O POLÍTICO
Publicado em 15 de setembro de 2010 por Henrique Araújo
O POLÍTICO
Apesar dos pesares, Manuel resolveu ser político. Viu que era a única profissão que dava dinheiro no momento. Isto por várias razões como: mexia e ficava com o dinheiro de todo o mundo e ninguém falava nada, não precisava ir às sessões parlamentares e ganhava do mesmo jeito, havia sempre um bando de puxa-sacos ao lado, dando tudo o que ele quisesse, poderia fazer leis proibindo os outros de fazerem tudo aquilo de que ele não gostasse.
Filiou-se a um partido. Resolveu ficar nesse partido até que o mesmo se desgastasse, depois passaria para o que estivesse mais forte e assim sucessivamente.
Houve festas, bate-papos, aperto de mãos e comícios. Manuel foi convocado para fazer o seu primeiro discurso e começou:
- Minhas senhoras e meus senhores, hoje estou aqui, quando não devia estar, pois estou com minha mulher doente, passando muito mal, mas eu assumi um compromisso com as bases e terei de cumpri-lo. Eu me candidato a vereador. É uma missão dura, trabalho muito, uma vez por semana, salário de fome, apenas 150 salários mínimos por mês, mas eu resolvi me arriscar para o bem de minha cidade. Nunca fui político, é a primeira vez, nunca puxei saco de político, minha candidata era mulher, sou uma pessoa pobre, por isso não posso ajudar ninguém. Posso provar que sou pobre e para isto vou virar meu bolso para vocês. Nos bolsos de minha calça não há dinheiro algum, (ele tá de calça nova - gritou alguém na população). É claro que estou de calça nova, vocês não queriam me ver aqui sem calça, ou queriam? (pelo menos seria mais sincero). E assim meus amigos, conto com vocês no dia 1o. de novembro. Farei tudo que estiver ao meu alcance.Vou calçar toda a cidade. ( ora esta, disse o povão, se está toda calçada), farei escolas ( pra quê, se as que têm estão caindo e os professores morrendo de fome), colocarei vídeo nas escolas ( o quê, com os alunos sentados no chão, bebendo água da fossa? Farei uma estrada ligando o Brasil ao Pacífico, (Epa! Não há nem estradas no município) Farei hospitais ( pra mais gente morrer na fila), darei comida aos pobres ( só se for lavagem), vestirei os mendigos ( com saco de linhagem), darei trabalho à população (serem garis sem salário), colocarei os marginais e os especuladores na cadeia (com refeição, cafezinho, água gelada, Tv a cores, telefone celular), enfim, farei tudo aquilo que nem um outro já fez. Tenho capacidade para isto. Foi por isto que me filiei a este
partido, porque os outros estão falidos, estão mortos e com eles os políticos dessa cidade, incluindo aí o prefeito e os seus comparsas.
O prefeito estava presente e o povo se agitou. Foi um reboliço geral. Manuel não percebeu muito e continuou:
- É bem verdade que bebi um pouco no passado, nada demais. Somente uma dosinha aqui, outra ali, outra acolá, de vez em quando, a todo dia, a toda hora, devagar e sempre. Nunca exagerei, tanto é que no outro dia eu nada sabia de nada. Também trabalhei na cooperativa da cidade. É claro que cheguei a levar alguns trocados para casa, nada demais, apenas uns reaizinhos de vez em quando. A cooperativa faliu, não tenho culpa. Quem aí acha que tenho culpa aponte o braço. Foi um corre-corre total. Todo mundo saiu com um pedaço de pau para cima dele que só então desconfiou do drama e tratou de salvar a sua pele. É isto, meus amigos. E eu já vou-me embora, tenho que ir ao hospital ver minha véia que está muito ruim e até logo e tenho dito.
Manuel saiu abrindo caminho no meio da multidão e se safou com muita dificuldade. Estava encerrada a carreira política de nosso caro varão.
Quanta mentira ele pregou neste pequeno discurso. Até mesmo falou que sua mulher estava hospitalizada, sendo que nem mulher ele tinha ainda.
Apesar dos pesares, Manuel resolveu ser político. Viu que era a única profissão que dava dinheiro no momento. Isto por várias razões como: mexia e ficava com o dinheiro de todo o mundo e ninguém falava nada, não precisava ir às sessões parlamentares e ganhava do mesmo jeito, havia sempre um bando de puxa-sacos ao lado, dando tudo o que ele quisesse, poderia fazer leis proibindo os outros de fazerem tudo aquilo de que ele não gostasse.
Filiou-se a um partido. Resolveu ficar nesse partido até que o mesmo se desgastasse, depois passaria para o que estivesse mais forte e assim sucessivamente.
Houve festas, bate-papos, aperto de mãos e comícios. Manuel foi convocado para fazer o seu primeiro discurso e começou:
- Minhas senhoras e meus senhores, hoje estou aqui, quando não devia estar, pois estou com minha mulher doente, passando muito mal, mas eu assumi um compromisso com as bases e terei de cumpri-lo. Eu me candidato a vereador. É uma missão dura, trabalho muito, uma vez por semana, salário de fome, apenas 150 salários mínimos por mês, mas eu resolvi me arriscar para o bem de minha cidade. Nunca fui político, é a primeira vez, nunca puxei saco de político, minha candidata era mulher, sou uma pessoa pobre, por isso não posso ajudar ninguém. Posso provar que sou pobre e para isto vou virar meu bolso para vocês. Nos bolsos de minha calça não há dinheiro algum, (ele tá de calça nova - gritou alguém na população). É claro que estou de calça nova, vocês não queriam me ver aqui sem calça, ou queriam? (pelo menos seria mais sincero). E assim meus amigos, conto com vocês no dia 1o. de novembro. Farei tudo que estiver ao meu alcance.Vou calçar toda a cidade. ( ora esta, disse o povão, se está toda calçada), farei escolas ( pra quê, se as que têm estão caindo e os professores morrendo de fome), colocarei vídeo nas escolas ( o quê, com os alunos sentados no chão, bebendo água da fossa? Farei uma estrada ligando o Brasil ao Pacífico, (Epa! Não há nem estradas no município) Farei hospitais ( pra mais gente morrer na fila), darei comida aos pobres ( só se for lavagem), vestirei os mendigos ( com saco de linhagem), darei trabalho à população (serem garis sem salário), colocarei os marginais e os especuladores na cadeia (com refeição, cafezinho, água gelada, Tv a cores, telefone celular), enfim, farei tudo aquilo que nem um outro já fez. Tenho capacidade para isto. Foi por isto que me filiei a este
partido, porque os outros estão falidos, estão mortos e com eles os políticos dessa cidade, incluindo aí o prefeito e os seus comparsas.
O prefeito estava presente e o povo se agitou. Foi um reboliço geral. Manuel não percebeu muito e continuou:
- É bem verdade que bebi um pouco no passado, nada demais. Somente uma dosinha aqui, outra ali, outra acolá, de vez em quando, a todo dia, a toda hora, devagar e sempre. Nunca exagerei, tanto é que no outro dia eu nada sabia de nada. Também trabalhei na cooperativa da cidade. É claro que cheguei a levar alguns trocados para casa, nada demais, apenas uns reaizinhos de vez em quando. A cooperativa faliu, não tenho culpa. Quem aí acha que tenho culpa aponte o braço. Foi um corre-corre total. Todo mundo saiu com um pedaço de pau para cima dele que só então desconfiou do drama e tratou de salvar a sua pele. É isto, meus amigos. E eu já vou-me embora, tenho que ir ao hospital ver minha véia que está muito ruim e até logo e tenho dito.
Manuel saiu abrindo caminho no meio da multidão e se safou com muita dificuldade. Estava encerrada a carreira política de nosso caro varão.
Quanta mentira ele pregou neste pequeno discurso. Até mesmo falou que sua mulher estava hospitalizada, sendo que nem mulher ele tinha ainda.