O “OSCAR” DO FUTURO...

 É freqüente a presença de filmes brasileiros concorrendo ao “Oscar”, anualmente, em Los Angeles.

Com exceção do filme “Orfeu Negro”, que foi premiado em 1960 como melhor filme estrangeiro, nenhum outro filme, “made in Brazil”, conseguiu sucesso semelhante...

No entanto é importante referir que, o filme “Orfeu Negro”, foi uma produção franco-italo-brasileira e que teve uma participação mais francesa do que propriamente italiana e brasileira, sendo, portanto, um filme temático brasileiro, rodado no Brasil, com participação de artistas brasileiros, com texto de uma peça teatral de Vinicius de Morais, musicado pelo próprio Vinícius, Tom Jobim e Luiz Bonfá, mas de produção estrangeira com direção do cineasta francês Marcel Camus.

A cada ano renovam-se as esperanças de que um filme genuinamente brasileiro, para orgulho nosso, possa receber o “Oscar” de melhor filme estrangeiro em sua categoria, o que, de fato, nos concederia um ótimo crédito, em termos de imagem, considerando a decorrente repercussão  publicitária de uma película de sucesso...

No entanto é preciso entender que o julgamento da qualidade e o mérito dos filmes postulantes ao “Oscar” é conduzido por especialistas credenciados de país do primeiro mundo, com tradição histórica na filmagem de grandes e inesquecíveis obras cinematográficas, com forte teor tecnológico, encenadas por bons coadjuvantes e protagonistas famosos do porte de uma Meryl Streep.

A crítica dos julgadores é severa e criteriosa! Dificilmente podemos supor que seja concedida a entrega de um “Oscar” para premiar ou, melhor referindo, incentivar a produção de filmes que, embora bem conduzidos tecnicamente, objetivem, por exemplo, o enfoque da miséria e da violência...

Alguns filmes bem cotados, sob ponto de vista da mídia, e encaminhados à Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Los Angeles, aludindo temas tristes e/ou violentos, alguns direcionados à vida de favelados e seus sofrimentos, não obtiveram premiações, ao retratar o deplorável convívio desses cidadãos em ambientes de extrema pobreza, como reféns do narcotráfico e das precárias condições de segurança, habitação e saneamento básico.

Filmes que retratem mazelas, tais como: a miséria, a violência e o tráfico de drogas prestam um desserviço à formação de uma imagem positiva. É pontual enfocar outros assuntos!...

A inclusão de temas desgastados e repetitivos, verdadeiras marcas registradas, como favelas,  carnaval, seca, futebol, esperteza e violência já foram ultrapassados e, certamente,  não recebem uma boa acolhida no exterior.

No meu entendimento, um filme, para ser agraciado, precisa repassar uma imagem de alegria e bom humor ou retratar temas criados com inteligência, com embasamento histórico ou moral, sem serem enfadonhos, excitando a curiosidade dos espectadores lhes permitindo extrair lições de vida ou, até mesmo, exemplos de atitudes, ao refletir sobre seu conteúdo, aliando a isso tudo, é claro, um excelente desempenho técnico.

Vejo que a qualidade do artista brasileiro é muito boa. Temos excelentes artistas. O problema crucial, assim me parece, está na escolha do tema.

 O melhor filme brasileiro que já assisti foi “Dona Flor e seus dois maridos”... Um filme alegre e divertido, uma história inteligente sobre personagens de hábitos simples e de vida modesta. Um bom filme que não fez referências à miséria e a violência...

 Reconheço que outros filmes brasileiros de teor mais suave e concepção qualificada já foram bons candidatos e não venceram, como, a título de exemplo, o filme “O Quatrilho” que tinha boas condições de competitividade e não foi vencedor... Não ganhou, mas, pelo menos, lá fora, não deixou resquícios negativos denegridos pela marca de flagelos sociais, mas, pelo contrário, gerou uma imagem positiva.

 Sob meu ponto de vista, para que o cinema nacional evolua e chegue ao “Oscar” do futuro, será preciso recriar e rever conceitos visando objetivos maiores... E a escolha do tema, nesse caso, é fundamental, sem esquecer os recursos financeiros, obviamente, os quais dispensam maiores comentários...

                                               Porto Alegre, 05 de março de 2012