forma de rejeição humilhante que denigre o ethos da vítima, além de ser uma pressão psicológica de constrangimento. As pessoas têm preconceitos e os expõem dia a dia. Com o preconceito linguístico não é diferente. Segundo Stella Bortoni (Cf. seção 2.2), o maior dos preconceitos é o preconceito linguístico, porque ele está enraizado culturalmente.
Segundo a supracitada autora, é mais fácil para as pessoas viver de acordo com os valores éticos, morais e estéticos do que aceitar a variação da língua, uma vez que os usos variáveis estão associados à camada da sociedade menos prestigiada. Além do mais, esses mesmos atores sociais (usuários da língua) valorizam o uso da norma, aceitando, portanto, o estigma que lhes são imputados, de que falam "errado", de que não conhecem a própria língua. O preconceito é alimentado por e eles mesmos. O prestígio relacionado ao Português-padrão pode até ser questionado, mas não negado, pois o comportamento em relação à língua "é um indicador da estratificação Social" . O que poucos se dão conta é que a variação linguística não é "privilégio" dos não escolarizados, pois a variação também atinge a norma culta (CARVALHO, 2009).

4.1 O papel da escola

Até onde se estende as nossas pesquisas, a escola alimenta o preconceito linguístico entre os alunos, como a principal acusadora do que determina como "certo" e "errado", tanto em relação à escrita quanto no que diz respeito à oralidade.
A escola deve atentar para as principais mudanças que ocorreram no processo de ensino-aprendizagem nessas últimas décadas. Faz-se necessário considerar que o professor deve respeitar os aspectos culturais e linguísticos do aluno antes da escola, para assim desenvolver nele um sentimento de segurança e autoestima. Basta tão-somente que o professor procure preservar os saberes sociolinguísticos dos alunos, bem como os valores culturais, permitindo com isso que eles possam ampliar o grau de competência linguística e comunicativa, aprendendo a se comunicar em outras variedades, a depender das circunstâncias. Bortoni-Ricardo (2005, p. 26) alerta para uma análise prévia da comunidade de fala, em relação ao repertório verbal, ao que o aluno já tenha aprendido anteriormente no seu ambiente social. Com isso o professor estará se isento de preconceitos e oportunizando o aluno a um maior interesse pela língua favorecendo assim o processo de aprendizagem. Não se pode pretender substituir a linguagem e a cultura dos alunos de classes populares pela cultura dos de classe dominante, a cultura institucionalizada. Faz-se necessário, entretanto, que os primeiros tenham acesso à língua de prestígio por uma questão de ascensão social.

4.2 O desafio do professor ? a construção de um novo projeto pedagógico

Nessa nova dinâmica proposta, o professor orienta o aluno para a realização de uma pesquisa que envolva o uso da língua e esse aluno trará a sua pesquisa para ser analisada em sala de aula, por ele mesmo e pelos colegas. O aluno não terá que reproduzir o que o professor trouxe e explicou, de acordo com o seu próprio raciocínio. Pelo contrário, o aluno poderá confrontar o seu uso, o de sua comunidade com as prescrições da gramática normativa e perceberá por si mesmo a grande lacuna entre a fala e a escrita, entre a chamada norma padrão tão difundida, cujo ensino é obrigatório e o uso. O aluno terá condição de entender a sua realidade, e, a partir desse entendimento terá condição de compreender a diversidade linguística, consequentemente, passará compreender as prescrições gramaticais e por que elas não são seguidas pelos usuários.
O professor deverá trazer informações sobre a diferença existente entre a língua falada e escrita, a partir da distância entre os usos do Português de Portugal e do Português falado no Brasil. Ele pode trabalhar, por exemplo, a referência de João Cabral de Melo Neto às palavras de Gilberto Freyre sobre o nosso português: "ninguém falou em português no brasileiro de sua língua" . O sociólogo de Apipucos se referia à disparidade existente entre o português falado no Brasil e o português falado em Portugal, cuja semelhança é mais visível na forma escrita da língua, que está mais "presa" à Norma Gramatical Brasileira (NGB). Com tais palavras, o autor abre espaço para inferir-se a existência de duas línguas: o português e o brasileiro. Eis aí uma discussão crítica que pode instigar os alunos a opinar sobre a questão e oportunizar o professor a solicitar um trabalho de pesquisa, com gravação, entrevistas, etc, pela qual os alunos (individualmente ou em equipe) se sentirão estimulados ao conhecimento e à compreensão da língua portuguesa a partir da compreensão do fenômeno de variação. Além disso, podem contribuir de fato com os estudos variacionistas.
Nessa perspectiva, é necessário que o professor levante uma discussão crítica com os alunos sobre os valores sociais atribuídos a cada variação linguística, mostrando que o uso de algumas variantes é discriminado e que certas produções orais ou escritas devem ser repensado. A aprendizagem da língua torna-se mais fácil, a partir do entendimento de seu uso, para que possa melhor conhecer e se dá a conhecer.

6 Conclusões

Foi discutido nesse artigo o fenômeno da variação linguística como pressuposto para a redução do preconceito linguístico, uma vez que a partir da aceitação das diferenças linguística a ideia de certo e errado, em termos de língua, também se reduz. As abordagens nos mostraram que o professor, antes de tudo, deve ser um profissional compromissado com a educação, além de estar se consciente de que deve ser um canal que facilita o processo cognitivo do aluno em relação ao "bom uso" da língua materna, para isso deve está aberto às novidades da língua. Se, porém, partir para o radicalismo, por algum tipo de preconceito, não poderá motivar os aprendizes e não haverá, por conseguinte, compreensão satisfatória da língua, pois os alunos não estarão abertos às novas formas de uso e logo perderão interesse pelo estudo da língua, cujo uso nega que a língua segue um padrão.
A questão do preconceito linguístico foi outro ponto discutido que nos permite concluir que o melhor professor é aquele que não tem nem alimenta o preconceito linguístico e insere em sua prática de ensino temas que tratem da questão para serem refletidos com os alunos em sala de aula, pois livre das amarras da tradição, estará aberto a novas perspectivas, ao fenômeno da variação e à mudança linguística. Além disso, estará preparado para desconstruir no aluno a ideia de que fala errado, reduzindo com isso a baixa estima e dando-lhe a certeza de que é possível entender a sua própria língua e com ela interagir socialmente.
Para finalizar nossas conclusões, destacamos a relevância das pesquisas dos fenômenos variacionistas, e seu incentivo a partir de discussão crítica levantada pelo professor em sala de aula, pois entendemos ser essa discussão prévia um fator motivador para que o aluno conheça melhor as características da língua e se conscientize de que sua predisposição para aprender é inata, pois todos nós nascemos aptos para conhecer e nos dar a conhecer. O grande problema que fica aberto à reflexão é que o preconceito linguístico também é aprendido e ensinado, por isso o espaço escolar se apresenta como um grande desafio para o professor, a quem a escola confere um papel de destaque no processo de ensino-aprendizagem, cujo foco, ele, o professor avisado sabe, é o aluno.
Ademais, um professor avisado em relação aos conhecimentos sociolingüísticos vai entender a pertinência dos estudos lingüísticos variáveis e lutar para a sua inserção no projeto da política pedagógica da escola.


REFERÊNCIAS

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