Anos atrás, era muito comum, nas zonas rurais e cidades de interior, talvez nem em todas as cidades, isso em Minas Gerais, o almoço de domingo ser especial com a tradicional macarronada, seja ela com molho simples ou com pedaços de lingüiça que sempre era "pura", de carne de porco, fabricada em casa, pois, também era comum "engordar" um porquinho. Essa macarronada, geralmente, era servida, em especial, nos aniversários, batizados. Quando a família se reunia fora essas datas o frango é que predominava.

Tal qual o porquinho, este também era criado nos quintais. Levantava-se cedo e na hora do trato observava-se o "perna amarela", assim era chamado, que estaria na hora do abate. Era tudo feito de forma muito artesanal e, com um processo muito demorado.

Sempre que se servia o frango, que estava na panela, e esta panela sempre era uma caçarola, não se usava colocar em travessas, ali não estavam os melhores pedaços que eram as coxas, sobre-coxas, ou santo antônio como era chamado, e o peito, estes eram tirados à parte para o PAI e os demais eram para as visitas que por ventura estivessem em casa e, finalmente para os demais. Para a mãe e as crianças ficavam com os pés, pescoço, cabeça, asas e as costelas. As mães, geralmente, "educavam" as crianças a este respeito e normalmente não havia reclamações. Este ensinamento tornava-se não somente um costume, mas, um valor, assim como em outras histórias.

Hoje em dia nas zonas rurais ainda existe o perna amarela, mas o costume não é mais comum e nas cidades foi extinto de vez, pois hoje se compra o frango em pedaços podendo a pessoa escolher se as coxas que sempre são acompanhadas da sobre coxas ou somente o peito assim como outros pedaços. Passam-se a realizar as comemorações em restaurantes ou clubes.

Pretende-se aqui não falar de outras histórias, mas sim fazer uma reflexão sobre a questão dos valores.

Quando se fala em valores logo se pensa na questão da moral e da ética. Para melhor elucidar essa reflexão, o dicionário Michaelis nos auxilia com as definições de valor, moral e ética.

valor va.lor sm (lat valore) 1 Filos Caráter dos seres pelo qual são mais ou menos desejados ou estimados por uma pessoa ou grupo.

moral mo.ral adj (lat morale) 1 Relativo à moralidade, aos bons costumes. 2 Que procede conforme à honestidade e à justiça, que tem bons costumes. 3 Favorável aos bons costumes. 4 Que se refere ao procedimento.

ética é.ti.ca sf (gr ethiké) 1 Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É ciência normativa que serve de base à filosofia prática.

Não serão aqui discutidos os termos em sua essência, mas, mostrar o quão importante é para entender a influência destes na formação da personalidade e no caráter.

Hoje em dia é muito comum pais, em especial as mães, procurarem ajuda em consultórios de psicólogos, psicopedagogos para estes darem uma "solução" de como devem agir perante situações consideradas catastróficas quanto aos procedimentos dos filhos sejam estes crianças, adolescentes ou jovens.

Tem-se como os casos mais comuns, quando crianças, a desobediência, responder, agitação, dentre outros, nas escolas tornou-se, de certa forma, comum prescrever o diagnóstico de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) aos alunos que por vezes, tem comportamentos "desajustados". "O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD1.

Pode-se perguntar: Não seria falta de limite?

Quanto aos adolescentes surge a questão do vício com as drogas tanto "lícitas", aquelas que são liberadas como: o cigarro e o álcool e, as ilícitas que são a maconha, cocaína, crack e outras, embora se tenham muitas crianças que já estão viciadas e, quando jovens surge a questão do trabalho, a gravidez e alguns furtos até mesmo para sustentar o vício.

Está se vivendo um momento difícil na sociedade.

Será que houve uma inversão de valores?

O pai passou a comer as costelas, o pé, a cabeça na esperança de que se o filho (a) comesse o melhor pedaço, enxergaria, com vislumbre, um mundo melhor e, nesse contexto, ele, o pai, perdeu a autoridade. Autoridade em si traz o respeito, conseqüentemente o valor, a moral e a ética.

O adolescente e o jovem contemporâneo de certa forma acredita ser ele sempre o "dono da verdade" entra em discussões com agressividade, "do nada e por nada", com seus pais, por querer resolver "coisas" que por vezes não deveriam e nem caberiam tais discussões.

"Vemos o mundo não como ele é, mas como nós somos - ou seja, como fomos condicionados a vê-lo. Quando abrimos a boca para descrever o que vemos, na verdade descrevemos a nós mesmos, nossas percepções, nossos paradigmas. Quando as outras pessoas discordam de nós, imediatamente achamos que há algo de errado com elas²". "Os paradigmas são poderosos, pois eles criam as lentes através das quais vemos o mundo³". Este ver o mundo não no sentido estritamente visual, mas sim em termos de percepção, compreensão e interpretação.

Com isso, perdeu-se completamente o controle. Acabam as reuniões de família. Acaba o temor a Deus. "O temor do SENHOR é o principio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino4". Temor no sentido de reverência. A saúde mental que se fortalece com os bons costumes, com os princípios ideais da conduta humana se esvai.

Pode-se notar que, não de forma generalizada, muitos males e conflitos que há dentro da sociedade, nascem na família, que é assim chamada célula máter da sociedade. É como uma doença maligna que afeta o corpo sem que se perceba, a esta doença pode-se dar o nome de DesestruturaçãoFamiliar. Essa desestruturação tem como causa a falta de diálogo, e diálogo aqui não somente como bom papo, mas, se comunicar tendo feedbacks positivos. Compreende-se como feedback sendo o mesmo que retroalimentação, dar um retorno, uma resposta de forma bem elaborada para aquilo que foi perguntado ou indagado.

Não se fala mais, mas, grita-se. Cada um no seu quadrado. Não se ouve mais, mas, tenta-se adivinhar o que o outro tenta dizer, assim que ele começa a falar. Isso é muito comum quando as crianças começam a falar, não está havendo paciência. Ouvir implica paciência, mente aberta e vontade de compreender, e isso, deve primeiramente acontecer no próprio eu, pois, se não imponho limite e controle a mim mesmo como poderei inculcar no outro tal preceito. Pode-se dizer que mais importante que ouvir é saber o que fazer com o que ouviu, ou seja, não importa saber sobre determinado fato é necessário que se tome consciência. "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele5".

Quando se pensa em família, pensa-se em grupo que mesmo com todas as divergências ajam em comum acordo. "A família atual tem que funcionar como uma equipe. Todos unidos em função de uma meta. Famílias sem metas hoje se perdem como embarcações a vela que vão para onde os ventos levam6".

Não é tarefa fácil a convivência familiar, a educação de filhos, mas, também não é difícil e, com certeza pode-se acreditar em uma chance remota da impossibilidade.

"Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam ... Como flechas na mão o valente, assim são os filhos da mocidade7"

1¹ http://www.tdah.org.br/oque01.php

² ³ Covey, Stephen R. Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, pags. 41e 46

4 Bíblia Sagrada. Provérbios cap. 1 v. 7

5 Bíblia Sagrada. Provérbios cap. 22 v. 6

6 Tiba, Içami. Família de Alta Performance, pag. 154

7 Bíblia Sagrada. Salmos 127 v 1a, 4