O PESSIMISMO REFLEXIVO DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE EM NO MEIO DO CAMINHO E VINÍCIUS DE MORAES EM POÉTICA
Publicado em 25 de abril de 2017 por Marcus Vinícius Souza e Souza
Resumo: Este trabalho tem por finalidade analisar a poesia de Carlos Drummond de Andrade, comparando-a com a poesia de Vinícius de Moraes, em que a temática é voltada ao existencialismo, desse modo discernindo o segundo movimento modernista do primeiro, onde o primeiro momento passa a ter como eixo temático a sociedade, que através da poesia expressava a revolta e inconformidade dos artistas da época. Já no segundo momento os poetas tinha a preocupação com a existência humana e o social.
Palavras – chave: Existencialismo. Modernismo. Poesia
O pessimismo de Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes
Em suas produções poéticas, os poetas em questão em sua especificidade ao segundo momento modernista passam a utilizar temáticas voltadas ao pessimismo, imediatismo, o irracionalismo, o nacionalismo.
Bosi (2006), assinala que a segunda geração modernista tem como característica fundamentais, além do pessimismo, imediatismo, irracionalismo e nacionalismo enxergar os problemas da pátria, que utiliza versos livres mas também utiliza a forma clássica, linguagem essencialmente coloquial de ritmo fácil, que contém hibridismo e tom agressivo.
Desse modo convém mencionar que estas características não tem mais o intuito de chocar, mas sim de mostrar o estado em que o poeta se encontra, ele tendo a livre arbitrariedade de se expressar.
Análise do poema ‘‘No meio do caminho’’
O poema ‘‘No meio do caminho’’ possui duas estrofes compostas por um quarteto e um sexteto, nos quais a temática desenvolvida pelo autor é o pessimismo e a reflexão sobre a vida. De acordo com o dicionário de língua portuguesa o quarteto é uma instancia entre quatro versos.
‘‘No meio do caminho’’
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
(Andrade )
Neste poema nota-se recursos de linguagem como eufemismo, sendo o ato de suavizar a expressão de uma idéia, substituindo a palavra apropriada por outra. Esta figura de linguagem situa-se no seguinte trecho: ‘‘na vida minhas retinas tão fatigadas’’, neste sentido a palavra retina é referente a visão, quanto a palavra fatigada refere-se ao cansaço.
Entre os demais recursos de linguagem identificados estão a inversão, que como o próprio nome informa, inverte a posição das palavras. Esta característica é identificada no fragmento: ‘‘no meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho’’.
Segundo Candido (1985, p. 76), em relação ao terceiro verso menciona que ‘‘ a leitura optativa a partir do terceiro verso confirma que o meio do caminho é bloqueado topograficamente pela pedra, antes e depois,e que os obstáculos se encadeiam sem fim.’’
Diante deste posicionamento é nítida a maneira na qual a pedra faz alusão às dificuldades e bloqueios encontrados na vida, desse modo caracterizando o pessimismo do poeta.
O ultimo recurso de linguagem identificado nesta análise foi anáfora, sendo a repetição do mesmo vocábulo no início de cada um dos membros da fase, que se justifica nas frases: ‘‘tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho’’. Conforme a acepção de Achcar (1993, p. 8), as pedras fazem alusão as dificuldades encontradas no caminho da vida.
Análise do poema ‘‘Poética’’
O poema poética de Vinícius de Moraes, o qual será analisado sob a temática do pessimismo reflexivo, tem por intuito mostrar que esta característica ocorre de maneira diferenciada em relação ao poema ‘‘No meio do caminho’’ anteriormente analisado.
‘‘Poética’’
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O oeste é meu norte
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço
- nem tempo é quando
No poema em questão, nota-se uma sequência cronológica que fica clara nos versos: ‘‘De manha escureço/ De dia tardo/ De tarde anoiteço/ De noite ardo.’’ Moisés (2008), explica que a primeira estrofe deste poema começa por uma ordem cronológica de dia, tarde e noite.
Na segunda estrofe a temática proposta desdobra-se nos seguintes fragmentos: ‘‘A oeste a morte/ Contra quem vivo/ Do sul cativo/ O oeste é meu norte.’’ Nestes versos é possível notar o estado pessimista do poeta, que são voltados a existência de modo a refletir sobre a vida e a morte.
Na terceira e quarta estrofe, percebe-se que Vinícius de Moraes utiliza jogo de palavras: ‘‘ Outros que contem/ Passo por passo/ Eu morro o ontem/ Nasço amanhã/ Ando onde há espaço/ nem tempo é quando. ’’ Estas passagens da poesia fazem parte da ideia que o autor quer mostrar sobre o início e término da vida, de maneira que as reflexões transpõem o estado de espírito do poeta.
A métrica deste poema é composta por dois quartetos e dois tercetos, neles nota-se a presença de figuras de linguagem como sonoridade que é identificada pelas terminações (escureço/ anoiteço), (tarde/ ardo), (morte/norte) e (contem/ ontem).
Antíteses que são palavras que se opõe , que no poema em questão justificam-se no seguinte fragmento: ‘‘tarde/ anoiteço’’.
Considerações finais
Mediante a esta análise, deduz-se que no primeiro poema analisado o pessimismo é identificado de forma explicita, de modo a afirmar que de algum modo havia uma pedra ali, assim podendo dizes que neste poema a pedra refere-se às dificuldades da vida como obstáculos, assim caracterizando o pessimismo reflexivo neste contexto.
No segundo poema foi possível verificar que o pessimismo de Vinicius de morares ocorre de maneira diferenciada de Carlos Drummond de Andrade, pois os mesmos assumem estilo diferencial voltados a temática do existencialismo sobre o estado pessimista do poeta, pois cada um passaria a sentir sensações diferentes que posteriormente tornariam-se temáticas em seus poemas.
Referencias
ACHAR, Francisco. A rosa do povo e claro enigmas: Roteiro de leituras: São Paulo: Ática, 1993.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira- Modernismo. São Paulo: Perspectiva, 2006.
CANDIDO, Antonio. Inquietudes na poesia de Drummond in vários escritos. Cultix, 1985.
INFANTE, Ulisses. Gramática- Prosa modernista. São Paulo, 16º Ed, 2005.
MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira. Modernismo. Atualidade, 2008.