Em O prazer do texto, Alice Vieira apresenta alguns subsídios e sugestões para os educadores que atuam nas escolas de 1º. e 2º. graus tanto nas administrações das escolas, quanto para os professores e estudantes dos cursos de graduação em Pedagogia e dos demais cursos que preparam professores para as diferentes áreas do ensino de 1º. e 2º graus.

Para Alice Vieira a escola não assume seu papel na formação de leitores, essa formação de leitores não depende apenas da eficiência da escola, uma vez que outros aspectos implicados no processo escapam a sua influencia. Qualquer sociedade preocupada com leitura e literatura não pode deixar de considerar sua ação como altamente relevante.

A Secretaria da Educação oferece meios que possam modificar o ensino de literatura. A organização de cursos de aperfeiçoamento e reciclagem de professores, a realização de fóruns de debates, onde os docentes possam discutir e trocar experiências, a criação de salas de leitura, a implantação e expansão de bibliotecas escolares, de bairro e circulantes, são algumas das iniciativas que concorreriam para a introdução de mudanças.

 Para que as mudanças possam ser iniciadas, é necessário que o professor adote uma concepção de ensino de literatura despida de preconceitos, afastada da tradição escolar e aberta a realidade cultural de nosso tempo.

Para Sartre, citado por Vieira, o leitor é assim imprescindível à existência da literatura de sorte que, sem ele, “o escritor poderia escrever tanto quanto quisesse que jamais a obra, como objeto, veria o dia” não se concebe o ensino de literatura sem a leitura de obras. Além da direção da escola não apoiar os professores, cria obstáculos à realização de qualquer atividade que fuja da rotina e da tradição da instituição. Em outros, ao contrario, a partir de sugestões ou propostas individuais, a escola desenvolve e coloca em prática projetos de ensino, incluindo direção, professores e alunos.

A leitura é importante para o crescimento intelectual, psicológico e social do homem. A Leitura traz não somente na decodificação do código linguístico, mas também na elaboração de sistemas de referencias e valores, imprescindíveis para a formação e o desenvolvimento do espirito critico. Muitos trabalhos tem ressaltado a importância do ato de ler, dentro e fora da escola, como forma de Conhecimento do Homem e do Mundo.

A estudiosa ao citar Bamberger, enfatiza que chega a afirmar que “o numero de crianças que leem é duas vezes maior do que o de adultos.” Para muitos o hábito de leitura sempre foi privilegio de uma pequena elite cujas condições sociais e econômicas favorecem o contato com livros, enquanto a maioria das pessoas nunca teve acesso à leitura, pela condição de analfabetismo. Para outros, a indústria cultural, dada a multiplicidade de seus meios de comunicação, a facilidade de acesso que oferece aos fatos e as noticias, a fragmentação de ideias seria um dos fatores responsáveis pela falta de hábito de leitura. E entre os meios de comunicação de massa, a televisão é o veículo mais criticado. A Televisão e Leitura estabelecem relações entre assistência à televisão e hábitos de leitura.

A autora lembra que Mareuil salienta que o numero de não leitores aumenta nas séries finais, ao contrário do que era esperado, a televisão, o rádio e o cinema não influenciam, diretamente, as horas de leituras do adolescentes, assim leitores e não-leitores dedicam quase o mesmo número de horas as atividades paralelas, todavia o tempo dedicado ao rádio e a televisão e muito maior do que o dedicado a leitura. A seleção de heróis, a influência do rádio e da televisão foi decisiva quase todos são personagens de folhetins, homens políticos ou vedetes.

Estudiosos Chalvon, Cazeneuve, Himmelwwit, têm opiniões semelhantes. A maioria dos telespectadores não lia nenhum livro quando não havia televisão e os bons leitores continuaram a sê-lo, independentemente dos meios de comunicação. Aceitando-se como correta a ideia de que a televisão não e a principal responsável pelo aumento de não leitores, precisamos então buscar outras causas que o expliquem.

Na formação de futuros leitores considera-se o convívio intenso da criança com livros e leitores. È na primeira infância que se forma o hábito de leitura, devido, em grande parte, à atitude dos pais em relação aos livros, convém chamar a atenção para o fato de hábitos de leitura dos pais influenciarem a atitude dos filhos. Ouvir historia, brincar de ler são alguns dos fatores que estimulam e despertam, nas crianças, o prazer pela leitura. As crianças adquirem hábito de leitura através da imitação. A infância e considerada, pela Psicologia, o momento mais apropriado para a formação de hábitos duradouros.

Segundo Vieira, Barker e Escarpit estão entre os autores que recomendam o maior contato possível com livros e leitores na primeira infância. Para eles a influência exercida pela família, no que se refere ao gosto pela leitura, é maior do que a exercida pela escola. Assim, “a criança que toma contato com o livro pela primeira vez quando entra na escola costuma associar a leitura com a situação escolar, principalmente se não há leitura no meio familiar”. Se o trabalho escolar é difícil e pouco compensador, a criança pode adquire a aversão pela leitura e abandoná-la completamente quando a deixar a escola.

A importância de um ambiente familiar rico em estímulos literários e linguísticos na aquisição do hábito de leitura. O aluno que cuja família tem um bom ambiente cultural, considerando-se fatores como leitura, livros, revistas e jornais, nível de escolaridade dos pais, frequência a eventos culturais.

Para os autores Barker e Escarpit, a escola dependendo do método e técnicas empregados em sala de aula, pode destruir o interesse do aluno pela leitura. A escola é considerada então como outro elo na cadeia das possíveis causas responsáveis pelo aumento de não leitores entre jovens e adultos.

Escola e leitura sempre caminham de mãos dadas, o objetivo fundamental da escola é ensinar a ler e a escrever. A escola passa por inúmeras transformações e adaptações correspondendo às exigências das sociedades que representa.

Zilberman, citada por Viera, oferece-nos uma visão histórico-politica das relações escola e leitura, apontando as contradições existentes na politica que estimula o desenvolvimento da prática da leitura. Para a autora essa politica apresenta de certo modo um aspecto contraditório, na medida em que a leitura de um lado pode levar o homem à emancipação pela aquisição do saber e de outro pode provocar sua conformação à ideologia da classe dominante, expressa nos livros.

Cabe à escola alfabetizar, despertar e estimular o gosto pela leitura, não é menos verdade que lhe cabe também a tarefa de transformar seus alunos em leitores críticos, auxiliando o desenvolvimento de espíritos atuantes, capazes de mudar, de algum modo, a sociedade em que vivemos. A escola como instituição não cumpre a contento seu papel de tornar a criança alfabetizada em leitor critico e constante.

            È por meio da leitura que o homem moderno entra em contato com as diversas formas de conhecimento, capacitando para atuar e participar na sociedade, são por meio da leitura que ele se introduz no mundo imaginário, desenvolvendo não apenas sua sensibilidade e seu gosto artístico, mas também ampliando sua maneira de ver e de entender o mundo.

            Vieira destaca ainda que Rocco preocupa-se com certa desvalorização da literatura em favor de outras formas de expressão, ligadas mais diretamente a imagem. Assim, desenvolveu uma pesquisa exploratória sobre o ensino de literatura, com alunos e professores de 1º. e 2º. Graus, em escolas da Capital. Esse trabalho, que conta, também com depoimentos de críticos e professores universitários envolvidos com o ensino de literatura, levantou criticamente diversos aspectos que impedem o desenvolvimento satisfatório dessa disciplina, no curso secundário, com o as atividades desinteressantes e pouco estimulantes do ponto de vista intelectual.

            São dirigidas muitas criticas á escola como instituição que preserva um tipo de ensino conservador e reprodutor, dificultando desenvolvimento de alunos críticos e criativos.

            Coloca-se uma ênfase exagerada na leitura de obras clássicas, na memorização de datas, nomes e autores, obras e escolas, tornando seu ensino desinteressante e desvinculado de qualquer prazer que o aluno possa ter em relação ao texto literário.

Após as modificações a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo publicou a Proposição Curricular de Língua Portuguesa para o 2º Grau, na qual pretendia oferecer elementos para o planejamento dos docentes, como seleção consciente de conteúdos, métodos e atividades mais adequados a sua clientela.

Segundo a Proposta Curricular, o ensino de literatura deve ser desenvolvido em dois momentos: estudo do texto literário e estudo da historia da literatura. O primeiro encontra-se vinculado ao do texto em geral, e os objetivos específicos apresentados oferecem ao professor orientação segura e detalhada. A metodologia sugeria para o estudo do texto literário pode ser aplicada ao do capítulo ou da obra literária, uma vez que não há qualquer indicação nesse sentido.

Essa Proposta Curricular enfatiza o papel desempenhado pelo professor, como condutor do processo pedagógico, ressaltando sua capacidade de decisão quanto à escolha de conteúdos e de métodos de ensino. Ao partir do principio de que cada escola, dada à diversidade sócio-econômico-cultural dos alunos, apresenta realidades educacionais diferentes, seus autores delegam ao professor a tarefa de elaborar e desenvolver programas de leitura adequados a sua clientela.

O ensino de uma disciplina envolve três vértices: professor, aluno e conteúdo. Eles se vinculam a fatores políticos, econômicos, sócias e culturais que, direta ou indiretamente, o influenciam, determinam e controlam. O professor pode ser considerado o vértice mais importante da relação, na medida em que detém o domínio do conteúdo a ser ministrado, do saber. É por esse intermédio que o aluno entra em contato com a matéria, limitada e selecionada pelo mestre. Cabe a ele escolher a forma como esse saber será ensinado. Métodos e técnicas são também de seu domínio.

Ao compararmos os objetivos propostos pelos professores aos apresentados na Proposição Curricular de Língua Portuguesa, observamos a existência de uma correlação entre os mesmos. Os objetivos é ampliar a compreensão dos fenômenos literários, desenvolver a capacidade de apreender os elementos significativos da cultura, estimular a leitura, análise, discussão e produção de textos literários constituem o núcleo comum das duas propostas.

Na opinião dos professores a respeito da atitude de seus alunos diante de textos literários e do ensino de literatura, fornece-nos elementos importantes para uma melhor compreensão do que ocorre em sala de aula. Seus alunos demonstram prazer e interesse pelo ensino de literatura e por textos literários. Interesse e prazer condicionados à natureza dos textos e das obras literárias indicadas e estudadas, bem como ao entusiasmo demonstrado pelo próprio mestre.

De acordo com seus professores, os alunos preferem textos contemporâneos, de estrutura narrativa tradicional com personagens. Ao mesmo tempo em que se inclinam a leitura de contos e crônicas, romances de aventuras, policiais e ficção cientifica, rejeitam os textos considerados “clássicos” que, por sua temática e complexidade linguística, exigem leitores mais experientes e amadurecidos, poucas vezes encontrados nas escolas de 2º. Grau.

De acordo com Vieira, a principal reclamação dos professores refere-se à falta de hábito de leitura em geral e ao desinteresse pela leitura das obras literárias indicadas no curso o que corrobora a ideia de que os jovens não gostam de ler e preferem “assistir televisão” como disseram alguns professores confirmando as pesquisas realizadas em outros países.

È necessário que se ofereça ao aluno certa sistematização de análise para o estudo de texto. È nesse sentido o professor estaria mais capacitado do que o autor do livro didático, pois convivendo com seus alunos, conhece suas possibilidades e dificuldades de leitura, podendo encaminhá-los de melhor forma na descoberta de significados de textos.

Ainda de acordo com Vieira à visão tradicional do ensino de literatura apresentada pelos livros didáticos, acrescenta-se outro fator; os exames vestibulares. A escolha de excertos de obras literárias, a elaboração de determinados tipos de exercícios, a reprodução de provas já realizadas demonstram o quanto vestibular faz parte das preocupações dos autores desses manuais.

O aluno centraliza a ação do processo ensino-aprendizagem na medida em que sua formação é o objeto declarado, tanto da atuação do professor quanto da política educacional independente das ideologias que motivam uma ou outra ação.  Em sala de aula, o aluno reage ao professor, aceitando, recuando, modificando ou transformando suas propostas de trabalho.

O aluno assimila os conteúdos e reage ao trabalho desenvolvido nem sempre correspondendo às expectativas do mestre e à avaliação da sociedade. As expectativas desses educandos não se concretizam em termos de ensino, criando-se então uma situação de malogro, cujos efeitos atingem, de um modo ou de outro, a sociedade como um todo.

Vieira cita Barthes, apaixonado pela literatura, que expressa de forma radical em sua aula o sentimento que todos os professores de literatura gostariam de ver confirmado por seus alunos. Sentimento este que situa a literatura não só acima de todas as disciplinas, mas como sintetizadora de todo conhecimento.

Vieira salienta que o estudo da literatura, para a maioria dos alunos, associa-se intimamente ao estudo de historia da literatura, revelando o que ocorre efetivamente nas aulas. Historia da literatura remete a uma visão historicista, preocupada, sobretudo com a descrição de fatos, enumeração de nomes, datas e dados biográficos ou com a repetição de juízos críticos ou valorativos de obras que não são lidas ou analisadas. A importância da literatura e a necessidades de leitura, tanto como forma de prazer e de evasão quanto como meio de aumentar conhecimentos e de desenvolver, a capacidade intelectual, foram freqüentemente afirmadas.

De acordo com Alice Vieira a leitura feita por jovens precisa ser de sua preferencia e com ajuda do professor para indicar os autores e obras. As leituras feitas pelos alunos talvez não correspondam às expectativas e aos objetivos propostos pela maioria de professores das escolas. A nosso ver a escola deve privilegiar e estimular a leitura de obras ficcionais, cujo valor estético e literário pode ser avaliado e compreendido, em trabalhos pedagógicos desenvolvidos em sala de aula.