O Planejamento Educacional

Na educação, assim afirma Gandin “a pergunta supõe, certamente, a busca de um posicionamento (sempre pronto e sempre provisório) a respeito do homem e da sociedade, a respeito da pedagogia. É um duplo posicionamento: político e pedagógico”.
Político – Visão do ideal da sociedade e de homem e pedagógico no sentido de uma definição sobre as características que deve ter a instituição planejada.
Para Gandin, “O planejamento educacional é um processo de abordagem racional e cientifica, dos problemas da educação, incluindo definição de prioridade e levando a relação entre os diversos níveis do contexto educacional”.  
Nesta perspectiva, o planejamento do processo ensino aprendizagem é uma forma de intervenção na realidade para o qual os valores educacionais são fatores determinantes nesse planejamento para se atingir os objetivos maiores da educação.
Recordando, o planejamento é uma atividade política e social em toda e qualquer área da educação, dada a sua intervenção em mudanças de estrutura social. Por sua vez a educação é um processo social contínuo dinâmico, que se destina a promoção do homem, ser circunstancialmente situado e que a função da sociedade deve estar a serviço de tal promoção.
Isso deixa claro a existência de uma intrínseca relação entre sociedade e educação, por esta ser historicamente, encarada e evoluída das mais diversas maneiras, nas diferentes épocas de acordo com a visão sócio cultural de cada sociedade. Os conceitos atribuídos à relação sociedade e educação, são inúmeros variados de acordo com as tendências dos seus doutrinadores. Cabe aqui retrospectiva histórica dos movimentos sociais que lutaram por espaços democráticos junto aos órgãos públicos.
Segundo a literatura brasileira das últimas décadas, os movimentos sociais possuem características como:
- Se desenvolveu autonomamente através da população carente e marginalizada.
- Os pesquisadores se dedicaram em campos específicos como a educação e ciências sociais.
Nos anos 70 houve o auge da produção literária sob os movimentos sociais, onde ocorre o crescimento da produção dos movimentos sociais e o inverso com a educação popular.
Princípios e métodos da educação popular nos movimentos sociais populares dos anos 80.
Os principais grupos de movimentos populares são as assessorias articuladas, as igrejas, Universidades, partidos políticos, instituições governamentais nacionais e internacionais.
Os anos 50 trouxeram uma grande quantidade de estudos embasados no nacional desenvolvimento ganhando destaque os estudos sobre raças, cultura, costumes e idiomas.
Nos anos 60, houve uma grande influência da sociologia francesa, onde se dá o início a estudos sobre a realidade brasileira, com propostas de uma sociedade mais justa e igualitária.
A produção da época empenhou-se na reflexão sobre a América Latina e paralelamente desenvolveu-se programa de educação popular. A educação era um instrumento apresentado como técnica, mas, que na realidade tinha características políticas.
Na década de 70 ocorreu a sistematização e as críticas aos programas e métodos da educação popular, que busca alternativas para a saída do regime militar.
A educação popular entrou em moda e vários grupos intelectuais começaram a participar dos movimentos sociais de reivindicações para melhorias urbanas. Há uma ruptura em como a educação popular é concebida, deixa-se de levar o material pronto para se trabalhar nos grupos e passa-se a construir esses materiais no coletivo.
A educação deixa de ser só alfabetizadora, e assume um caráter de politização junto aos movimentos sociais.
Ao lado desses movimentos surgem programas do Governo como o Mobral e Minerva que tentaram usar o mesmo espírito de “direito social”, desenvolvido pelos movimentos sociais.
Nos anos 80, com uma política neoliberal, que visavam recuperar as práticas do capitalismo selvagem, houve um aumento das políticas assistencialista.
A educação popular, especialmente, o sistema Paulo Freire, prega o resgate da cidadania definida como obtenção das condições dignas de subsistência, direito à saúde, educação, lazer, através de uma ação pedagógica conscientizadora que deveria atuar sobre o nível cultural da camada popular nos pontos de interesses comuns.
Após uma década de estudos sobre os problemas sócio-econômicos e políticos do cotidiano popular podemos observar que não foram formulados realmente projetos populares a partir das manifestações das bases populares, os projetos foram formulados com vistas aos interesses das assessorias. Assim, vários movimentos populares entraram em crise e a produção teórica a respeito da educação popular estagnou-se.
A crítica à teoria da marginalidade foi substituída por variadas matrizes de investigações como o negro, a mulher, movimentos sindicais, religiosos e outros.
Entendemos que não há movimento sindical puro, todos estão impregnados por presenças de elementos externos ao grupo de base, que pertencem a outra categoria, mas, com o objetivos e ideologias em comum nos movimentos sociais, a educação é autoconstituída no processo educativo a partir de diferentes fontes como experiências de contato, pelo exercício de repetição, realidade social, desmistificação das autoridades.
O saber popular politizado, tornou-se uma ameaça às classes dominantes à medida que levava a reivindicações de espaços nos aparelhos do estado. Há uma tentativa de delimitar o poder dos movimentos sociais e conselhos consultivos, que continuaram com os seus problemas estruturais de base.
Os movimentos populares provocaram uma alteração das relações sociais no planto coletivo nos anos 80, os movimentos sociais de caráter popular, orientaram alguns avanços democráticos onde se obteve a sociedade civil.
Os movimentos sociais vão perdendo força e permitem a rearticulação da classe dominante, onde o Projeto Collor é a expressão máxima dessa rearticulação.
Vê-se, então, que o objetivo da educação diz respeito de um lado a identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro, a descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo.
Daí a maneira de refletir que a sociedade e a escola se relacionam de tal modo que um bom sistema de ensino escolar constrói uma boa sociedade.
Nesta assertiva, o planejamento educacional envolvendo os aspectos da sociedade em que o homem vive, será o instrumento norteador para a elaboração das atividades da escola, abrangendo todos os seus segmentos através de uma reflexão e uma lógica, sobre a realidade social complexa, mediada pela apropriação do conhecimento científico, confrontando com as diferentes representações da realidade.
Cada etapa e cada aspecto das atividades ou a ação planejada devem estar de acordo com os fins pretendidos e com a realidade concreta que os determinam.
Cada ação é acompanhada pela reflexão que provoca o aprimoramento da ação anterior na medida em que se torna mais adequada a situação concreta desafiadora.
Desta forma, o planejamento educacional passa a ser um ato político direcionador da ação pedagógica que, norteado pela realidade concreta, se modifica a partir das transformações desta realidade.
Assim concebido, vê-se então que o processo educativo é o resultado de um conjunto de relações sociais e relações com o conhecimento. É um fenômeno histórico e social, logo só pode ser compreendido no contexto social, particular em que acontece.
Assim entendido, nessa ótica, fazem parte à relação entre a escola e o sistema oficial de ensino, a relação entre escola e famílias, a relação entre escola e a comunidade, a relação entre todos os segmentos da escola, as formas de organização física e administrativa, o planejamento, os conteúdos, as metodologias, os livros, textos, entre outros.
Assim posto, conclui-se que a escola, como o centro irradiador do saber sistematizado, influi e recebe influencias da vida e da sociedade a que pertence, seja no sistema capitalista, seja no sistema socialista, ou em outro sistema qualquer, a escola será o reflexo do conceito de cidadania em cuja sociedade está inserida.

GADOTTI, Moacir. Escola vivida, escola projetada. 2° edição. Papirus, Campinas/SP, 1993.
GANDINI, Danilo. Planejamento participativo. Vozes, Petrópolis/RJ, 1994.
Planejamento como prática educativa, 7° edição. Loyola, São Paulo, 1997