As primeiras décadas após a Revolução Francesa foram conturbadas e repletas de conflitos. Naqueles dias, nos quais a sociedade ainda tentava se adaptar às mudanças provocadas pela revolução, o jornalismo surgia como grande ferramenta de poder. Mais do que apenas um meio de transmitir informações, era um verdadeiro mundo de intrigas, interesses, corrupções e muito dinheiro, no qual vencia quem tivesse maior influência. E é esse o mundo que é apresentado no livro Ilusões Perdidas, de Honoré de Balzac.

Utilizando personagens típicos da época, como a dama da nobreza do interior entediada e o burguês que almeja um título de nobreza, Balzac conseguiu descrever com bastante precisão a sociedade de então, mostrando inclusive as difíceis relações sociais entre a nobreza e a burguesia, e o conflito entre os ideais monarquistas e liberais. Ele também ilustra perfeitamente os teatros e meios editoriais, os quais funcionavam, assim como o jornalismo, à base de interesses alheios e muito dinheiro.

Através de Lucien Chardon, poeta do interior que acaba se tornando jornalista, Balzac mostra os bastidores da competitiva e injusta indústria da comunicação, onde um jornalista poderia, a partir do uso de sua pena, destruir ou alavancar a carreira de um ator, escritor ou político. Lucien, no entanto, apesar de ambicioso e talentoso, é um tanto ingênuo, e acaba por construir um castelinho de areia que não tarda a desabar.

O jovem poeta deixara sua cidade natal rumo à capital, Paris, com o desejo de se tornar um conhecido escritor. Levava consigo um livro de poesias, um romance histórico e muitas esperanças. No entanto, não consegue vender suas obras e precisa trabalhar como jornalista para se sustentar. A entrada dele no meio jornalístico é o cerne da história, a qual acaba com a total destruição dos sonhos e ilusões do poeta, o qual desiste da vida na capital e volta para casa, totalmente desiludido e desesperançado.

Apesar de se ambientar na França no século XIX, Ilusões Perdidas tem muitos elementos atuais, e por isso leva o leitor a refletir. Numa sociedade globalizada como a atual, a imprensa que uma força imensa e, apesar de não ser tão corrompida quanto a retratada por Balzac, ambas tem muitos pontos em comum, o que é preocupante levando-se em consideração o poder de alienação que ela possui.