O papel da família na educação dos filhos

 

 

O século XXI é marcado por significativas mudanças nos mais diversos âmbitos de nossa sociedade. O papel da mulher, antes somente cuidadora do lar e dos filhos, alça horizontes maiores e ela ingressa no mercado de trabalho, assumindo, muitas vezes, a função de provedora de suas casas. Por outro lado, a idéia de casamento “até que a morte os separe” vem gradativamente perdendo sua força e o número de divórcios é cada vez maior. Alem disso, é comum entre os jovens a escolha de relacionamentos esporádicos e transitórios, sem o peso da responsabilidade e do compromisso. Todas essas mudanças têm afetado de maneira incisiva o referencial de família predominante em nossos tempos.

Assim a família “ideal”, composta por pai, mãe e filhos é um modelo que pouco a pouco vem se dissipando. É comum vermos famílias formadas por avós e netos, mães e filhos, tios e sobrinhos, e assim por diante. Mais quais as implicações dessa transformação na vida e na educação de nossas crianças?

É comum serem encaminhados para o Setor de Psicologia crianças que apresentam quadro de indisciplina, limitações de socialização e convivência, resistência a regras. E o que percebemos é que, muitas vezes, essas crianças são o espelho de uma realidade social e familiar inadequada e insuficiente.

Isso porque valores como fé, honestidade, respeito e solidariedade estão deixando de serem transmitidos e praticados. Há tempos atrás uma criança sabia perfeitamente respeitar e ouvir os mais velhos.

Aprendemos a competir, mas não a perder, a conquistar e não a dividir, a comprar e não a doar. Aprendemos a TER. Mas já faz algum tempo que esquecemos de SER. A conseqüência disso são crianças hiperativas, jovens toxicômanos, adultos deprimidos. A máxima de que tudo pode ser comprado, pelo computador ou em pílulas, nos obriga a conviver com vazios cada vez mais angustiantes. Tudo isso não é capaz de aplacar essa falta que inevitavelmente sentimos. Temos tudo, mas não somos muito.

Nesse cenário ser pai e ser mãe é um desafio cada vez maior. Na tentativa de acertar, de não sermos pais rigorosos e intolerantes, de oferecermos o máximo de conforto e proteção para os filhos acabamos, muitas vezes, por sermos omissos. Esquecemos que as crianças precisam de regras e limites, precisam saber o que não pode e o que não é certo. Se não são os adultos para ensinarem como esperamos que elas aprendam sozinhas? Quem ama também diz não, também corrige, também castiga... A maior prova de amor que podemos dar para os filhos é ensiná-los a serem pessoas que respeitem o outro, respeitem o planeta, amem a Deus e amem ao próximo.

E essa regra vale em qualquer família. A função materna e a função paterna, de serem mediadores da lei e da ética, deve ser exercida independente da configuração familiar apresentada. Não é porque um filho não mora com seu pai que este pai possa se isentar da responsabilidade de amar e educar. Não é porque uma mãe trabalha o dia todo e quem cuida de seus filhos é a avó, que esta mãe pode abrir mão de seu papel de cuidar.

A busca de um futuro melhor para nossas crianças é de fato uma ação a ser consumada no presente. E muito mais do que palavras, precisamos ensinar com atos e exemplos. Se buscarmos realmente a felicidade, a justiça e a paz é fundamental iniciarmos uma reconstrução dentro de nós e de nossas casas. E transmitirmos essa descoberta diariamente para as novas gerações.

 

Flávia Lórem

Psicóloga

CRP: 04/30162