Muito tem se falado sobre a importância ambiental da Amazônia, mas e a social?

A região amazônica brasileira, que engloba não apenas o estado do Amazonas, mas também partes do Mato Grosso, Pará, Acre, Roraima e Amapá vem sendo explorada economicamente desde o séc.XIX. Primeiro com ciclo da borracha, depois com o início da extração da madeira e de metais e pedras preciosas (ouro, prata, diamantes) e mais recentemente com a exploração do petróleo, de minérios como o ferro e das atividades agropecuárias.

Por conseguinte, o extrativismo vegetal tem surgido nos últimos anos, como um tema importante nos debates sobre desenvolvimento na Amazônia, pois o mesmo representa uma opção econômica para um segmento considerável da população rural desta região.

Apesar das limitações, este uso da terra continua sendo praticado por uma ampla gama da população amazônica. E, embora não existam dados precisos sobre o número de praticantes do extrativismo, muitas entidades acreditam ser consideravelmente alto. Em áreas de floresta intacta, além dos tradicionais seringueiros e coletores de castanha, a extração de produtos não-madeireiros é comumente praticada pela população ribeirinha ao longo da extensa rede fluvial da região (ITTO, 2006). Esta extração, mesmo não sendo tão lucrativa quanto às outras, é de extrema importância para a sobrevivência para a população.

Entretanto, a rápida expansão da pecuária, da agricultura, da extração de madeira em grande escala e do garimpo ameaça as áreas ocupadas por populações que dependem de tais recursos.

Surge então o conceito de reservas extrativistas, criado por um pequeno movimento de seringueiros no Acre na década de 80, que visa garantir o direito de populações locais à exploração de recursos florestais não-madeireiros, tais como borracha, castanha-do-pará, açaí, babaçu e outros. Este movimento a favor das reservas extrativistas ganhou força com o assassinato do líder sindical Chico Mendes, em dezembro de 1988.

A partir daí, as reservas extrativistas passaram a ser consideradas como novo paradigma de desenvolvimento para a região amazônica, recebendo apoio de uma ampla frente de organizações não-governamentais, universidades, instituições de pesquisa, e agências de desenvolvimento dentro e fora do País, como atesta o IBAMA (online): “As Reservas Extrativistas são espaços territoriais destinados à exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis, por população extrativista. Em tais áreas é possível materializar o desenvolvimento sustentável, equilibrando interesses ecológicos de conservação ambiental, com interesses sociais de melhoria de vida das populações que ali habitam.”

Apesar da opinião contrária de alguns analistas, é preciso que se esclareça a denominação “Extrativista” para estas reservas, pois as mesmas não são criadas apenas com este objetivo. Desta forma, as reservas extrativistas podem ser consideradas como reservas de desenvolvimento sustentado, nas quais atividades econômicas baseadas na extração de produtos da floresta, na agricultura, na criação de animais domésticos, assim como na industrialização destes produtos, podem ser desenvolvidas desde que se atenda à critérios de sustentabilidade e de retorno social, conforme sugere o professor Antonhy Anderson “Por constituir atividade produtiva ajustada às condições naturais de considerável extensão da superfície amazônica, o extrativismo auto-sustentado faz das reservas extrativistas uma forma adequada e moderna de ocupação destes espaços e uma das alternativas ao desmatamento na Amazônia”. Do ponto de vista econômico (com inegáveis reflexos sociais), portanto, busca-se a transformação de uma economia dependente do extrativismo para outra baseada em sistemas agroflorestais.

Contudo, a proposta de modernização do extrativismo enfrenta problemas e obstáculos consideráveis a superar. Há ceticismo e expectativa. Aspectos culturais e econômicos impedem que as populações dos países amazônicos percebam o potencial econômico ecológico do extrativismo na região.

Talvez a mudança dessa situação exija uma política de reformulação global da atividade econômica na floresta tropical, envolvendo desde o estabelecimento de novos ramos de atividade, até o marketing dos produtos cultivados nas reservas extrativistas (açaí, babaçu e outros) no exterior. Um grande passo já foi dado, graças a desenvoltura com que o movimento dos seringueiros tornou o conceito vitorioso em tão pouco tempo, mostrando a sua vitalidade.

Tomara que as reservas extrativistas em pouco tempo se tornem uma realidade política e um modelo de unidade de conservação na Amazônia Afinal, é mais do que justo que a população desta região tão explorada e esquecida do nosso país tenha direito a uma vida mais digna.

Neste sentido, afirma Anderson (1994), “as reservas consolidam o encontro pioneiro do sindicalismo rural com o ambientalismo no Brasil. Exprimem luta de classe e ecologismo e realizam a reforma agrária dos seringueiros. Além disso, pretendem ser um dos pilares de um projeto moderno para a Amazônia: uma economia sustentável de produtos da floresta”

Assim, pensamos nestas possibilidades não de forma excludente, mas em concomitância com muitas das atividades agronegociais em marcha na Amazônia. Afinal se vivemos em uma sociedade cada vez mais “regulada” pelas orientações dos mercados, é importantes termos alternativas para geração de emprego e renda em todas as regiões.

  

Referências

 

ANDERSON, A. et al. O destino da floresta: reservas extrativistas e desenvolvimento sustentável na Amazônia. Relume Dumará, 1994. 339p.

 

IBAMA. Reserva extrativista. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/resex/resex.htm>. Acesso em 25 nov. 2011.

 

ITTO, Organização Internacional de Madeiras Tropicais. Produção não-madeireira e desenvolvimento Sustentável na Amazônia: diagnósticos do extrativismo em eixos de análise. SARMENTO, T. R.; PASTORE JR., F. (orgs.). Brasília: UNB, 2006. Disponível em: <www.lateq.unb.br/produtos/diagnostico.doc>. Acesso em: 26 nov.