1 INTRODUÇÃO Diante dos vários problemas existentes no contexto social, educacional e artístico das bandas marciais, venho destacar a necessidade de colocar um olhar mais atento para buscar meios pedagógicos funcionais na tentativa de melhorar as bases de formação do educando, ou seja, conduzir o educando para uma formação sensível ao desenvolvimento de suas habilidades cognitivas visando uma melhor preparação do poder criativo e do bem estar social e artístico. Sabemos que o nível musical de nosso país mudou muito e não para melhor. Precisamos resgatar o glamour das bandas marciais dos anos 70 e 80 cujo momento fiz parte. Naquela época, as bandas marciais tocavam melodias adaptadas para sua formação bem mais interessante do que as músicas que ouvimos hoje tocando nas rádios e apresentadas na televisão de forma descompromissada para com os ouvintes. Isso está preocupando não só a mim, mas a muita gente que desfruta de bom gosto das formas melódicas acompanhadas de sua poesia. A sociedade não pode esquecer da canção que diz: "Estava à toa na vida e o meu amor me chamou pra ver a banda passar cantando coisas de amor. A minha gente sofrida despediu-se da dor para ver a banda passar cantando coisas de amor". (Chico Buarque de Holanda). Essa canção belíssima de Chico Buarque hoje em dia está sendo difícil de "passar", porque os tempos são outros e a sociedade como um todo não mais lembra da "banda que passava tocando coisas de amor". O presente trabalho visa identificar como se configura o contexto social, educacional e artístico da banda marcial Maria Sampaio de Lucena. A idéia central é verificar se as formas práticas na formação do educando estão sendo trabalhadas dentro dos parâmetros educacionais e de formação artística e social. É preciso resgatar e manter o valor da educação, da arte e da cultura artística que a banda marcial oferece. A escolha do tema se inter-relaciona com a minha formação, pois na época de escola toquei em banda marcial durante dez anos e vivenciei de perto a banda marcial resgatar muitos colegas que queriam seguir para outros caminhos, tais como: o caminho das drogas, da prostituição, do abandono escolar, entre tantos outros pontos e, no momento em que a banda marcial esteve presente, essas pessoas seguiram e escolheram um caminho mais ajustado, do ponto de vista social. Hoje, se encontram em grupos profissionais não só do Recife, mas também em grupos profissionais do Brasil e fora do Brasil. Hoje tenho vários colegas contemporâneos das bandas marciais que são músicos da Banda da Polícia Militar de Pernambuco, Banda da Aeronáutica do Recife, Banda Sinfônica do Recife, Banda de Música de Municípios vizinhos, entre outras formações de grupos musicais. A partir do relato acima, alguns questionamentos foram feitos e eles orientaram este trabalho. É possível fazer um levantamento da formação social, educacional e artístico dos alunos que compõe a Banda Marcial da Escola Municipal Maria Sampaio de Lucena? Há, nos dias atuais, um papel social, educacional e artístico, na banda marcial Maria Sampaio de Lucena? O objetivo dessa monografia foi caracterizar o valor social, educacional e artístico da banda marcial da Escola Municipal Maria Sampaio de Lucena, como também analisar o processo de formação musical dos alunos no ambiente da banda, para compreender a função da banda no meio social, educacional e, sobretudo refletir o aproveitamento dos valores artísticos da banda. Este trabalho divide-se em quatro capítulos e uma conclusão final. O primeiro capitulo, "O termo banda e suas origens", descreve como surgiu o termo banda e sua formação e desenvolvimento na época Bizantina no século IV à Idade Média, séculos XI, XII, XIII e XIV divididos por períodos e aborda a banda militar e a música na Antiguidade, entre outros conceitos do papel da banda. O segundo capítulo, "Banda Marcial Maria Sampaio de Lucena: uma breve trajetória", aborda a data de fundação da Escola Maria Sampaio de Lucena e fala do desenvolvimento da banda Maria Sampaio na década de 1980, sua criação na época da Fundação Guararapes. O terceiro capítulo, "A banda marcial como veículo social, educacional e artístico", descreve o que diz a Constituição Federal do Brasil como fundamento para os direitos sociais; a banda marcial e sua contribuição para o frevo. O quarto Capítulo, "A Obrigatoriedade do Ensino da Música Nas Escolas Públicas e Particulares", aborda uma breve trajetória do ensino da música nas escolas desde o processo nacional de musicalização de canto que Villa-Lobos deu início, em 1942 e, suas mudanças através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A conclusão relata, através dos depoimentos colhidos, o valor da banda no papel social, educacional e artístico bem como sua trajetória ao longo dos anos enfrentando desafios e, mostrando para a sociedade como é fundamental o seu papel. 2 A BANDA E SUAS ORIGENS Na época Bizantina, do século IV até a Idade Média séculos XI, XII, XIII e XIV houve um grande desenvolvimento de tropas de combate designada pelas autoridades romanas, chamados Grupo ou Bando de Aventureiros, que entre os gregos e romanos e, os povos do Oriente, eram grupos de voluntários alistados nos serviços Reais. Portanto, através desses grupos ou bandos de aventureiros que se espalharam pela Europa apareceu o termo "Banda" para grupo de músicos, bandos de musicistas, formados por soldados destinados a estudar e executar os instrumentos rudimentares da época. "Banda é palavra de origem germânica ? bandwa, isto é, bandeira ou estandarte". (MEIRA; SCHIRMER, 2000, p.34). A Banda de Músicos só se estabeleceu após mil anos da Era Cristã, cujo momento era designado para tocarem em serviços de caráter guerreiro, religioso ou simplesmente no contexto de divertimento, chegando à denominação nos dias atuais como Banda de Música. De acordo com os instrumentos novos que iam sendo criados pela banda, podemos destacar sua evolução em cinco períodos. Da Antiguidade à Idade Média, classificou-se como Primeiro Período, destacando uma grande contribuição dos grupos de tocadores em relação aos relevantes serviços prestados aos povos, principalmente no âmbito religioso. No tempo de David e Salomão, eram inúmeros os grupos de sopro e percussão, que por sua concepção primitiva não podiam ser chamados de Banda de Música. Daí para frente é que apareceram variados grupos mais homogêneos e mais musicais. O Segundo Período aparece no fim da Idade Média ao fim do século XVII, que são chamados de períodos da Renascença e Pré-Clássico. Uma grande importância e evolução neste período foi em relação a indústria do metal, proporcionando a construção de novos instrumentos. Por exemplo, na Turquia surgiram as trompas e trompetes. Da Índia vieram os gongos e tambores e na China e no Japão flautas e oboé. Diante dessa evolução iam aparecendo outros instrumentos e sendo incluídos aos grupos. A Alemanha se tornou o centro da música, ficando conhecida pela flauta alemã, depois introduzida nos grupos de músicos, hoje chamada de flauta transversal. Já com o nome de Banda de Música firmado, as tropas militares passaram a incluir grupos de executantes de instrumentos musicais em tipos diferentes, tais como: serviço de infantaria e de cavalaria, em particular, os de cavalaria tinham que executar músicas montados a cavalo. Já no século XVIII temos o Terceiro Período chamado de Classicismo, cujo momento, pela evolução dos instrumentos de sopro e percussão. Instrumentos de madeira, por serem inexpressivo, de pouca extensão e intensidade sonora, foram omitidos da Banda. Neste mesmo período, houve outra grande invenção para o desenvolvimento da Banda, que foi a criação da família dos Saxhornes (saxornes ou saxtrompa) inventado pelo belga Adolph Sax. Houve também um grande impulso para as Bandas pela invenção das válvulas, chaves e pistões para os instrumentos de bocal, tais como: trompete, trompa, trombone, tuba, entre outros, dando melhores condições do instrumentista executar o instrumento e tocar frases em vez de notas paradas. Durante o Quarto Período, o período do Romantismo século XIX, houve a adoção das clarinetas, tubas, saxofones, etc., enriquecendo muito a qualidade do timbre da Banda. Nesse momento as famílias dos instrumentos foram estabelecidas e o efetivo das Bandas, regulados por lei. O estabelecimento do efetivo das Bandas que o governo francês regulou, em 1845, foi de 44 figurantes, que também foi longamente estudado por uma comissão formada por Luigi Spontine, Carafa e Adolph Sax. Em 1802, no Brasil, um decreto de 20 de agosto daquele ano determinou que fosse organizada uma Banda de Música em cada Regimento de Infantaria. Já em 1810, no efetivo dos Regimentos de Infantaria e Artilharia de Costa foi fixado, também, por decreto, em 12 ou 16 músicos executantes de instrumentos de sopro, não havendo referência quanto aos instrumentos de percussão que só vamos encontrar nos Batalhões de Infantaria e de Caçadores, por decreto de 11 de dezembro de 1817, mencionados como um (1) bombo e um (1) caixa (de rufo). E por fim, temos o Quinto Período, no século XX A Banda, na sua evolução, passou a contar com executantes de todos os instrumentos de sopro de interesse e de percussão. Portanto, podemos dizer que a Banda de Música e sua evolução, em pleno século XXI ainda vem se desenvolvendo em todos os sentidos no território brasileiro. Como exemplo, cito a Banda Municipal do Recife, que desde a década de 1980 já era nomeada de Banda Sinfônica e colocada nos programas de concerto pelo maestro Ademir Araújo e só recentemente é que veio a ser reconhecida como Banda Sinfônica pela Câmara Municipal do Recife. Assim, como tantas outras que ainda estão nesse processo. O termo Banda Sinfônica se dá no sentido de sua denominação encontrar em seu efetivo instrumental, instrumentos de cordas ou instrumentos eletrônicos, podemos ir mais além, quando encontramos outros instrumentos oriundos da Orquestra Sinfônica. Quando isso acontece a denominação da Banda poderá ser a de Banda Sinfônica, tanto nas organizações militares como civis. Até o século XIX, isso era muito remoto, mas, a partir do século XX, esse quadro mudou e muito, com a inclusão de outros instrumentos. Vale deixar um alerta quanto à classificação da Banda, para que não haja um desconforto e uma interpretação de qualquer forma ou maneira. Segundo Brum (1987, p. 12), em sua proposta de classificação para o gênero banda de música no Brasil, destaca as seguintes espécies: "Pequena Banda ou Militar, Média Banda e Banda Sinfônica". Tal classificação, segundo esse autor, tem por "finalidade favorecer o estudo da distribuição instrumental e de seu efetivo, da orquestração e, ajudar a quem com ela trabalhe, na organização de repertório, arquivo, efetivo de integrantes", além de facilitar a "publicação de obras musicais para estes conjuntos". Segundo José Antonio Pereira, em sua dissertação sobre Banda de Música no Brasil diz: No Brasil, o termo banda de música é o mais utilizado, mas constataram-se importantes variações como filarmônica e corporação. As edições italianas, espanholas e portuguesas realçam os aspectos sociais da banda: as atividades de entretenimento e educação musical e suas relações institucionais, como as militares, ligadas às Forças Armadas e as civis, geralmente ligadas à municipalidade (PEREIRA, 1999, P. 17). Em sua dissertação de mestrado sobre Banda de Música no Brasil, José Antonio Pereira cita sobre um ponto importante do estudo que fez, ele diz: Foi perceber uma tendência musicológica a apontar outras alternativas para a origem das banda, retrocedendo ao final da Idade Média com o surgimento das cidades. No The New Grove Dictionary of Music, edição de 1986, considera-se que "agora é muito comum" que a banda seja descendente dos grupos dos instrumentos "altos" (ruidoso) medievais que participavam de eventos cívicos e que o stadtpfeiffer, conhecido como músico municipal, também era guarda das torres da cidade. Nas edições de 1946 e 1980 não constam essas informações (PEREIRA, 1999, p. 18). 2.1 A banda militar e a música na Antiguidade Na Antiguidade a música militar acolheu instrumentos de sopro e percussão, cuja forma evoluiria de acordo com a evolução do desenvolvimento humano. As cornetas e clarins como conhecemos hoje, datam do século XVI. Sua forma genérica na antiguidade era conhecida como trombeta. Da trombeta os romanos possuíam o corno, a tuba, a buccina e o lituus. Em Berlim há um lituus exposto no Rheinssches Landesmuseum. Na realidade o lituus era longo e seu pavilhão era um chifre curvo, ou seja, ele é um ancestral do clarim que conhecemos hoje em dia. Há variados tipos de trombeta, tais como: a dos gauleses, a celta, a dos hebreus, cujos "sons fizeram ruir as muralhas de Jericó", segundo a Bíblia. Existia também a trombeta árabe cuja característica marcante era o seu tubo bastante alongado. Posteriormente, como forma de facilitar a execução das peças em situação de marcha, surgiu a idéia de dar mais voltas ao tubo, sem prejudicar sua sonoridade. Daí vieram as cornetas e os clarins, como conhecemos hoje. A Mesopotâmia, chamada "o berço da civilização", com suas variadas culturas influenciou bastante os gregos, que davam à música lugar de destaque na educação. Na definição do Dicionário Grove de Música, banda é: Conjunto instrumental. Em sua forma mais livre, "banda" é usada para qualquer conjunto maior do que um grupo de câmara. A palavra pode ter origem no latim medieval bandum ("estandarte"), a bandeira sob a qual marchavam os soldados. Essa origem Parece se refletir em seu uso para um grupo de músicos militares tocando metais, madeiras e percussão, que vão de alguns pífaros (sic) e tambores até uma banda militar de grande escala. O mesmo dicionário na mesma pagina define também banda de metais como: um tipo de banda de instrumentos de sopro, consistindo unicamente da família dos metais e, às vezes, percussão, que teve origem nos anos 1820. Uma banda típica consistiria de uma corneta em sib; um flugelhorn em sib; três fliscornes em mib; dois saxhorns tenor em sib; dois eufônios em mib; três trombones e quatro baixos de tuba, dois em mib e dois em sib (sic). O crescimento das bandas de metais esteve intimamente ligado ao desenvolvimento da industria, e o sucesso foi consolidado através de competições. (SADIE, 1994, p. 71). Essa ultima definição é que mais se parece com as bandas marciais de hoje em dia caracterizando uma formação de instrumentos de sopro e percussão. Vale destacar que "um dos fatores fundamentais para o nascimento do jazz e a ascensão do trompete foi a formidável expressão das bandas marciais por todo os Estados Unidos ? e a verdadeira paixão por elas em Nova Orleans". (MUGGIATI, 1982, p. 6). Muggiati (2006) também cita em seu livro Improvisando Soluções que: A partir da segunda metade do século XIX, os instrumentos de sopro começaram a se popularizar nos Estados Unidos. Na Guerra de Secessão (1861-65) as bandas marciais tiveram importante papel na elevação do moral das tropas, e sua criação foi grandemente estimulada. Ao mesmo tempo, a tecnologia dos instrumentos, em decorrência dos progressos da Revolução Industrial, era aperfeiçoada com a introdução dos pistões nos metais, hoje peça fundamental como instrumento que compõe a formação da banda marcial. (MUGGIATI, 2006, p. 13). Alguns autores também definem banda marcial como conjunto de instrumentos de percussão e sopro, sendo que estes são de metal com bocal dotados de três pistões, diferente dos saxofones que são de metal com palhetas. Em Pernambuco, na época da Dominação Holandesa (1630 ? 1654), apareceram os primeiros grupos com características marciais, no contexto depois do que veio a ser a banda militar. Havia recitais de música promovidos no Palácio de Friburgo pelo Conde João Maurício de Nassau, em recepções oferecida a seus convidados, segundo testemunho do frei Manuel Calado do Salvador (CALADO, ano 1985). Quando das despedidas do Conde Nassau, por ocasião do seu retorno aos países Baixos, em maio de 1644, assinala Pieter Marinus Netscher (1998), que As populações dos lugares por onde ia passando formavam alas para dizer-lhe adeus. Essas aclamações eram acompanhadas pelas bandas de música que tocava a ária nacional (hino nacional do Reino dos Países Baixos) Wilhelmus van Nassauwen e de saúvas de canhões a lhe prestarem as últimas honras militares. (NETSCHER, 1998, p. 10). Foi registrado também por Diogo Lopes Santiago que presenciou a formação dessas fanfarras durante aos preparativos dos exércitos da companhia das Índias Ocidentais que antecederam a primeira batalha dos Montes Guararapes em 1648. Podemos dizer que as "Bandas Marciais" no Estado de Pernambuco são uma tradição, principalmente na capital Recife e grande Recife, na qual a diversidade das bandas marciais é enorme, cada uma com seu papel criativo e formador. Durante os anos de 1979 e 1989, as bandas marciais em Recife eram as bandas de corneteiros (com corneta lisa, sem recurso) com instrumento de percussão, hoje chamada de fanfarra por causa da divisão de categoria, tais como: fanfarra simples, fanfarra com cornetas com um pisto, banda marcial, banda de música, banda sinfônica, filarmônica, etc, ou seja, houve uma inversão do nome aqui no nordeste em relação ao sudeste. Do fim da década de 1980 para a década de 1990 aos dias atuais a denominação banda marcial virou fanfarra e fanfarra virou banda de corneta sem recurso. O movimento das bandas marciais na atualidade ainda é muito forte apesar das dificuldades nos variados contextos da formação de seus componentes e na carência de apoio para aquisição dos seus instrumentos de um modo geral. Diante desse contexto dá para perceber uma enorme evolução que as bandas tiveram ao longo dos tempos, mas todas com um propósito só, o de fazer arte através da sensibilidade de cada instrumentista dentro de um espírito social, educacional e artístico. Tocar em banda marcial não diminui o instrumentista em nada, muito pelo contrário, só aumenta sua capacidade de criatividade melhorando o desenvolvimento de sua percepção, improvisação, audição e performance, deixando-o mais sensível para a música e para a convivência com as pessoas. O valor da banda marcial para um participante é algo muito especial e particular, a convivência com os colegas no dia-a-dia dos ensaios proporciona ao educando uma sensação de satisfação e inclusão, cujo sentido é o de se sentir valorizado como cidadão e cidadã desse contexto. Nesse sentido, cada componente cria um elo familiar unindo as pessoas a cada momento, por causa do som dos instrumentos com suas batidas vibrantes. Dizem que o som de um grande tambor se assemelha à batida do coração de mãe, ouvido e sentido no interior do ventre materno. Antigamente, no Japão, o tambor era considerado símbolo da comunidade rural. Diziam que o limite da aldeia era determinada não só geograficamente, mas também pela distancia em que a batida do tambor era audível . Assim o instrumentista de banda marcial se sente ao ouvir as batidas dos tambores da banda. A banda marcial tem algo mágico, algo aproximador, faz a pessoa "Ser humana", porque trabalha o contexto harmonioso do sentimento fazendo-o ser mais social. Tocar em banda marcial significa trabalhar a personalidade e a freqüência material do espírito, como também, trabalhar a freqüência do som de cada instrumento. Essas freqüências proporcionam ao instrumentista se libertar das tensões do dia-a-dia, dando ao instrumentista maior condição de segurança para por em prática sua criatividade, sua capacidade de atuar nas diversas áreas do meio social. Sobretudo a escola tem o papel de formar, de orientar e de trabalhar na formação do aluno dentro de uma perspectiva de amadurecer, de crescer e em seguida construir cidadãos, com uma visão de mundo que os ajudem a cada vez mais melhorar suas aptidões artísticas. Segundo Paulo Freire: Escola é... o lugar onde se faz amigos, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão... É dessa escola acolhedora da qual saem os instrumentistas, os artistas criativos, os artistas multiplicadores da cultura. É nela, também, que o papel social das bandas marciais se faz importante, porque nela o educando não só participa de um paradigma, mas participa de uma formação libertadora, que ensina variadas formas de contextualizar através da música. Outro papel importante das bandas marciais é o fato dela ir além da participação no desfile cívico de 7 de setembro, ela participa de uma programação intensa durante todo o ano letivo, como por exemplo: dos encontros de bandas na capital, nas cidades vizinhas e no interior, algumas saindo para outros Estados. As bandas também participam de concursos promovidos por diversas instituições que produzem esses encontros, como, por exemplo, na década de 80 havia um concurso muito importante no Recife todos os anos no Parque 13 de maio, organizado pelo antigo IV Exercito, hoje Comando Militar do Nordeste. Era um momento de competição, mas ao mesmo tempo uma oportunidade para as instituições mostrarem o potencial de seus alunos, proporcionando um benefício enorme para o desenvolvimento social. O papel social aí se mostra enormemente enriquecedor. Outro papel fundamental na vida dos participantes da banda é o fator educacional, porque diante desse processo o educando vivencia seus valores éticos, ideológicos e, sobretudo, o inclusivo. Segundo Dukheim (apud MEKSENAS, 1993, p. 38). "A educação é una: deve inculcar no individuo idéias que fazem parte do meio social em que vive", ou seja, o individuo tem que participar do seu meio, tem que está introduzido e fundamentado dentro do meio e, na escola, a banda inclui esse individuo para o desenvolvimento desse papel do meio que é o social. Outro contexto fundamental das bandas é o aspecto artístico, há décadas já vem se destacando por apresentarem à sociedade um repertório cada vez mais inovador, executando músicas do gênero popular e do gênero erudito. Um exemplo disso está registrado no programa do concerto natalino no Teatro de Santa Isabel da Banda Marcial da Fundação Guararapes Maria Sampaio de Lucena no dia 22 de dezembro de 1988, regida por um dos pioneiros do movimento das bandas marciais no Estado de Pernambuco, o professor Carmelo. O maestro Carmelo foi regente da banda marcial da Escola Municipal Maria Sampaio de Lucena e da Escola Vasco da Gama, ambas subordinadas à Fundação Guararapes. Em 1988, a banda Maria Sampaio de Lucena e a Vasco da Gama executaram um repertório desafiador para o porte do instrumental usado pelas bandas na época. O repertório executado foi: Adeste Fidelis, do manuscrito Cantus Diversi 1751; Noite Feliz, de Francisco Xavier Gruber 1818; Glória in Excelsis Deo, de W. A. Mozart; Judas Macabeu, de G. F. Haendel; Concerto para uma Noite de Verão, de Alain Patrick; Sunshine, de W. A. Mozart; Ária da 4ª Corda, de J. S. Bach; Marcha Triunfal da Ainda, de G. Verdi; La Virgem de la Macarena, de B. B. Monterde; Jesus Cristo Superestar, de Sloyd Webber; La Bamba, de Los Lobos; Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira; In the Mood, de Garland/Razaf. Muito desses gêneros foram adaptados para as bandas de músicas e orquestras sinfônicas, mas o importante neste contexto é a forma criativa como essas obras foram executadas. Segundo Renan Pimenta de Holanda Filho (1989) em sua Monografia "O Papel das Bandas de Música no Contexto social, educacional e artístico em Pernambuco", Os colégios extinguiram as bandas de música em finais da década de 50, surgindo em seu lugar as "Bandas Marciais", compostas de grande quantidade de instrumentos de percussão e sopro, com cornetas. Seus componentes são jovens alunos dos educandários e não executa músicas clássicas nem populares, mas apenas as "marchas batidas" com os componentes marchando pelas ruas em ordem unida. (HOLANDA FILHO, 1989, p. 23). Vê-se então que as bandas marciais não ficam limitadas a tocar só as marchas batidas como é citada por alguns pesquisadores. As bandas marciais têm um repertório variado, criativo e desafiador adaptando músicas tanto do gênero popular como da música clássica. Vale destacar também a forma criativa das bandas marciais em relação aos adereços que dão grande brilhantismo para as bandas marciais, trabalho de muito brilho e criatividade para melhorar a cada ano, dando ênfase às cores e à qualidade artística, sobretudo no valor criativo. Portanto, ao longo dos tempos percebe-se o esforço das bandas em trabalhar para o progresso da cultura do nosso Estado, principalmente na transformação de valores. Assim a banda marcial como os instrumentistas profissionais, de diversas formações vêm se desenvolvendo e se adaptando aos avanços globais. No século XIX surgiu nos Estados Unidos um ser humano com muito talento para o desenvolvimento da música militar do século, com apenas vinte e seis anos de idade, chamado John Phillip Sousa. Para Sousa, a banda militar era sempre digna de pompas e honras. De acordo com Meira e Schirmer (2000, p. 44): Quando diziam que uma banda militar seria sempre inferior a uma orquestra sinfônica, John Phillip Sousa respondia: ?Inferior, nunca !. Apenas diferente ! Em arte não há hierarquia. O critério de valor é o efeito artístico?. Imortal John Phillip Sousa!. Assim podemos observar nas palavras do conceituado mundialmente o senhor John Phillip Sousa, que não há valores nem para mais nem para menos quando se trata do fazer artístico, ou seja, uma banda seja ela de que natureza for vai ter sempre seu valor independente de sua denominação e formação. 3 A BANDA MARCIAL MARIA SAMPAIO DE LUCENA: UMA BREVE TRAJETÓRIA A Escola Municipal Maria Sampaio de Lucena foi fundada em 29 de março de 1967, na administração do então prefeito Augusto Lucena. Na época a escola fazia parte da Fundação Guararapes, que coordenava a administração das escolas da rede municipal de ensino da cidade do Recife. Até 1974 à escola funcionava apenas com turmas de 1ª à 4ª série com 11 salas de aula. Em 1975, instala-se o ginásio com turmas de 5ª à 8ª série e são construídas mais 9 salas de aula formando um total de 20 salas de aula, das quais funcionavam com turmas de Técnica Comercial, do ensino profissionalizante. De acordo com os dados coletados sobre a banda marcial Maria Sampaio de Lucena para a construção dessa monografia, não consta uma data ou ano preciso de sua fundação. Sabe-se através de entrevista que a banda tem mais de vinte e cinco anos e sempre foi um grupo que, ao longo dos anos, se destacou na comunidade, nos desfiles cívicos, concursos, encontros, entre outros eventos de importância social. Um período de grande destaque da banda Maria Sampaio foi na década de 1980, na administração e regência do então professor Carmelo Bartolomeu da Silva, que a frente da banda marcial Maria Sampaio de Lucena e da banda marcial da Escola Vasco da Gama desempenhou um trabalho de formação social, educacional e artística dos alunos que tiveram a oportunidade de compor ambas as bandas. Em entrevista, o atual coordenador das bandas marciais da Secretaria de Educação Esporte e Lazer da Cidade do Recife, Sr. Marcos Antônio Galdino da Silva, relatou o seguinte: Na época o João Francisco de Souza, ele assumiu a Fundação Guararapes, daí ele veio com a idéia de tirar toda aquela visão de que a escola pública era uma escola pobre, que os meninos andavam de calça jeans, de tênis para fazer qualquer apresentação. Então, ele assistiu no desfile de 7 de setembro a banda do Colégio Santa Maria de Boa Viagem, que veio com aquele luxo todinho e, convidou o maestro da banda do Colégio Santa Maria que era o Carmelo Bartolomeu a uma conversa. Diante mão, com o convite o Carmelo Bartolomeu, ele falou que ele poderia participar desse projeto da Fundação Guararapes mais foi logo dizendo "venho pra cá mais não para ver esses meninos com estado de pobreza". Daí é... ele tinha um projeto de que os meninos do Maria Sampaio de Lucena teriam que ter uma roupa digna de uma apresentação, roupa de gala, com todas as pompas que qualquer banda particular na época tinha. Isso foi muito bom, porque a partir daí os alunos se motivaram, houve uma auto-estima muito grande por tanto disso, por conta de receber um fardamento novo, instrumento novo, instrumentos na época atualizados, tudo novo, regente bom, é... todas as condições que o Colégio Santa Maria tinha o Colégio Maria Sampaio de Lucena, a Escola Maria Sampaio de Lucena tinha também, é por isso que houve um aumento muito grande de auto-estima daqueles meninos, (...). Diante do relato acima o quadro que o professor Carmelo encontrou quando chegou para assumir a banda marcial Maria Sampaio de Lucena e Vasco da Gama não foram os melhores. As bandas encontravam-se com muita carência de apoio em todos os sentidos. A banda desfilava com calça Jeans e a camisa com o símbolo da escola, não tinha um uniforme padrão que desse destaque a banda, faltava instrumentos musicais para atender a formação da banda. Isso gerava um desconforto para o desempenho social, educacional e artístico dos alunos, porque diante de tais fragilidades a banda não tinha condições de destaque ou se aproximar das demais bandas que se mostravam mais ornamentadas no cenário musical das bandas marciais da época. Então, o professor Carmelo com sua garra e perseverança já com o apoio do então presidente da Fundação Guararapes João Francisco de Souza buscou os benefícios que a banda tanto precisava para alcançar seus objetivos e conseguiu, mostrando às autoridades da Prefeitura do Recife, que as bandas marciais do município do Recife tinham potencial para desempenhar com dignidade suas funções sociais, educacionais e artísticas, não só na cidade do Recife, como em qualquer outro lugar do cenário nacional. Portanto, o trabalho não foi fácil e o professor Carmelo montou uma estratégia pedagógica com seus alunos mais experientes para trabalhar a performance instrumental e artística daqueles alunos que estavam iniciando na execução das cornetas e instrumentos de percussão. Com um trabalho árduo para todos envolvidos no processo de formação, os ensaios tanto da banda marcial Maria Sampaio como da banda marcial Vasco da Gama eram intensos, haviam semanalmente e nos finais de semana, mas com muita cautela para não prejudicar os estudos dos alunos no ensino regular, ou seja, a direção da banda sempre orientava o aluno para que não parasse de estudar e não deixasse de trabalhar o desenvolvimento de formação das disciplinas em sala de aula. Se houve abandono dos estudos foi por livre arbítrio de cada aluno ou por alguma outra razão, porque constantemente os deveres educacionais eram cobrados por parte do regente da banda, dos professores e da direção da escola. Diante da continuidade dos trabalhos artísticos das bandas Maria Sampaio e Vasco da Gama, o professor Carmelo junto aos alunos e todos envolvidos conseguiu muitos benefícios para o desempenho da banda, tais como: novos instrumentos, uniforme de destaque para a banda, estandarte, jogo de bandeiras para a escola, sala para guardar os instrumentos da banda, material de manutenção, pessoas para assessorar no trabalho de formação dos alunos contratados pela Fundação Guararapes (monitor), entre outros benefícios que ajudassem, em prol da banda. Na administração do professor Carmelo a banda marcial Maria Sampaio de Lucena e Vasco da Gama trabalhavam em conjunto, ou seja, as solicitações que eram feitas para uma eram feitas para a outra também. O repertório executado era igual para ambas, porque em muitas ocasiões as duas bandas se transformavam em uma só, nos principais encontros e eventos de destaque do nosso Estado e fora dele. Podemos citar o Encontro de Bandas e Fanfarras do Comando Militar do Nordeste (do Exército) que acontecia todos os anos no Ginásio de Esporte Geraldão, no bairro da Imbiribeira no Recife. Na realidade a banda marcial Maria Sampaio de Lucena foi criada como plano piloto para atender às bandas marciais da Secretaria de Educação do Recife. Portanto, a banda era chamada banda da Fundação Guararapes por pertencer a essa instituição e por causa do seu destaque no cenário das bandas marciais que chamava a atenção no desenvolvimento do seu repertório e do "uniforme" que na época foi confeccionado em São Paulo pela estilista Lina Fernandes. O uniforme tinha muita pompa e chamou muito a atenção do público por ser um uniforme diferenciado para o que era de praxe naquela época, no nordeste brasileiro, pois usavam uniformes chamados de "esquente ou moleton" e o uniforme que chegara de São Paulo foi realmente uma novidade para os componentes da banda que se sentiram incluídos no contexto de igualdade e levantaram sua autoestima ao vivenciar um momento de transformação. A banda da Fundação Guararapes chegou a se apresentar fora de nosso Estado, sendo convidada especial para participar do encontro de bandas e fanfarras na cidade de São Paulo/SP, na cidade de Camaçari/BA, Rio de Janeiro/RJ, entre outras. Em 1988, houve uma quebra de tabu, como disse em entrevista o atual coordenador das bandas marciais da Secretaria de Educação Sr. Marcos Antônio Galdino, que também foi regente da banda marcial Maria Sampaio. Portanto no ano de 1988, a banda da Fundação Guararapes realizou um fato inédito no cenário das bandas marciais no Recife, que foi conseguir uma pauta para realizar um concerto natalino no Teatro de Santa Isabel, no dia 22 de dezembro de 1988 às 20:00 horas, com um repertório diversificado adaptado para sua formação já citado anteriormente. Conseguir, naquela época, colocar uma banda marcial no Teatro de Santa Isabel não era tarefa fácil, falavam que o teatro não era local para apresentação de uma banda marcial, porque tocava muito forte, o preconceito era muito grande naquela época não víamos a quantidade de grupos populares se apresentando no teatro como presenciamos na atualidade. No depoimento sobre esse assunto Marcos Galdino diz: Lembro sim, ali existiu uma quebra de tabu, tabu porque na época quem usava o Teatro Santa Isabel, quem fazia as apresentações era a Orquestra Sinfônica ou peças de teatros de grande porte. Isso foi um tabu que foi quebrado, nós levamos os meninos para tocar dentro do teatro. A outra quebra de tabu foi o fato do menino entrar no teatro, porque só ele entrando no teatro é que iria se identificar com aquela arquitetura toda para por em prática sua emoção artística. E para a surpresa de todos no dia 22 de dezembro, uma quinta-feira daquele ano a banda da Fundação Guararapes subiu ao palco do respeitado Teatro de Santa Isabel, para apresentar seu concerto natalino e prestar homenagem a autoridades e personalidades da comunidade, com uma programação especial escolhida a dedo, na ocasião a banda foi regida pelo seu regente titular o professor Carmelo Bartolomeu da Silva, que dividiu a regência com os regentes adjuntos, Marcos Antônio Galdino e Carlos César Pereira e, com a participação especial do ex-aluno da banda José Roque e do professor e ex-mestre da banda de música da Aeronáutica do Recife Sub - Melo, entre as músicas estava a Ária da 4ª Corda de J. S. Bach, Adeste Fidelis do manuscrito Cantus Diversi, 1751, Glória in Excelsis Deo de W. A. Mozar, como peças do repertório erudito e, do repertório popular a banda executou La Bamba de Los Lobos, In The Mood de Garland/Razaf e como não poderia deixar de ser executado um clássico da música nordestina Asa Branca de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Vele abordar que a banda da Fundação Guararapes (Maria Sampaio de Lucena e Vasco da Gama) executou todas as músicas com musicalidade sem precisar quebrar os lustres e sem diminuir o nome do Teatro de Santa Isabel. Isso foi presenciado pelos pais dos alunos, autoridades, professores e convidados em geral, com o teatro lotado em todos os andares. Realmente foi um momento especial que ficou para a história da banda e na memória de cada componente daquela época. A banda Maria Sampaio de Lucena e Vasco da Gama aproveitou o momento do Concerto do Teatro de Santa Isabel para anunciar o lançamento oficial da Orquestra de Baile da Fundação Guararapes composta por alunos das duas bandas marciais, com o objetivo de ampliar mais ainda a formação de novos grupos e, valorizar outras vertentes da cultura do nosso estado. Hoje a banda Maria Sampaio de Lucena não tem o mesmo apoio que teve naquele período dos anos 1980. Estamos vivendo uma fase no Brasil que o incentivo aos projetos culturais são muitos de todas as partes, ou seja, desde o incentivo do governo municipal, passando pelo estadual, federal e do incentivo privado, mas a problemática disso tudo é que essas verbas são distribuídas para atender de forma igualitária toda população. Na maioria das vezes a banda só é lembrada quando se aproxima do desfile de 7 de setembro, mas a banda na escola trabalha o ano todo desempenhando uma atividade intensa para participar dos concursos e os encontros de bandas em geral. No momento da entrevista, o que mais foi cobrado foi a questão do apoio do poder competente. Hoje a banda desempenha suas atividades com um instrumento para cinco ou seis alunos, o que é uma situação muito inadequada para o desenvolvimento satisfatório da atividade da banda. Desempenhar um trabalho nessas condições precárias torna o trabalho e o conseqüente êxito da banda quase impossível. Um instrumentista que toca instrumento de sopro precisa ter um instrumento de uso individual, porque tanto os instrumentos de bocal como os de palhetas são instrumentos que utilizam os lábios e, se os mesmos passam de boca em boca, poderão provocar algumas doenças e desconfortos de higiene pessoal tais como: doença bucal, gripe... As palavras dos alunos e dos regentes que passaram pela banda foram enriquecedoras para firmar e caracterizar o objetivo dessa monografia que é saber se existe na banda marcial Maria Sampaio de Lucena um papel social, educacional e artístico e, todos e todas disseram que a banda desempenha sim esse papel. Nas palavras do ex-aluno e ex-regente da banda Herbert Manoel, quando perguntei: O que significou a banda Maria Sampaio de Lucena pra você, ele responde: Foi um ensino fundamental na minha vida, que mudou totalmente o meu destino, né? às vezes a gente pensa que só tem uma coisa, aí entrei na banda, hoje profissionalmente na área da música sou uma pessoa reconhecida tenho o meu trabalho na área de banda marcial, como de orquestras e, consegui todos os objetivos que eu pretendia, (...) Podemos sentir nas palavras de Herbert o quanto a banda marcial é importante para mostrar um caminho, uma luz através do desempenho que ela exerce para a formação de cada componente, sobretudo em um lugar em que as condições de lazer são mínimas. A banda entra nesse contexto com uma gama de atividades que leva o aluno a trabalhar diferentes sentidos na sua formação, conduzindo-o desde as atividades lúdicas até as atividades cognitivas, tais como: do conceito social, educacional, artístico, melhorando cada vez mais o desenvolvimento da criatividade, do desempenho em sala de aula, a convivência com os colegas e com a família, desenvolvendo o conceito de bons costumes e de boas idéias. Ou seja, a partir do momento que o aluno entra na banda ele vai percebendo que o objetivo da banda não significa só soprar ou bater num instrumento, a banda desempenha um papel fundamental muito além disso. A banda como instituição exerce em seu contexto atividades de muitas responsabilidades, que envolve além dos alunos uma comunidade que estuda todos os segmentos que uma classe social exige. Outro ex-aluno da banda Agostinho Costa diz: Eu posso dizer que a banda foi quando eu comecei tudo, era uma família, na minha vida posso dizer que foi tudo de bom, foi onde eu aprendi, aprendi o que era música, ocupou meu tempo eu também como jovem pra não me envolver com coisas erradas, como em toda comunidade, a comunidade é carente e, nesse meio de carência a música influiu muito aqui no bairro do Ibura na época da Fundação Guararapes, (...) 4 A BANDA MARCIAL COMO VEICULO SOCIAL, EDUCACIONAL E ARTÍSTICO Em primeiro lugar podemos dizer que para haver sociedade, educação e arte precisa haver reflexão, sobretudo no que diz respeito ao conceito de humanização, cujo fenômeno é o respeito à vida humana e as diversidades. Há necessidade de estimular a inteligência, a sensibilidade e, a criatividade dessas pessoas que praticam arte por prazer buscando no dia-a-dia melhor qualidade de vida através das artes. De com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Art. 227 e Art. 3: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (ECA, 2006, p 17). A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (ECA, 2006 p. 23). A banda marcial entra nesse contexto como peça fundamental para o desenvolvimento social, educacional e artístico promovendo e dando oportunidade ao ser humano a produzir, experimentar e a elaborar conceitos de sua criatividade, sem calcular a importância da formação de sua identidade valorizando-o como cidadão e cidadã no mundo no qual está inserido. A banda em seu contexto marcial educa, socializa e desenvolve um papel fundamental no sentido artístico. Quem participou de uma banda sabe da importância que esse grupo tem para sua formação. Quem nunca ouviu ou viu uma banda passar ao menos de longe? ? para não se emocionar ou lembrar através das batidas da percussão e dos sons das cornetas algo peculiar jamais esquecido. A banda marcial ao longo dos anos desenvolve atividades de caráter variados, tais como: os desfiles cívicos, os concursos e encontros organizados por diversas cidades e estados, as apresentações em comemorações de variadas envergaduras, as festividades religiosas, em teatros, como em tantos outros lugares que venha a ser solicitada. Sabemos que a cada momento da vida estamos em constante aprendizado e em busca de melhores conhecimentos e estrutura para o exercício de nossa profissão. Assim a banda marcial vem trabalhando para melhorar principalmente seu aspecto artístico, com novos instrumentos, novos uniformes e novas evoluções, entre variados aspectos. Tudo isso com muita garra, muito empenho e vontade de fazer arte através da música, porque nem sempre as autoridades competentes incentivam essa arte como deveriam. É do conhecimento de todos que nossos alunos e nossa região faz parte de um grupo com poder aquisitivo baixo, que muitas vezes não vão à aula de música porque não podem pagar a passagem do transporte até a instituição de ensino. Sabemos que para haver arte e educação é fundamental a colaboração dos governantes para aquisição da compra dos instrumentos necessários, que na maioria das vezes a banda deixa de se apresentar por não ter os instrumentos principalmente o uniforme que representa a instituição. A banda marcial para os alunos tem um papel transformador, inclusivo, acolhedor, em todos os sentidos. Na Grécia, como nas culturas anteriores, a música estava atrelada à alma humana. Portanto, através da música podemos colocar para fora nossos sentimentos, nossos desejos, nossa sensibilidade. A música nesse contexto nos leva a uma profunda fonte de comunicação. É curioso saber também que os instrumentos que compõe a banda marcial nos dias atuais, na antiguidade eram usados como instrumentos de comunicação, a exemplo das cornetas e tambores. Na antiguidade "o uso de instrumentos de metal na música para fins militares e solenidades de massa em geral era comum nessa época". (MEDAGLIA, 2008, p. 17). Falando de instrumentos de metal e tambores, vale citar que as bandas marciais deram uma grande contribuição ao "frevo". Em seu artigo disponível na internet (LIMA (Ed), 2007, p. 3) diz em relação ao frevo que: Sua criação é fruto de um processo que é iniciado através das bandas marciais, comuns nos festejos públicos e religiosos de todo o Brasil. Em meados do século XIX, quando da proibição dos capoeiras à frente das bandas marciais, as agremiações carnavalescas populares, foi o espaço que abrigou esse grupo popular. Entretanto, os mesmos músicos que compunham as bandas marcial, também faziam parte das "fanfarras" que acompanhavam as agremiações carnavalescas populares como os clubes pedestres. Assim, em decorrência desse processo de migração dos capoeiras das bandas marciais para os clubes pedestres, acontece o nascimento de um conjunto coreográfico e rítmico que desse suporte as manobras dos capoeiras, que também seguiam a frente dessas agremiações, na guarda de seus símbolos, como o estandarte. A banda marcial da Escola Municipal Maria Sampaio de Lucena e da Escola Municipal Vasco da Gama ganhou as ruas e avenidas da cidade do Recife no período carnavalesco. Chamadas banda da Fundação Guararapes, ambas faziam um trabalho musical juntas no ano de 1986/1987, cujo momento fiz parte desempenhando o mesmo papel no carnaval do Recife, chegando a chamar a atenção dos músicos das orquestras profissionais por executarem frevo com cornetas de um pisto, ao contrário dos trompetes que tem três pistos, ou seja, com mais recurso para a execução das músicas. Isso aconteceu no Pátio de São Pedro no carnaval de 1989. Uma das pessoas que aplaudiu, apoiou e motivou esse trabalho da banda marcial tocando frevo foi o maestro, saxofonista, compositor, arranjador e diretor musical Ademir Araújo, "O Maestro Formiga", como é conhecido, no momento da nossa estada no Pátio de São Pedro. Naquele ano comentou de maneira simples a respeito do significado de dar continuidade aquele trabalho, porque era de fundamental importância para formação dos futuros músicos profissionais. As bandas, de maneira geral, precisam do apoio, da solidariedade de pessoas como o maestro Ademir Araújo, para fortalecer e incentivar os talentos existentes em nossa região. É preciso e necessário perceber que o aluno inserido na banda marcial é uma semente plantada que todos os dias estar sendo observada e regada para futuramente frutificar. Todo comandante observa bem o seu pelotão, o seu batalhão, nem um comandante gostaria de ver seus comandados fora do padrão, fora do seu perfil, de sua ordem unida, assim se caracteriza a ordem, a organização de uma instituição que pretende se perfilar diante das condições que lhe é de direito. É impossível fazer "Arte" sem o apoio de parceiros, de familiares, autoridades, ou seja, de todo corpo envolvido no contexto. Para Fábio César de Vasconcelos Rodrigues ex-coordenador das bandas marciais da Secretaria de Educação Esporte e Lazer da Cidade do Recife, em entrevista respondeu: A banda Maria Sampaio de Lucena no que eu pude ver e analisar, a banda foi um divisor de águas em relação ao conhecimento do que é viver a música, do que é um espaço público que atende as necessidades bens culturais, no caso aqui falando de música, de banda de música. É um grande benefício pra sociedade, tanto é que os primeiros desfiles da banda, as primeiras apresentações da banda são acompanhadas por familiares das crianças que participavam da banda. Pedagogicamente falando, a banda desempenha uma importante educação formal e informal também. Já que esses meninos participam da banda praticamente ativamente durante a semana e nos ensaios coletivos durante os finais de semana e, quando se fala em ensaio coletivo esse trabalho dessa prática pedagógica coletiva trazia pra eles e pra comunidade em geral uma vivencia do conjunto, de como é importante lhe dar com as diferencias de cada um. 5 A OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DA MÚSICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES José Antonio Pereira , em sua dissertação de mestrado com o título "A Banda de Música no Brasil: retratos sonoros brasileiros" cita que: Em 1942, foi implantado por Villa-Lobos, nas escolas do País, o movimento nacional de musicalização através do canto, como a instituição de um Curso de Especialização Musical Instrumental (de bandas) em algumas escolas técnicas. Em 1946, ele foi responsável pela promulgação da Lei Orgânica de Ensino do Canto Orfeônico que tornou obrigatório o ensino da música nas escolas brasileiras. (PEREIRA, 1999, p. 84). Em 1961, o Canto Orfeônico passou a denominar-se Educação Musical, através da Lei 4024/61 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A partir de 1971, através da LDB 5.692/71, a Educação Musical passou a integrar a disciplina de Educação Artística nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. Essa lei criou a Licenciatura em Educação Artística, Habilitação em Música, Artes Cênicas, Artes Plásticas e Desenho. Nenhum desses cursos, porém, incluiu, nos programas curriculares, conteúdos e práticas relacionadas à banda de música. Marisa Fonterrada (id., p. 40) detectou nos cursos a "técnica instrumental de um repertório do passado, articulados a partir de currículos estrangeiros, em detrimento do uso espontâneo da linguagem musical". (PEREIRA, 1999, p. 84). Nas últimas décadas, surgiram os Departamentos de Música nas universidades e iniciaram-se os Cursos de Pós-Graduação. Só em 1995, surgiria o primeiro Curso de Doutoramento em Música na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Constatou-se a existências de poucas pesquisas referentes à banda de música nos Cursos de Pós-Graduação. A atual estrutura dos Cursos Superiores de Música e Educação Artística está, porém, em vias de ser modificada, atendendo à nova Lei 9394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). O processo de mudança, iniciado em 1995 com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, só recentemente foram apresentados projetos às Secretarias de Educação Estaduais e Municipais das Delegacias de Ensino. (PEREIRA, 1999, p. 84-85). Vê-se então que, ao longo dos anos às Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foram bastante modificadas e, atualmente mais uma vez de acordo com a Lei 11.769 de 2008, que modificou a Lei de Diretrizes e Bases na Educação (LDB), o ensino da disciplina música nas escolas públicas e particulares passou a ser obrigatória na educação básica e no ensino médio, isso beneficiará e muito o desenvolvimento da cognição do aluno para compreender melhor as atividades das bandas marciais e das artes em geral e, reduzirá a ansiedade dos alunos na sua prática interdisciplinar. Hoje em dia a maioria das bandas marciais praticam suas atividades musicais com o uso da partitura musical diferentemente de outrora, que usava o solfejo com uma folha de papel manuscrito com o nome das notas musicais (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si). Os alunos das bandas marciais em sua maioria estão mais atentos em aprenderem música de maneira formal e objetivando seguir uma carreira no ambiente musical. Lembro-me de que minha avó e os idosos falavam que antigamente existia música nas escolas e era prazeroso trabalhar as atividades com música na sala de aula. Agora com a obrigatoriedade do ensino de música na sala de aula a criatividade, o desenvolvimento de outros sentidos dos alunos vão melhorar e ajudar no desempenho do aluno em outras disciplinas, porque como sabemos através da música o ser humano consegue tratar de doenças e cuidar de problemas que interfira em sua concentração. A música tem esse poder mágico de transformar as pessoas, de adentrar em outro universo. Segundo o Jornal do Senado (Brasília, 25 a 31 de agosto de 2008), de acordo com o Ministério da Educação, as definições sobre a duração do curso de música e sua periodicidade ficarão a cargo dos conselhos estaduais e municipais de Educação, em parceria com os governos locais, mas é preciso uma forte fiscalização para esse processo. Outro fato importante é que estão voltando os projetos que capacitam os regentes de bandas e fanfarras no Estado de Pernambuco, que na década de 1980 já existia. Hoje vários regentes das bandas marciais e fanfarras estão estudando música na Escola Municipal de Arte João Pernambuco (EMAJP), no Centro Profissionalizante de Criatividade Musical do Recife (CPCMR), no Centro de Educação Musical de Olinda (CEMO), no Conservatório Pernambucano de Música (CPM) e em projetos paralelos, para se aperfeiçoarem e terem um melhor desempenho em suas atividades musicais nas bandas marciais e fanfarras. O regente de banda marcial e fanfarra tem interesse em estudar música formalmente, porque os alunos estão procurando as instituições de ensino da música mais cedo. Há escolas de música onde estuda o aluno e o regente na mesma sala de aula, isso mostra a necessidade e a vontade de aprender música de forma sistemática. Outro ponto que já foi citado é o contexto inclusivo que abre as portas para quem quer que seja. A pessoa hoje já consegue uma vaga para estudar música sem muita burocracia. A exemplo disso a Escola Municipal de Arte João Pernambuco no bairro da Várzea, não precisa fazer teste para estudar música, o aluno só precisa fazer a matrícula e estudar no primeiro semestre a disciplina teoria musical e no segundo semestre dando continuidade ingressando na prática do instrumento musical de sua escolha. Em outras instituições existe o exame seletivo, mas existem também os cursos livres ou de extensão, que são para aquelas pessoas que passaram da faixa etária para estudar no curso regular de música. Há também o curso de extensão de música da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para alguns instrumentos, mas exige teste de aptidão para entrar e, as pessoas que desejam estudar nos cursos superiores de Licenciatura e Bacharelado em musica, é preciso prestar o exame vestibular. 6 CONCLUSÃO Diante do contato com as pessoas que passaram pela banda marcial Maria Sampaio de Lucena e com as pessoas que atuam na banda hoje, não resta dúvida, no que diz respeito ao exercício da banda como instituição, que ela desempenha seu papel Social, Educacional e Artístico, caracterizando a banda como instrumento de inclusão social. É só perguntar e cada um responderá com veemência da importância que tem esse grupo, como podemos perceber nas entrevistas o quanto a banda é significante não só para o prazer individual, mas para toda comunidade. Quando perguntamos do significado que a banda tem para os alunos, Marcos Paulo. respondeu: Bem, para os alunos da escola é uma conquista é mais de que vencedora, porque é muito bom quando eles vão pro concurso de bandas e tira em primeiro, segundo e terceiro lugar, né? e traz um troféu pra escola, né? e isso desperta o valor dele, que viu que deu fruto o que ele fez aqui na escola, e também pro professor, né? que sabe que plantou ali e colheu e ta dando resultado. É lamentável que ao longo dos anos não foram registrados através de documentos toda trajetória da banda. O material escrito encontrado não atende ao contexto do que a banda representa para a sociedade. A maioria das bandas marciais no Brasil age igual, encontramos pouquíssimo material registrado tanto nas bibliotecas quanto na internet, podemos dizer quase nada, comparando a quantidade de bandas marciais que temos no Estado de Pernambuco e em outros Estados. Mas diante das entrevistas ficou claro que a banda Maria Sampaio de Lucena é uma fonte de equilíbrio que atua na formação de base do indivíduo. Ela (a banda) consegue formar família que vai passando de geração a geração. Como foi dito em entrevista, em vários episódios, o desejo que uma pessoa que atuou na banda em uma época e posteriormente ver seu filho ou neto inserido naquele mesmo contexto. Ou seja, a banda realiza na vida de cada um uma estória peculiar que é contada de pai pra filho, netos e assim por diante. O atual coordenador das bandas marciais da Secretaria de Educação do Recife disse, em entrevista sobre a banda, "se fosse uma coisa ruim o pai não deixaria o filho tocar na banda". Quando perguntamos ao Coordenador das bandas marciais da Secretaria de Educação do Recife. O que é de mais relevante para essa continuidade da banda, não só da banda Maria Sampaio de Lucena mais de um contexto geral, ele respondeu: Todo apoio que é dado às instituições ela é difícil acabar, porque tirando pela banda Maria Sampaio a mais de vinte anos ela ainda, eu vi ela passar por momentos difíceis mais, né ?, mas eu acho que a comunidade é que não deixa esse trabalho acabar, porque a comunidade se identificou com esse trabalho e até hoje de geração em geração agente tem até filhos de ex-alunos que hoje tocam na banda, então foi puxando de pai pra filho, então a sociedade, a comunidade ela não deixa esse trabalho acabar porque é muito importante para o bairro e para o crescimento social de cada um, porque se fosse uma coisa ruim o pai não deixaria o filho tocar na banda. Para Fábio César, que também foi Coordenador das bandas marciais da Secretaria de Educação do Recife, a banda: Traz a coletividade, a prática de lidar com as diferenças e também de sinalizar um melhor futuro, um horizonte mais claro pra esses meninos que são de classes menos favorecidas, mas onde os talentos musicais floresce e, aí eu acho onde o benefício maior da banda marcial Maria Sampaio de Lucena, através da música que leva esses meninos a transformarem suas vidas. Para a diretora da Escola Maria Sampaio de Lucena, Srª Diana Dayse Lima de Souza, respondeu sobre a banda: É de uma importância devido a participação da comunidade, de ex-alunos e, de alunos da escola. Então, esses meninos são ociosos e que eles participando dessa banda você tira eles de várias coisas irregulares da rua. Eu tenho alunos que toca por amor, porque eles adoram a banda da escola Maria Sampaio. O que foi levantado para construção dessa monografia não se trata de quantidade e sim da qualidade e da veracidade dos conteúdos que foram levantados. O que foi proposto no pré-projeto para a pesquisa dessa monografia foi verificar as formas praticadas na formação do educando se estão sendo trabalhadas dentro dos parâmetros educacionais e da formação artística e social, e como objetivo foi proposto caracterizar o valor social, educacional e artístico da banda, bem como refletir o aproveitamento dos valores artístico da banda. Foi verificado que nem tudo está perdido, mas ficou caracterizado que a falta de apoio é a chave do problema. Podemos citar a ausência da manutenção dos instrumentos, a compra de mais instrumentos, um local adequado aos trabalhos da banda, compra e manutenção do uniforme da banda. Este ano a banda Maria Sampaio de Lucena deixou de se apresentar no desfile de 7 de setembro por não ter o uniforme, porque a Secretaria de Educação do Recife iniciou a entrega dos chamados "Kit" só para quatro bandas da rede. Quando perguntamos para Agostinho Costa (ex-aluno da banda). O governo municipal e outros governos apóiam a banda? Ele respondeu: Se dão apóio mais é muito pouco praquilo que eles querem e aquilo que agente quer mostrar, porque nós vemos que no meio da comunidade a comunidade é carente, mas nós vemos que tem talento, pessoas que realmente têm talento pra música, mas que nós não temos o material adequado, assim os governantes não mandam o material pra que agente trabalhe aquilo. Tem pessoas que tocam instrumentos de sopro como: trompete, trombone, então muitas vezes agente tem um instrumento pra cinco, seis alunos, então a dificuldade e a carência é muito grande e, agente queria que os governantes olhassem mais a comunidade ou então que mandasse alguém vir ver o ensaio, um dia de ensaio, que ocupa os jovens, mas ver que a carência é grande praquilo que está fazendo. Esses são os problemas básicos apresentados para o funcionamento da banda. Mas, com tais faltas a banda consegue desenvolver suas atividades sociais, educacionais e artísticas dentro do possível, superando as dificuldades e alimentando a vontade e o amor pela arte. Sabemos que existem vários ex-alunos que hoje estão em grupos profissionais, podemos dizer de grupos não só do Recife e Grande Recife, mas atuando em grupos musicais no território brasileiro. Os valores que trata essa monografia estão explícitos, porque a banda marcial Maria Sampaio de Lucena mesmo com as dificuldades vem desenvolvendo um papel cultural dentro das artes, como para o contexto social, educacional e artístico. O que mais chama a atenção quando se fala da banda é o amor, a paixão, o carinho de como os alunos tratam sua instituição. A banda para cada um tem um valor singular. Para participar da banda o aluno precisa ser aluno da escola e está em dia com seus compromissos educacionais, ou seja, os estudos. A banda não exige uma seleção rigorosa, porque sendo assim poderá cair no contexto de exclusão. Ela acolhe tanto o aluno que tem muita aptidão como aquele aluno que tem dificuldade para aprender algum instrumento dando oportunidade para o aprimoramento no dia a dia com os ensaios aprendendo com os mais adiantados. O ideal para o bom funcionamento da banda é que ela tenha seus equipamentos básicos, tais como: instrumentos para cada componente podendo levar para casa na responsabilidade de estudar e cuidar de sua manutenção, uniforme em ordem para as apresentações, local com tratamento acústico com equipamentos de áudio e vídeo para os ensaios, aulas teóricas de música, refeição para que o aluno não execute o instrumento de barriga vazia, atendimento psicológico para verificar o desempenho de suas atividades na banda, na escola e no ambiente social e familiar, como outros contextos que venham a beneficiar o desenvolvimento da banda. Herbert Manoel (ex-aluno e ex-regente da banda) diz em seu depoimento: Precisaria que as pessoas competentes olhassem com mais carinho, visitasse as escolas, vissem a realidade das bandas marciais, que no desfile eles olham a banda toda fardada bonitinha desfilando tocando as músicas, mas na realidade eles nuca conviveram um dia de ensaio pra ver o dia-a-dia das bandas marciais da rede municipal. Na realidade tudo isso precisa ser praticado com uma atividade educacional assistida, para que sejam detectados os pontos negativos do processo ensino aprendizagem. Hoje a banda é comandada por um animador cultural, ou seja, como diz o coordenador das mandas marciais da Secretaria de Educação do Recife Marcos Galdino. do ponto de vista institucional o animador cultural é um estagiário, porque hoje nós não temos um concurso para professor de banda, nem na Prefeitura e nem no Estado, mas o que a instituição fez foi ter estagiário, então oficialmente ele é um estagiário, e na Gerência de Animação Cultural, onde nós estamos lotados essas linguagens música, dança, capueira, artes plásticas, agente tem eles como animador cultural. Por que animador cultural ? porque além do trabalho que ele faz com o seu grupo, ele tem a responsabilidade de mostrar a cultura dentro do seu seguimento de linguagem, (...). Entendemos que o fato da banda ou qualquer outra linguagem educacional desempenhar suas atividades com estagiário ou animador cultural, não prejudica em nada tais atividades, contanto que essas atividades sejam assistidas por um especialista da área de atuação, para que haja uma harmonia dentro daquilo que está sendo proposto de acordo com o que foi acordado no Projeto Político Pedagógico da Instituição, ou seja, entendemos que qualquer atividade educacional só alcançará seu êxito com o auxílio e a contribuição de um trabalho feito em conjunto. Podemos citar a Orquestra Criança Cidadã, que embora não seja uma banda marcial, mostra-se como um bom exemplo de que uma atividade musical, desenvolvida com o apoio necessário, atinge sua finalidade como meio de contribuir para a inclusão social e para o desenvolvimento artístico e cultural. O desenvolvimento deste projeto na comunidade do "Coque" em Recife, localidade bastante carente, busca atingir os preceitos "fixados pela Constituição Federal do Brasil e indispensáveis para garantir a dignidade do ser humano", dito pelo seu coordenador geral da orquestra, o juiz João Targino. Podemos dizer que o sucesso desse projeto deve-se ao talento de cada integrante, mas sobretudo também ao apoio dos parceiros e das pessoas envolvidas que foram e são fundamentais, se trata de um projeto cuja infra-estrutura dispensa comentários, o que era para ser realizado em um ano foi conseguido em três meses e assim por diante, o que qualquer projeto gostaria de ter e ser de acordo com a Constituição Federal do Brasil. Nem sempre o que está na Constituição Federal do Brasil seu povo tem na prática e, para fazer "Arte" é preciso desfrutar desse amparo. Sabemos da existência de outros grupos musicais que estão tendo melhores condições e avançando cada dia mais no que diz respeito à inclusão social através da música. A banda marcial Maria Sampaio de Lucena como grupo musical de uma instituição educacional municipal mesmo não tendo o apoio que deveria ter está em busca de melhores condições, para exercer um papel fundamental para o educando, que é o papel da educação inclusiva. A inclusão hoje é um dos temas mais debatidos no mundo, o objetivo é um só o de trabalhar os eixos da igualdade. O documento subsidiário "À Política de Inclusão" diz: A escola sofre pressões para acompanhar os novos tempos e lidar melhor com a diversidade do público que deve atender. Um público de "aprendizes de cidadania" que, para exercê-la, querem mais que o mero direito de expressão. Mas também um público cheio de especificidades que, se não forem respeitadas, acolhidas e atendidas em suas diferenças jamais farão da escola um dos possíveis espaços em que o exercício de uma política inclusiva contribua com a construção de uma sociedade mais justa. Na busca desta perspectiva se evidenciam inúmeros espaços teóricos, técnicos, políticos, operacionais, para a construção de uma educação inclusiva que dê conta da amplitude das transformações que um processo como este implica. (MAINIERI, 2005, p. 7). A banda existe em busca desse propósito, ou seja, em busca de conscientizar a sociedade como um todo, cujo objetivo é tornar a educação melhor para podermos ter uma sociedade consciente para tratar tais parâmetros sociais, educacionais e artísticos com visão de mundo. Já para Herbert Manoel (ex-aluno e ex-regente da banda) quando perguntei se a banda exerce um papel social, educacional e artístico. Ele respondeu: Exerce em vários aspectos, porque direciona a pessoa a se relacionar melhor e a se expressar melhor com outras pessoas. Antigamente existia um preconceito com alunos de bandas marciais principalmente por morar em uma área carente como o Ibura, que a mídia divulga como bairro violento e, hoje a banda através das apresentações e dos títulos que conquistou mostrou o talento dos jovens quebrando esse preconceito, fez mudar tudo isso, ajudando tanto no contexto social, como educacional para o desempenho artístico de cada componente. A banda com seus instrumentos de sopro e percussão toca os corações daqueles que a escutam com atenção, mas é necessário urgentemente tocar o coração das pessoas que estão no poder, que podem contribuir e muito no que diz respeito às práticas pedagógicas que são aplicadas na banda e no ambiente escolar. A banda, sobretudo, depende de um poder que fiscalize passo a passo e a apóie em seu desenvolvimento sabendo utilizar de forma coerente o recurso público, ou seja, os recursos pagos pela sociedade. Nesse caso a conquista é de todos e não de uma parte. O trabalho da banda não se destina só a compra de instrumentos e fardamentos, se destina também a conquista de toda uma sociedade carente, que quer participar e se sentir incluída. É a inclusão através da educação que tem o poder de direcionar as pessoas. Sem educação não existe inclusão e vice versa. A proposta no ambiente da banda se destina a construção do homem e da mulher, como senhores e senhoras do contexto social. É na banda que o sonho desenvolve-se, entrelaça-se, movimenta-se na propagação do som dos instrumentos. Todo material coletado para a construção dessa monografia relata a história da banda marcial Maria Sampaio de Lucena e, foi fundamentado em livros, em material disponível na internet, em documentos e depoimentos das pessoas que passaram pela banda e das pessoas que estão hoje em atividade na banda e na escola. Sabemos que podemos valorizar e registrar muito mais o desempenho da banda, mas acreditamos também que através do trabalho em conjunto essa história poderá mudar, com a organização e o registro de sua trajetória para futuras pesquisas. Sabemos também que a banda em seu contexto social, educacional e artístico tem um papel fundamental na vida de cada pessoa, proporcionando a abertura de caminhos que guiará a pessoa a desenvolver-se na sua auto-identificação, para que no futuro haja um equilíbrio em todos os sentidos, seja no que diz respeito ao contexto social, educacional ou artístico. REFERÊNCIAS BRUM, Oscar da Silveira. Conhecendo a Banda de Música. 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