UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA

CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO - CENFLE

CURSO DE LETRAS

 

O ORFISMO E O POEMA "ODE TRIUNFAL"

Carla Janaina Ferreira de Sousa

 

O orfismo corresponde à primeira geração do modernismo em Portugal. Recebeu esse nome por causa da revista Orpheu, a primeira a divulgar os ideias modernistas e tendências culturais que circulavam na Europa no início do século xx. Esse movimento rompe com os padrões estabelecidos ao propor uma literatura com uma linguagem nova, diferente daquele adotada pelos os poetas de outros movimentos como romantismo e simbolismo; uma literatura que apresenta uma poesia irreverente, alucinante, chocante, entre outras características. Tendo nessa geração grandes poetas como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almeida Negreiros, e o brasileiro Ronald Carvalho, entre outros. As poesias produzidas nessa fase contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento do modernismo, com suas características inovadoras. O poeta Fernando Pessoa com a sua produção "Ode Triunfal", mostra essa inovação na literatura modernista em Portugal.

Os poetas dessa primeira fase do modernismo português tinham como objetivo chocar os burgueses ao apresentar uma poesia livre da métrica e inserir uma literatura portuguesa no contexto cultural europeu, que àquela época estava sob influência das tendências futuristas. Embora a revista Orpheu só tenha publicado apenas duas edições, a revista deixou enorme herança cultural, influenciando novos artistas, assim como o surgimento de novas publicações nas gerações seguintes do modernismo em Portugal. O primeiro numero da revista da orfismo saiu em março de 1915, sob a direção de Luís Montalvor em Portugal e Ronald Carvalho no Brasil. Logo saiu, o segundo número da revista em julho de 1915, sob a direção de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. 

As características das produções publicadas nos exemplares das duas edições do Orpheu são marcantes para o desenvolvimento do modernismo português, o que torna essas produções algo mais chocante ao público burguês. Dentro das diversas produções, podemos destacar, " ode Triunfal" de Fernando Pessoa.

O poema " Ode Triunfal" está escrita em versos livres e amplos (num total de 240 versos) e num estilo profundamente inovador. Notamos nesse poema, toda histeria do poeta Fernando Pessoa, que ama a todos com ferocidade e com irreverência, que saúda a modernidade, numa forma agressiva, um total surto de modernidade, mostrando assim, as belezas e as desgraças dos tempos novos da modernidade. Apresentando versos repletos de onomatopéias, ironia, entre outras características do orfismo.

Esse poema é nomeado com o título "Ode Triunfal", Ode que significa grandioso, ou melhor, exaltação (algo bem presente em quase todos os versos) e triunfal que está relacionado à modernidade (triunfo da civilização industrial).

Nos versos 1, 2 e 3 do poema, o sujeito poético aparece como um cantor de uma civilização industrial. A fábrica aparece como motivo inspirador, que ao mesmo tempo, trai e enfraquece o poeta: "À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fabrica. Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, [...].” (PESSOA, 1997, p.120). As expressões "À dolorosa luz" “Tenho febre", "Rangendo os dentes", esses três versos deixam claro o estado de exaltação do poeta, ao ponto de causar perturbações no seu sistema nervoso. Há um sentimento de repulsa por parte do poeta "[...]Febre para a beleza disto", e de paixão pela máquina, ou seja pela vida moderna "Ah, poder exprimir-me todo como motor se exprime! Ser completo como uma máquina!"(PESSOA, 1997, p.120).

Podemos notar, nos versos 16, 19 e 26, a tendência contínua de humanizar as máquinas: "Grandes trópicos humanos de ferro, fogo e forças[...]","E há Platão e Virgílio dentro das máquinas[...]","Ah, poder exprimir-me como um motor se exprime!"(PESSOA, 1997, p.120). No verso 19, o poeta faz uso de dois grandes nomes, ou melhor, dois grandes escritores Platão e Virgílio. E no verso 26, há uma total identificação do autor com a máquina.

A ironia é uma característica bastante presente no poema Ode Triunfal. O poeta usa essa característica em diversos versos, ente eles estão os versos 59, 62, 66, 67 e 73: "[...],Escrocs exageradamente bem-vestidos";"[...],Banalidade interessante [...] / Das burguesinhas [...] /Que andam na rua com um fim qualquer [...]; " A maravilhosa beleza das corrupções políticos, deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos, [...]".

O poeta usa também o recurso das figuras de linguagem como a figura da onomatopéia, no verso 5: "Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!"(PESSOA, 1997, p.120).

Através do poema Ode Triunfal de Fernando Pessoa, podemos notar como o poeta orfista tratava o modernismo e a maneira diferente de produzir literatura na primeira fase do modernismo em Portugal. Essa maneira nova de produzir literatura contribuiu para as produções dos autores das fases seguintes (Presencialismo- 1927/1940, Neorrealismo- 1940/1974 e Surrealismo- 1947/1974) do modernismo em Portugal.

 

REFERÊNCIAS 

GOMES, Álvaro Cardoso (Org.). Fernando Pessoa: antologia poética. São Paulo: Moderna, 1997,p. 120 a 126. MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. 30ª. Ed. São Paulo: Cultrix, 1999.

http://www.portugues.com.br/literatura/orfismo.html

http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues

/modernismo-portugues-as-tres-vertentes -da-literatura-moderna-em-portugal.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Ode_Triunfal