O Haiti das riquezas naturais, praias e mares, fauna e flora; o Haiti do povo alegre, forte; uma terra que deixou Colombo estupefato pela beleza ainda no século XV; esse é um retrato não publicado. Sabe-se de um país da centro-américa, dos mais paupérrimos do mundo (147º dos 177 pelo IDH), que viveu na ditadura, foi explorado em todos os sentidos. Lembra-se do exemplo de fraqueza e dor que ele expressa, mas não da força e grandeza da sua gente, das vitórias conquistadas.

Apenas em 1991 a conhecida "Ilha Ispaniola" foi democratizada. Tal fato foi marcadamente decisivo na história do povo haitiano, que era completamente submetido a políticas dominadoras de Estados estrangeiros. O passado se manifesta no presente com a miséria financeira do país, diretrizes governamentais mal sucedidas, baixíssimo nível de educação das pessoas, etc.

Contudo, foi o povo negro dessa nação que lutou de maneira exemplar contra a subserviência, sendo o primeiro país das Américas a se tornar livre. Com o seu irrisório desenvolvimento, dada a carência de recursos físicos e humanos, bem como o isolamento geográfico da Ilha, o povo haitiano foi submetido aos governos ditatoriais militares que acabaram por conduzir o país a dar quase todo seu recurso à França, a título de dívida. Outra contradição é que o então maior ajudador financeiro desse país exerceu um papel dominador, rechaçando a liberdade do povo, de 1915 a 1934. Aos Estados Unidos se atribui a maior ajuda e um dos maiores fracassos da nação.

A região, sempre carente de recursos, padeceu de ajudas relevantes por parte de todo o mundo até agora. Assim como fizeram com as nações latino-americanas e africanas, que foram desnutridas de recursos quando da dominação brutal por parte dos países desenvolvidos à época, também ocorreu nessa Ilha. Aqui, com um peso muito maior. O desenvolvimento nacional foi barrado e o progresso industrial praticamente inexiste. E tudo sem uma contraprestação efetiva por parte dos exploradores.

Foi necessário uma catástrofe de 7 graus na Escala Richter, com epicentro 15 km a sudoeste de Porto Príncipe, 10 km de profundidade, aproximadamente 300 mil mortos e 1 milhão de desabrigados, para que um processo de reconstrução dessa sociedade tão hostilizada fosse iniciado.

Está se desencadeando um processo de soerguimento não só físico, mas moral e ético diante de um povo, que há muito deveria ter sido alvo de um mover internacional em prol do seu desenvolvimento. Embora os dados sejam impressionantes e estarrecedores, eram previsíveis. E, apenas pelo assolamento, pôde-se confrontar os Entes Internacionais para conduzirem as ações de revitalização daquela sociedade. Trata-se de uma ajuda coletiva e ação determinada de todos os continentes solidarizando-se às necessidades emergenciais daquele povo. Ora, não deveria existir conflitos políticos ou de superioridade entre os países ajudadores, mas tão somente um sentimento de cooperação.

Contudo, foram vistas até mesmo guerras de poder no estabelecimento das missões de ajuda humanitária. Conceitos marxistas também estiveram presentes nos pronunciamentos de alguns comandantes das Forças Armadas, um verdadeiro cunho político para saber quem será mais notado como "generoso". Fala-se em aspectos sociológicos e filosóficos quanto à cultura, história política, desenvolvimento popular, etc.

Além do conflito ideológico, várias outras facetas da sociedade mundial se afloraram. A dubiedade das forças da Organização das Nações Unidas foi aludida por alguns críticos, dadas certas atitudes atribuídas a esse Órgão Internacional, como certa chacina de rebeldes haitianos, onde vidas inocentes acabaram por ser também punidas. A calamidade pública que se instaurou com o terremoto de grandes repercussões apenas é ensejo para se desvendar ações desastrosas, por parte de países, que já aconteciam. Tais informações foram publicadas pela mídia internacional, sem muita repercussão, mas querendo demonstrar que muita verba pública já estava sendo utilizada para a manutenção de Forças Armadas no Haiti, ao invés de serem destinadas para ações realmente humanitárias.

A mão-de-obra haitiana é extremamente barata, o que também gerou certa cobiça de empresas internacionais para usufruírem desse serviço. E, para não perder o domínio imperialista, o Exército internacional muitas vezes é usado para conter as Forças sindicais e os movimentos populares, estudantis e de bairro. Hoje, esse país precisa ser muito mais erguido e apoiado socialmente, despertando um sentimento nacional e patriota, do que em outras tantas áreas em que também está carente.

Até o conflito de Cuba com os Estados Unidos teve alguma repercussão. O país de Fidel, ao liberar os céus para a ação dos aviões americanos, em prol da ajuda humanitária aos haitianos, de certa forma amenizou um conflito e deu abertura às relações diplomáticas ainda insuficientes. Vê-se também que a tropa de soldados dos EUA é exagerada tendo em vista o tamanho da população, aqui há uma medida clara de intervir nas mobilizações sociais.

São 20 mil soldados norte-americanos; acrescidos os estrangeiros soma-se 30 mil, para 9 milhões de pessoas. Os gastos com a manutenção dessas tropas desde o ingresso das mesmas é bem superior ao do valor dispensado para as ajudas humanitárias. Ora, esse povo está em uma situação extremamente vulnerável, mudanças no pensamento coletivo são naturais nessa fase de transição de um país. Assim, nenhum país tem o Direito de intervir nas manifestações pacíficas do povo, bem como influenciar seus movimentos políticos. Antes, apoiar o desenvolvimento e garantir estabilidade enquanto a nação vai ganhando autonomia.

Urge levar ao povo haitiano condições de crescimento, atendendo às necessidades que a própria sociedade tem clamado. E o que será mais útil é a cooperação efetiva de todas as nações nesse processo de formação e consolidação filosófico-social. Por certo, a manutenção da vitalidade física, com os alimentos; política, ajudando no processo de eleição que ocorrerá e de segurança com o Exército, são de grande valia. Entretanto, deve ser dada maior atenção às prioridades que se confundem com a própria existência daquela sociedade, dada sua importância. E observados os princípios de preocupação desmotivada de interesses egoísticos quando da ajuda humanitária, mas dotada de cunho absolutamente solidário a um país que num futuro não muito distante pode ser um forte agregado à Ordem Mundial.