O PAPEL É O PRESENTE

"Papel aceita tudo." Essa citação é a de milhões de lábios que leem mentes. O papel já retratou meu passado, marcou época. Fiz vários papéis.
Já lamuriei, através dele ? o papel ? registrei momentos, visões, pensamentos, crenças, medos, anseios, felicidades... enfim, já fiz o papel.
O papel de filho não foi bem sucedido. Ficou amarelado, manchado e esquecido. O de amigo, não sei. Deve, em algum lugar, ter sido guardado o meu papel de amigo. O papel queimado apagou lembranças de amizades e experiências. Ainda assim, estava fazendo o um papel: papel de quem quer recortar um presente, anular um passado. Cretinice!
A vida é o principal papel.
"Papel aceita tudo" Não! Aceita só o que se quer mostrar e o que se quer que seja visto e para isso é preciso elaborar, ignorar, priorizar e registrar.
Meu papel é fazer com que mentes adolescentes façam o papel e escreva, leiam o que diz o papel. Simples? Para quem quer mudar a página, sim.
Quero ser e fazer o papel mais importante: o de ser lembrado. Vaidade humana! Eu o sou, não posso negá-la.
Papel.Vocábulo polissêmico, porém pronto para construir versos, poesias, sonhos, compromissos, contratos, leis. É no papel que os maiores acontecimentos descobrem sua verdade, sua realidade.
Outro papel perfeitamente incompreendido é o papel de mãe. Preciso retratar os paradoxos, mas o papel social não aceita, todavia é evidente.
Papel marcante, cortante, pois aniquila ao mesmo tempo que cria arestas. Só o papel para aceitar.
O papel revela o balbuciar de lábios inocentes e condena a própria existência. No passado, é só história; no futuro, o papel renega a alvura que lhe é peculiar. O papel é presente.