O PARADOXO DA CRIMINALIDADE

Dois empresários bem sucedidos discutiam durante o almoço de quinta-feira.

__ Imagina, Delgado, aqueles vagabundos acabaram roubando uma Pajero, tiraram a mãe e a criança à força de dentro do carro e ainda roubaram mais um Gol para fugir. Acabou a paz, acabou o sonho, ninguém tem mais segurança.

__ É verdade, o crime cresceu demais.

__ É por isso que eu digo, tinha que passar um Napalm naquela Rocinha, varrer aquela imundície do mapa.

__ Também não é assim. A grande maioria dos moradores da Rocinha é gente de bem. Hoje, por exemplo, consegui uma laqueadura de trompas para a minha empregada. Levei seis meses para conseguir, seis meses! E você sabe que eu sou amigo de gente influente. A Maria José tem três filhos, um de cada marido. E para trabalhar deixa as crianças com "uma dona" porque não tem creche. Como é que os filhos dela vão se formar?

__ Isso não é problema meu, eu pago meus impostos.

__ Mas ela também paga. Paga toda vez que compra comida, caderno ou qualquer outra coisa.

__ Então, o Governo que resolva. E pena de morte pra tudo que é vagabundo que anda por aí. Ainda tem gente que quer desarmar a população. Eu vou é comprar uma metralhadora. Quero ver...

__ Meu caro, a sociedade é composta de Governo, civis e ONGs. O quarto setor é o crime. Mas se nós não dermos as mãos para conseguir planejamento familiar, creches, escolas e saúde para os pobres, não se esqueça que eles assistem a mesma TV Globo que nós, têm os mesmos anseios.

__ Eh! Mas a luz deles é gato. Isto aqui é o único país do mundo onde pobre pode tomar do rico e não acontece nada. O sujeito faz tráfico de drogas na Indonésia e o Governo pede clemência. O que é isso? Tem que ter pena de morte!

__ Ou bala para nós dois e nossos filhos. Não se pode produzir desigualdade durante séculos e esperar que os miseráveis não produzam criminosos. Até porque eles sabem que tem rico roubando merenda escolar, tem rico roubando remédio do SUS, tem rico roubando tudo que é imposto que eles também pagam, sem falar dos usuários de drogas que estão por todo lado. E a responsabilidade dos consumidores, não existe?

__ Você virou Robin Hood, agora?

__ Não, meu caro. Só estou querendo dizer que sem educação e solidariedade o crime não vai diminuir. A polícia, se funcionar, é um paliativo. Até porque as cadeias são fábricas de degenerados. O sujeito sai de lá pior do que entrou.

Corta a cena. No dia seguinte o Delgado abriu a porta eletrônica da garagem da sua casa e ela quase bateu na cabeça de um senhor idoso que passava pela calçada. O velhinho veio indignado:

__ Essa porta não tem sirene, não? Eu quase quebrei a cabeça! Tem que armar a população! Tem que armar a população!

PS: O AUTOR LANÇOU NOVO MOVIMENTO NA POLÍTICA: