Na tradição filosófica a concepção de filosofia foi confundida com a de metafísica, isso se deu pela influência da obra de Platão que marcou fortemente o rumo das proposições filosóficas. A metafísica é uma área da filosofia, podemos definir a metafísica – numa definição pobre – como o ramo da filosofia que conjectura sobre o fundamento transcendente da realidade.  Muitos acreditaram e talvez alguns ainda acreditem que a filosofia/metafísica é a disciplina que da conta de responder a maioria das perguntas sobre a “verdade” de nossa existência, ou no mínimo está no caminho certo.

   Na filosofia contemporânea surgem criticas a essa pretensão, alguns consideram que as criticas a filosofia/metafísica principia com Nietzsche, outros com Hegel, independente de onde se inicia a critica o importante é que ela nos deu – nós estudantes de filosofia, e filósofos – a oportunidade de pensar com cautela sobre a importância do papel da filosofia para a humanidade.

     A filosofia ainda é necessária? Acredito que sim quando penso na contribuição da filosofia/metafísica para o surgimento e desenvolvimento das ciências, entretanto, com o aprimoramento dos métodos científicos esta toma caminhos diferentes da filosofia, o que – para mim – não tira o valor da filosofia. Acho que cabe aos filósofos do século XXI começar a tentar construir um papel deferente para a filosofia, insistindo em desfazer o equivoco filosofia/metafísica que já não é mais necessária, alias já vem se tornando pejorativa, mesmo entre o dito “senso comum”, entre os que estão dentro desta classificação muitos acham que a filosofia/metafísica é “viajar na maionese”.

   Que rumo os novos filósofos devem tomar? A filosofia pode ser importante tanto para o âmbito privado quanto para o publico? Será que devemos continuar a gastar esforços conjecturando sobre a existência de algo transcendental ou devemos abandonar essa pretensão e nos voltar para questões políticas – discutindo ética e valores a serem conservados, incentivar ações voltadas para diminuição do sofrimento do outro –, para a linguagem – a fim de tentar entendermos um pouco melhor as diversas nomenclaturas com que descrevemos nossas vidas, e as historias que contam sobre o caminho percorrido por nossa espécie ate aqui, com o intuito de tomarmos decisões que levem em conta não só a nos mesmo?

   Em relação ao linguajar do filosofo e aos meios de expor seus pensamentos, o filosofo deve manter sua linguagem culta ou deve tentar se aproximar do “povo”? O filosofo do século XXI deve limitar-se a somente a escrever livros ou pode lançar mão de recursos como a internet e suas redes sociais? Se o filosofo não foge as contingências de seu tempo acredito que essas duas ultimas questões são pertinentes para discutirmos o tipo de relação e comunicação que o filosofo do século XXI deve ter com os membros da sociedade ou das redes sociais a que tem acesso.

   Essas são algumas questões que podem surgir para aqueles que levam a sério os contemporâneos e que já perderam a esperança na filosofia/metafísica. O papel do filosofo no século XXI ainda é incerto, cabe aos filósofos nesse momento se esforçarem para encontrar um caminho que se adéque as contingências de sua época, um caminho ou vários que possibilitem à filosofia ter um papel significante em seu tempo, se é que em nosso tempo a filosofia ainda é importante.

   Um filósofo importante que acredito ter grande influência nas visões “reformadoras da filosofia” é Richard Rorty. Não que ele nos apresente o melhor caminho ou o mais correto, mas, a possibilidade de vermos a tradição de forma com que não estamos acostumados a ver, podemos tentar vela a partir de um vocabulário diferente e assim alguns podem talvez, reformular a visão que tem da tradição – as  consequências disso são difíceis de prever - , outros podem não concordar com Rorty e talvez ate tornarem se críticos deste – isso é algo que tem acontecido.

   Rorty nos apresenta um vocabulário que não tem a pretensão de se colocar como o mais próximo da verdade, e sim, talvez o mais adequado as contingências, as demandas de nossa época. Ele propõem o abandono do vocabulário iluminista/ racionalista/essencialista, deixando para trás conceitos como os de: verdade, conhecimento, moral, humanidade, eu, realidade, que giram em torno do conceito de essência, e que para Rorty também deve ser abandonado ou redescrito. Rorty não coloca outro conceito no lugar deste na tentativa de nos definir dentro de uma “essência esférica”. Ele tenta mostrar que podemos nos descrever e redescrever , e as descrições que fazemos de nós e dos outros moldam nossas relações sócias e são o máximo que podemos fazer para falar de nós mesmos. Isso pode ser explorado e com algum esforço pode surgir daí um estudo antropológico que tente definir o homem como um “animal capaz de descrever-se” ou talvez uma antropologia filosófica que defina o homem como um ser que “possui essencialmente a capacidade de descrição”, mas algo desse tipo seria forçoso.

   Não tem como sabermos onde vamos chegar, como estará a tradição filosófica em alguns anos, o futuro depende das escolhas que serão feitas e suas conseqüências.