RESUMO

O ensino catequético apresenta um caminho para o aprendizado. Porém, é necessária uma pedagogia muito bem elaborada que traga realmente uma motivação às crianças e jovens, com o objetivo de resgatar valores morais, familiares e religiosos que hoje se mostram tão obsoletos em nossa sociedade. Nesse sentido, a catequese deve ser vista como base para inserção à vida espiritual e social, visando uma formação abrangente, que leve em conta não só o ensino teológico, mas o processo de desenvolvimento de cada um. Quanto mais amplo for o processo formativo, maior será o benefício a nível cognitivo. E este se revela como sendo uma função primordial na formação de conceitos e na construção de uma mentalidade. Assim, as diferenças poderão ser superadas quando as crianças e jovens entenderem que na esfera cristã não somos concorrentes, somos irmãos.

Palavras-Chaves: Catequese; religião; ensino; formação cristã

RIASSUNTO

L?insegnamento catechistico presenta una via per l?apprendimento. Però, c?è bisogno di una pedgogia molto bene elaborata che dia, in verità, una spinta ai bambini e alla giovinezza, con l?obiettivo di riscattare i valori morali, familiari e religiosi che oggi si mostrano così dimenticati nella nostra società. In questo senso, la catechesi deve essere considerata come fondamento per l?inserimento nella vita spirituale e sociale, cercando una formazione coinvolgente, che rechi ad effetto non solo all?insegnamento teologico, però al processo di sviluppo di ciascuno. Quanto pìu ampio è il processo formatìvo, píu tanto sarà il beneficio a livello cognìtivo. E questo si segna come funzione primordiale nella formazione di concetti e nella costruzione di una mentalità. Quindi, le differeze potranno essere superate quando i bambini e la giovinezza comprendessero che nella sfera cristiana, non siamo concorrenti, ma fratelli.

Parole-chiave: Catechesi; religione; ensegnamento; formazione cristiana.


INTRODUÇÃO

Relata-se neste trabalho algumas condutas educacionais frente a um vasto desafio, que é a formação humana e religiosa. Assim, destaca-se o papel da catequese diante, muitas vezes, de uma realidade desafiadora em aspectos humanos e sociais. Porém, está visível a sua real disposição e eficácia. Como catequese, pode-se entender a inserção da criança na vivência do mistério cristão de forma a não se limitar à simples comunhão durante a missa, ou seja, a primeira Eucaristia, mas a um trabalho contínuo de formação da pessoa humana em sua totalidade intelectual-espiritual. Para tanto, há o catequista que é o primeiro responsável por esse ensino que, por sua vez, deve possuir princípios éticos e morais baseados no cristianismo para, assim, despertar na criança o amor a Cristo frente, muitas vezes, a uma realidade desafiadora diante dos aspectos humanos e sociais com que lidamos diariamente.



METODOLOGIA

A Prática de Ensino foi realizada em três paróquias distintas, sendo que duas deles estão localizadas na mesma diocese. As cidades que foram envolvidas para a realização deste artigo acadêmico são: Caieiras, Lindóia e Serra Negra, ambas localizadas no interior do Estado de São Paulo. Podem-se constatar fortes semelhanças sócio-econômicas e culturais entre as duas últimas cidades, pois, elas fazem parte da região denominada de "Circuito das Águas Paulista" e, assim, muitos são os turistas que lá freqüentam. Quanto à paróquia de Caieiras, por estar localizada mais próxima da capital do Estado, possui algumas divergências, que apontamos mais a frente.
O método utilizado foi a observação às aulas de catequese, tanto para as crianças como para os jovens, ministradas em diferentes ambientes das paróquias, bem como conversas informais com as catequistas e com as crianças e jovens. Também foram abordadas as teorias estudadas em sala de aula para uma maior e melhor compreensão do processo de ensino aprendizagem.


RESULTADO DA PRÁTICA

A catequese realça o valor do ensino eclesiástico que, por sua vez, apresenta um caminho para o aprendizado. Porém, a catequese, por se tratar de ensino, abrange também questões da esfera social em que vivemos. Neste sentido, ela tem o dever de introduzir a criança na vida cristã, ou seja, iniciá-la na experiência com certas virtudes e valores presentes no legado, deixado por Jesus para os seus seguidores, que são os evangelhos. Porém, para que este aprendizado aconteça, ele não deve estar ligado somente à teoria a respeito de quem foi Jesus, mas deve antes de tudo preparar a criança por meio de uma pedagogia pertinente a idade e a fase em que esta está inserida, para que a criança se sinta realmente motivada e, a partir disso, possa ir assimilando por meio de suas experiências pessoais, o que de fato significa ser cristão.
A relação entre catequizador e catequizado acontece em um ambiente muito familiar e comunitário o que ajuda as crianças e jovens a ficarem mais tranqüilos. Assim, as aulas são ministradas em diferentes lugares, seja nas salas, dividas por turmas, onde o catequista exorta as crianças a se organizarem em círculos, não necessariamente sentados em cadeiras, mas, quando conveniente, no próprio chão; seja, ainda, em um salão maior onde todos se reúnem para um grande encontro. Enquanto utilizam o espaço físico da igreja, o catequista dispõe as crianças de modo a favorecer a interação entre o indivíduo no meio físico e espiritual. Muitas vezes, as aulas são ministradas no pátio ou jardim, visando ampliar a dimensão missionária e cultural que a catequese busca, ou seja, interagir com as pessoas que circulam pelo local. Percebemos com tudo isso, que se difere muito o ensino catequético do ensino escolar.
Uma das especificidades presentes no papel da educação catequética, que pouco se conhece, é o resgate dos valores morais, familiares e religiosos tão obsoletos em nossa sociedade atual. Muitos até pensam e enxergam a catequese como uma simples etapa da vida cristã que tem por finalidade apenas a transmissão de conteúdos doutrinários da religião católica, mas não é isso que os documentos da Igreja dizem a respeito desta prática fundamental do cristianismo.
Assim, segundo a Exortação Apostólica "CATECHESI TRADENDAE", do papa João Paulo II:
De tudo isto se deduz a importância duma catequese que inclua as exigências morais e pessoais requeridas pelo Evangelho, e as atitudes cristãs frente à vida e frente ao mundo, sejam elas heróicas ou as mais simples: nós costumamos chamar-lhes virtudes cristãs ou virtudes evangélicas. Daí também o cuidado a ter na catequese em não omitir, nem deixar de esclarecer como convém, num constante esforço de educação da fé, realidades como a ação do homem para a sua libertação integral o empenho na busca de uma sociedade mais solidária e fraterna e o compromisso na luta pela justiça e pela construção da paz.

Outro ponto importante a ser destacado é o material didático utilizado pelas paróquias. Este consta de livros com diferentes volumes para as turmas de diferentes idades e exercem grande influência sobre o processo cognitivo, como apresenta a teoria de Vygotsky:

Instrumentos e símbolos construídos socialmente definem quais das inúmeras possibilidades de funcionamento cerebral serão efetivamente concretizadas ao longo do desenvolvimento e mobilizadas na realização de diferentes tarefas. (OLIVEIRA, 1992, p. 26)

Por meio das figuras contidas nos livros utilizados durante as aulas de catequese, as crianças e os jovens adquirem conhecimento sobre as doutrinas do cristianismo, de forma clara e objetiva. Assim, através das imagens e dos objetos litúrgicos acontece a mediação simbólica. A partir da vivência com os objetos, a criança se habitua a fatos, como: a vida de Jesus, por meio das figuras do livro; a fonte de inspiração, por meio das imagens dos santos, associando-as à vida daqueles santos representados pelas imagens; a vivência da missa, através dos objetos litúrgicos como o cálice, que remete ao Sangue de Cristo.

Nossa experiência cristã é marcada por muitos símbolos, ou seja, sinais sagrados que servem como ?pontes? que nos levam ao encontro com Deus. Para nós cristãos têm um forte significado a cruz, a vela, as imagens, o pão, o vinho, a água, o óleo e tantos outros símbolos que nos colocam em comunhão com Deus. (LOPES, 2008, p. 116)

Porém, também nota-se nas paróquias, a presença de fatores negativos que até mesmo, os próprios catequistas apontaram durante as conversas que tivemos. Esses problemas foram encontrados de forma homogenia em ambas as paróquias envolvidas neste trabalho, como por exemplo, a evasão de crianças e jovens, o desinteresse familiar e, sobretudo, a discriminação com base na classe social. Em Caieiras este ultimo problema apontado, assume uma especial teoria: as crianças pertencentes as famílias de maior poder aquisitivo não freqüentam as mesmas turmas compostas por aqueles de condições menos favorecidas. Tal realidade impossibilita qualquer entrosamento entre os grupos. Já nas paróquias de Lindóia e Serra Negra, a discriminação ocorre dentro das próprias turmas, isto é, não existe a divisão entre "turma dos ricos" e "turma dos pobres", antes, em uma mesma turma orientam certos princípios de exclusão.
Outro fator negativo evidenciado demonstra que muitos dos catequistas não estão preparados para o trabalho com alunos excepcionais. Pode-se perceber no seguinte exemplo: na cidade de Serra Negra, havia uma criança com deficiência visual, porém não foi possível a sua participação na catequese, pela falta de disponibilidade dos catequistas, que acabou gerando nela um grande desinteresse. Neste exemplo, constata-se a exclusão social evidenciada por Dubet (2003).
A participação na santa missa é imprescindível para a formação integral da criança e do jovem. Assim, para os jovens é necessária a participação na missa do final de semana. Já no caso das crianças, elas são convidadas a participarem toda semana com seus familiares. Porém, existe, para as crianças, uma missa mensal na qual, a participação durante os ritos é por conta delas. Isso acaba gerando uma maior motivação e entrosamento no sacrifício eucarístico. A criança "reza brincando e brinca rezando". Em relação às dinâmicas, a criança não tem sua motricidade limitada durante a missa, mas é dada a ela certa liberdade de se expressar corporalmente, o que, segundo a teoria Walloniana, auxilia no desenvolvimento cognitivo.

Mas o grande eixo é a questão da motricidade [...] A psicogênese da motricidade (não se estranhe a expressão, porque, em Wallon, ?motor? é sempre sinônimo de ?psicomotor?) se confunde com a psicogênese da pessoa, e a patologia do movimento com a patologia da personalidade. (DANTAS, 1992, p. 37)

Para culminar na plena participação, no final da missa, o padre da paróquia abençoa um pão e fica a cargo das crianças ali presentes, repartirem e dividirem para todos os que ali se encontram.
Porém, uma boa assimilação, do que vem a ser realmente a fé cristã, se dá por meio dos exemplos presentes na história da própria Igreja, por isso, João Paulo II acentua a importância de se apresentar enquanto conteúdo de fé o testemunho daqueles que nos precederam que mesmo inseridos em realidades tais quais a nossa: um mundo desacreditado, sem esperança, marcado pelo relativismo e modismo de época, conseguiram, iluminados pelas virtudes presentes no evangelho, serem heróis de seu tempo e de sua história. Para a criança esta metodologia a encanta na medida em que nesta fase da vida, para a construção e identificação de sua personalidade, ela necessita de referencias e parâmetros a serem seguidos, para sua própria individuação.
Por meio deste conteúdo a criança vai humanizando á medida que esta metodologia a faz relacionar-se com o mundo em que está inserida participando, assim, de uma sociedade. Automaticamente a criança vai se descobrindo enquanto um ser social, de relações. Vai aprendendo e descobrindo que muito mais do que uma simples pessoa no mundo, ela tem um valor inestimável e uma importância fundamental para a construção e transformação desta sociedade no qual está inserida.
Assim, a criança vai percebendo que a sua ação é significativa. Neste sentido, a catequese vai realizando uma das suas missões que é a libertação integral do homem. Integral no sentido que não se pode fragmentar o ser humano para conduzi-lo a esta libertação. Todas as suas dimensões precisam ser levadas em consideração. Não somos somente corpo nem somente alma ou espírito, ao contrário, possuímos necessidades que ultrapassam um pensamento meramente econômico e social.
Por isso tudo, a catequese tem uma função primordial na formação de conceitos e na construção de uma mentalidade, totalmente contrária àquela imposta, hoje, pela sociedade que está marcada pelo individualismo, consumismo, relativismo, permissivismo, enfim, tudo o que gera morte para nossa humanidade.
Este é um dos desafios enfrentados em ambas as realidades observadas tanto na cidade de Caieiras como nas cidades de Lindóia e Serra Negra. No entanto, é difícil, para os catequistas, a construção desta mentalidade, uma vez que, em uma mesma turma estão presentes crianças oriundas de classe média baixa, média e alta. Neste sentido o papel do educador (catequista) é fundamental e segundo a própria citação tem importância vital para a superação destas diferenças. Ou seja, o catequista não pode omitir das crianças a triste realidade em que estas vivem, porém, instruído pelos mesmos valores cristãos e morais apresentá-las os mecanismos pelos quais esta situação pode ser mudada.
Neste ponto apresentado, muitos podem se perguntar: mas como mudar toda uma situação? A resposta se revela simples: por meio do próprio conteúdo ao qual se refere à própria fé: a vida. Assim, a criança deve perceber que a vivência e o relacionamento com o mundo, deve ser para ela uma forma de aprendizado e preparação para este fim ao qual todos estamos fadados. Por isto, nada que nos distância terá importância além deste mundo. Todo poder seja ele financeiro, religioso, social não perdurará para sempre. Deste modo, as diferenças entre as classes econômicas, poderão ser superadas quando as crianças entenderem que no âmbito cristão não somos concorrentes, somos irmãos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as ações que visam não só a inserção espiritual na Igreja, mas também a evolução no âmbito social e psicogenético, culminam na relação com a família, com os amigos e com a comunidade ao seu redor. Evidenciando a teoria de Piaget, o desenvolvimento catequético é resultado da assimilação e acomodação daquilo com que a criança entra em contato ? equilíbrio. Vale lembrar que a criança não é "bombardeada" com conteúdo teológico, mas o catequista é atento às opiniões e estimula a participação dos alunos. Acontece, assim, certa troca intelectual positiva para o desenvolvimento social da pessoa.
Outro aspecto da catequese é o horizonte escolar, ou seja, a vivência em um ambiente de ensino diferenciado daquele em que a criança esta acostumada na escola. A partir da vida comunitária, que a catequese tem como escopo, a participação escolar terá um melhor desempenho, visto que as crianças adquirem noções e preceitos relativos à ética cristã, pautada no ideal de caridade e solidariedade.
Obtém ainda, com as dinâmicas e similares, o espírito de vivência coletiva de forma mais familiar, baseada na prática de vida comunitária e nos ideais de Cristo dispostos no Evangelho. Com isso, a criança consegue se adaptar melhor em várias situações e mantém uma relação de proximidade com as outras pessoas.
O catequista não pode omitir, das crianças e jovens, a triste realidade em que eles vivem, porém, instruído pelos valores cristãos e morais, deve apresentá-los os mecanismos pelos quais esta situação, marcada por um mundo desacreditado e sem esperança, pode ser mudada. Assim, a vivência e o relacionamento com o mundo, deve ser uma forma de aprendizado e preparação contínua.
Em suma, a catequese não é algum preceito cristão, mas modo de formar o cidadão a partir dos moldes éticos da Igreja Católica. Não se limita à primeira Eucaristia, pois expande o potencial de cada um, de modo a ordenar sua vida com o mundo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUBET, François. A escola e a exclusão. Cadernos de pesquisa. São Paulo. n. 119, 2003. ISSN 0100-1574 versão impressa.

LA TAILLE, Ives de; OLIVEIRA, Marta Kohl; DANTAS, Heloysa. Piaget Vigotsky Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

LOPES, Pe. Alexsander Cordeiro et al. Crescer em comunhão: livro do catequista. 25. ed. Vol. 3. Petrópolis: Vozes, 2008.