Introdução

A Psicopedagogia, como ciência nova que é, nasceu da busca pela compreensão das dificuldades de aprendizagem encontradas nas instituições de ensino. Ao ser verificado esse problema, a primeira providência que se tem notícia, como estudo científico, aconteceu na França, ainda no século XIX.

A conduta aplicada aos infantes em dificuldade de aprendizado foi a medicalizante, por observar-se apenas a constituição física, o ser biológico. Não levando em consideração as demais partes do ser humano, enquanto ser físico, social, histórico, filosófico, afetivo.

Outra conduta também aplicada no sentido de resolver a questão, foi a tentativa de reeducação, onde os alunos entravam em processo de adequação à escola, e não, a escola ao aluno.

De qualquer maneira, foi um primeiro olhar, válido, é fato, mas não o suficiente para entender e resolver a questão.

Em um segundo momento, a Psicopedagogia surge no ambiente científico como uma ciência com caráter interdisciplinar, pois o estudo do saber e do não saber engloba caminhos que passam pela neurologia, psicologia, linguística, fonoaudiologia, nutrição, entre outros.

O Psicopedagogo, profissional que carrega no peito o desejo de contribuir para o caminho do aprender, em seu contexto mais completo, surge no ambiente científico como aquele que é aberto ao diálogo com as várias áreas do conhecimento humano, onde não deverá haver espaços para territorialismos frios e descabidos, uma vez que o foco é cada um contribuir para que o fim seja alcançado: O APRENDIZADO.

 

1 O Papel do Psicopedagogo

Psicopedagogo: quem é esse profissional?

O Psicopedagogo é o profissional que tem por objeto de estudo o processo de aprendizagem, em todas as suas delicadas nuances. Deve trabalhar em parceria com outros profissionais em caráter de interdisciplinaridade, pois, seu foco estará nas dificuldades da aprendizagem.

O aprender, processo vital da sobrevivência humana, passa pelo crivo do olhar holístico. Pois, o ato de aprender não se prende exclusivamente ao intelectual erudito e suas vertentes, mas, a toda uma gama de experiências e vivências.

Sabemos que o aprendizado não acontece apenas nas salas de aula, pois ele continua no ambiente familiar, na localidade onde o aprendente está inserido, que são também fontes de estudo do Psicopedagogo.

Cabe então ao Psicopedagogo destrinchar esse emaranhado de nós, desfazendo-os e ajudando ao ser aprendente a despertar o desejo constante do eterno aprender. Onde ele mesmo, em vários momentos, observa-se e torna-se também objeto de estudo.

Sendo a Psicopedagogia uma modalidade de estudo que lida com o processo de aprendizagem, “pode-se pensar a Psicopedagogia como o espaço para o qual convergem diferentes áreas do conhecimento cujo campo de atuação seria identificado pelo processo ensino/aprendizagem.” (ANDRADE, 1998)

“A Psicopedagogia, neste contexto, deve ser entendida como uma área interdisciplinar que pretende compartilhar as reflexões, pesquisas e atuação dos aspectos relacionados ao processo ensino/aprendizagem” (ANDRADE, 1998). Mesmo porque nenhuma área de estudo, nenhuma ciência pode arvorar-se como detentora da verdade absoluta. Surge, então, a condição de trabalho formando parcerias, com áreas do conhecimento que por si só não conseguirão responder aos questionamentos, aos por quês da dificuldade de aprendizagem apresentada, o Psicopedagogo entra no eixo como o profissional que recebe o ser aprendente para analisar, em várias perspectivas, porque o aprendizado não está sendo levado a efeito.

Então, unindo conhecimentos nas áreas da linguística, do desenvolvimento neurológico, do processo filosófico e sociológico do ser humano, além da psicologia e psicanálise, forma-se seu embasamento teórico, tendo a plena consciência que esse estudo jamais será estático ou concluso.

Ser Psicopedagogo é estar certo de que o estudo disciplinado será sempre sua fonte de atualização, porque cada uma das ciências utilizadas para compor seu instrumento de trabalho passará sempre por atualizações, novas metodologias, novos componentes, novos aparelhos, ou seja, é atualizar-se permanentemente. Da mesma forma que é imprescindível cientificar-se da sua área de atuação, não ultrapassando esses limites.

Uma vez identificadas limitações no ser aprendente que independem de sua atuação, como por exemplo, limitações neurológicas ou psíquicas, o encaminhamento ao profissional de direito deve ser efetivado, pois, não está em sua competência passar o CID(Classificação Internacional de Doenças).

“Os Psicopedagogos devem seguir certos princípios éticos que estão condensados no Código de Ética, devidamente aprovado pela Associação Brasileira de Psicopedagogia , no ano de 1996.” Onde, no Capítulo III – Das relações com outras profissões, Artigo 7º, temos:

 “O psicopedagogo procurará manter e desenvolver boas relações com os componentes das diferentes categorias profissionais, observando, para este fim, o seguinte:

a) Trabalhar nos estritos limites das atividades que lhe são reservadas.

b) Reconhecer os casos pertencentes aos demais campos de especialização, encaminhando-os a profissionais habilitados e qualificados para o atendimento.”

 

2 O Atendimento Psicopedagógico

Iniciada na França e influenciando consideravelmente na Argentina, a Psicopedagogia chegou ao Brasil primeiro no Rio Grande do Sul, devido mesmo à sua proximidade com esse país.

 

2.1 Psicopedagogia reeducativa

“Inicialmente, até por uma condição histórica, a Psicopedagogia no Brasil teve um caráter reeducativo, adequação do sujeito às condições institucionais...Aliado ao término da ditadura percebeu-se que a prática da Psicopedagogia Reeducativa não suprimia o sintoma, apenas o deslocava para outra área do conhecimento.” (ANDRADE, 1998)

Essa reeducação, de caráter castrador e impeditivo da livre expressão, até conseguiu, como ainda consegue, visto que ainda existe em algumas instituições de ensino, resultados em algumas disciplinas, mas, pelo seu próprio caráter, não busca resolver o problema da aprendizagem em seu sentido mais profundo, então os sintomas são deslocados para outras disciplinas, até porque, em não se tratando a causa, apenas deslocam-se seus efeitos.

 

2.2Psicopedagogia Clínica

“Diante disso resgatou-se a importância das possíveis causas, igual ao iceberg, o sintoma é apenas a parte visível de um todo submerso, muito mais amplo e que não pode ser ignorado sob o risco de provocar um naufrágio”. (ANDRADE, 1998)

Usando essa mesma imagem do iceberg, percebemos que a parte submersa guarda em suas entranhas razões e causas que, devidamente analisadas, trarão à tona os caminhos para sua solução.

Quando um Psicopedagogo é chamado para o atendimento clínico, precisa estar de olhos e coração abertos para compreender os significados dos conflitos vivenciados pelo ser aprendente, não buscando culpados, mas sim, a resolução, ou o caminho que leve a tal.

Muitas dificuldades trazem em si mesmas as marcas dos conflitos familiares, vividos e convividos. Sabe-se que a família guarda em si traumas de cada um dos seus componentes, com reflexos imediatos em crianças e retardatários nas dificuldades de aprendizado apresentada em adultos. Nesse quesito, pode-se contar com a ajuda da Psicologia Analítica ou da Psicanálise.

Outras dificuldades podem advir da própria instituição de ensino, no que tange uma visita ao ambiente frequentado pelo aluno, com a devida análise do que o compõe, como exemplo material escolar inadequado ou de má qualidade, estrutura física, grade curricular, ou mesmo a própria relação professor/aluno.

Outras ainda podem estar relacionadas à cognição, ao físico e/ou ao emocional. “Não se pode ignorar que o conteúdo inconsciente interfere na aprendizagem da mesma forma que interfere em todos os atos da vida de uma pessoa” (ANDRADE, 1998)

Diante do exposto, nota-se que o atendimento clínico não está confinado aos consultórios particulares. Pode acontecer na própria escola ou em hospitais, tanto da rede privada quanto pública. No que nivela as possibilidades de aprendizagem, pois o atendimento psicopedagógico clínico não deve jamais ter um caráter elitista.

 

2.3 Psicopedagogia preventiva

A Psicopedagogia Preventiva “é o trabalho realizado pelo psicopedagogo junto às organizações na adequação do conteúdo, do planejamento da ação pedagógica propriamente dita, bem como das relações interpessoais que se estabelecem no âmbito institucional” (ANDRADE, 1998).

“Busca-se, através dessa prática, prevenir os possíveis problemas de aprendizagem de ordem reativa, isto é, aqueles problemas que aparecem como reação a uma inadequação institucional” (ANDRADE, 1998).

Vale salientar que essa ação preventiva também pode e deve acontecer no âmbito familiar, com seus integrantes participando desse processo de antecipação de soluções para que as dificuldades não apareçam ou que sejam devidamente tratadas. Não descartando a parceria com outros profissionais da área da saúde, como pediatras e neurologistas.

“A nível empresarial encontramos o psicopedagogo atuando junto à área de Recursos Humanos, orientando, organizando e supervisionando as atividades de treinamento em cada uma das etapas” (ANDRADE, 1998).

Lembrando sempre que o processo de aprendizagem é de uma vida inteira. Cabendo então o olhar psicopedagógico para os adultos, que também podem armazenar uma gama de traumas cujos sintomas encontram-se deslocados.  Não é desconhecido que em muitas dinâmicas de grupo alguns participantes apresentam um verdadeiro desconforto, quando em outros momentos de concentração e solidão, apreendem grande quantidade de conteúdos intelectivos, deixando clara a dificuldade de relação com os demais integrantes da empresa.

 

Considerações Finais

A Psicopedagogia aparece no campo do conhecimento como uma ciência diretamente ligada ao processo de ensino/aprendizagem, pois traz para a superfície o que está obstaculizando esse caminho.

Fica clara a necessidade da presença e atuação do Psicopedagogo em toda situação e lugar onde se busque o aprendizado.

Ter um profissional da Psicopedagogia em seu quadro de funcionários demonstra que a instituição, escolar, empresarial ou hospitalar, tem o olhar voltado para o ser humano como deve ser: compreendido, estimulado, valorizado e em constante processo de crescimento.

Um Psicopedagogo não é um artigo de luxo, é sinal de que sua importância está sendo reconhecida.

Cabendo a ele, o estudo constante e uma postura respeitosa e interdisciplinar, ao seu objeto de estudo, assim como ao seu Código de Ética.

 

Referência Bibliográfica

ANDRADE, Marcia Siqueira de. Psicopedagogia Clínica, Manual de Aplicação Prática para Diagnóstico de Distúrbios do Aprendizado. São Paulo. Póluss Editorial. 1998.

Código de Ética do Psicopedagogo. Associação Brasileira de Psicopedagogia. 1996.